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‘Quando caí, fizeram roda para me bater’, diz fotógrafo agredido pela PM

Além de um corte na cabeça após golpe de cassetete, Vinícius Gomes teve sua câmera quebrada. O fotógrafo recuperou o valor através de financiamento coletivo, mas 'prejuízo foi além do financeiro', diz

Márcia Minillo/rba

‘Eles me bateram e eu não reagi. Tentei sair dali, mas chegou um PM com cassetete e escudo que bateu na minha cabeça’, afirma Vinícius

São Paulo – No dia 31 de agosto, o fotógrafo Vinícius Gomes foi agredido por policiais militares de São Paulo enquanto cobria uma manifestação contra o presidente não eleito Michel Temer (PMDB). Além de quatro pontos na cabeça, Vinícius teve seu instrumento de trabalho, uma câmera Nikon, jogada ao chão e pisada por policiais. Para recuperar o prejuízo financeiro o rapaz, que faz parte do coletivo Afroguerrilha, organizou um financiamento coletivo. O resultado já superou a meta.

Em cinco dias de campanha, o crowdfunding pelo site Catarse já contabiliza R$ 5.155, sendo que a meta era de R$ 4.360. Para contribuir com a campanha, diferentes fotógrafos organizaram o “Varal Fotográfico contra a Violência Policial”, com algumas de suas peças à venda durante ato realizado ontem (11) na Paulista, também contra Temer e por Diretas Já. Apesar de recuperar o valor, Vinícius afirmou à RBA que esta perda não foi a maior. “O prejuízo foi muito além do financeiro. Me agrediram, agrediram a imprensa, totalmente de graça.”

Na ocasião, a manifestação estava próxima à sede da Folha de S.Paulo, na Rua Barão de Limeira, região central. “No local, a PM jogou muitas bombas de gás lacrimogêneo para dispersar. Eu e mais alguns fotógrafos entramos em uma rua próxima. Inicialmente duas motos chegaram, com policiais. Nós levantamos as câmeras mostrando que éramos da imprensa. Mas então, chegou uma terceira moto. O policial desceu, olhou para mim e disse: ‘É você’”, disse.

O jovem negro, morador de região periférica de São Paulo, foi abordado pelos policiais, que imediatamente começaram a distribuir socos. “Eles me bateram e eu não reagi. Tentei sair dali, mas chegou um PM com cassetete e escudo que bateu na minha cabeça. Na hora, tudo ficou escuro e eu cai no chão”, foi então que Vinícius teve um ferimento, que horas depois lhe renderiam quatro pontos. Antes, porém, passou por momentos delicados nas mãos dos policiais.

“Quando caí, fizeram uma rodinha em mim. Os policiais me chutaram e me bateram. Um fotógrafo que estava no local disse depois do acontecido que ficou realmente assustado com o tanto que me bateram. Totalmente de graça. Nessa hora, atacaram minha câmera no chão e pisaram nela. Então, me colocaram de costas no chão com as mãos para trás. Eles me algemaram junto com outro fotógrafo que tentou gravar a ação deles. Por ele ter gravado, acabou sendo jogado na viatura junto comigo”, afirmou.

Uma vez detidos, de acordo com o fotógrafo, levaram os profissionais para uma praça. “Ali, trocaram a gente de viatura. Esses outros policiais, que não tinham nada a ver com a situação, levaram nós dois para um Distrito Policial. Lá, disseram que não iam nos liberar tão cedo, mas como eu sangrava muito, um policial me levou para um pronto-socorro. Depois de levar os pontos, me levaram para um outro DP.”

Vinícius foi detido por volta das 21h30 e liberado por volta das 5h. Ele conta que na segunda delegacia, chegaram advogados chamados por coletivos e movimentos sociais. “Nesse momento a PM mudou totalmente a postura, até nos deixaram sentar. Porque antes disso, nos colocaram em pé, com as mãos para trás e olhando para a parede. Coisa bizarra, se eu olhasse para o lado, eles xingavam e ameaçavam”, disse.

Na mesma noite da agressão, a estudante Deborah Fabri perdeu a visão de um olho devido à violência policial. Cenas de violência se repetiram nas manifestações seguintes. Na última, realizada ontem, apenas registros isolados.

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