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Juíza Kenarik é ferida por estilhaço de bomba da PM em protesto contra Temer

A magistrada, reconhecida pela luta em prol dos direitos humanos, foi atingida no supercílio no protesto da última quarta-feira (31), levou quatro pontos e passa bem

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“Durante todo o trajeto, não presenciei nem um ato sequer de violência”, disse Kenarik

São Paulo – A desembargadora do Tribunal de Justiça de São Paulo Kenarik Boujikian foi ferida no rosto por um estilhaço de bomba de efeito moral lançada pela Polícia Militar para reprimir protesto realizado na última quarta-feira (31), em São Paulo, quando milhares de pessoas se reuniram em protesto contra o governo de Michel Temer e contra o impeachment da presidenta Dilma Rousseff. A magistrada, reconhecida pela luta em prol dos direitos humanos, foi atingida no supercílio do olho direito, levou quatro pontos e passa bem.

A manifestação, realizada no mesmo dia em que o Senado aprovou o impeachment de Dilma, foi o segundo maior protesto de São Paulo contra Temer, perdendo apenas para a de domingo (4), que reuniu pelo menos 100 mil pessoas. Apesar de pacífica, a manifestação foi duramente reprimida pela polícia. A estudante universitária Deborah Fabri perdeu a visão do olho esquerdo após ser atingida por um estilhaço.

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Após ser atingida, juíza levou quatro pontos

A desembargadora, que é uma das fundadoras da Associação Juízes para a Democracia, estava acompanhada da filha mais jovem. Elas encontraram o ato pouco depois de os manifestantes terem deixado o vão livre do Masp, na Avenida Paulista, onde ocorreu a concentração e seguiram com ele até a Praça Roosevelt, na região central de São Paulo. “Durante todo o trajeto, não presenciei nem um ato sequer de violência”, disse Kenarik em depoimento nas redes sociais.

“Seguimos mais adiante, passamos da altura da Rua Maria Antonia. Um grupo entrou na Rua Amaral Gurgel e uma parte ficou mais atrás, e começou a dispersão, porque as bombas começaram a pipocar. De longe eu via a fumaça se erguer e ouvia os estrondos”, disse. “Atravessei a rua em direção à Praça Roosevelt e estava quase em frente à Igreja da Consolação. De repente, um forte impacto na minha testa. Uma dor, uma ardência e o sangue jorrando, de modo que nem conseguia abrir o olho e não entendia o que estava acontecendo. Não sabia onde estava ferida e tossia muito porque a garganta também ardia.”

Sua filha a ajudou a estancar o sangue com um casaco e elas perceberam que se tratava de um corte no supercílio. A desembargadora foi para o hospital, onde foi feita uma tomografia. “É forçoso que eu conclua que a polícia vandaliza o direito de protesto, um dos primeiros dos direitos humanos, mas que não paralisará as pessoas, porque estão todos na base: nenhum direito a menos!”, disse.

“Por certo que a repressão policial, a violência contra os manifestantes que de forma pacífica estão a exercer o legitimo direito de reunião e livre manifestação e expressão, não é gratuita e não é fruto do despreparo da polícia. É pura escolha. Tem finalidade. Querem proibir o exercício de direitos próprios de uma sociedade democrática. Querem incutir o sentimento de medo.”

Segundo a juíza, o direito de protestar é o único que pode fazer valer os demais direitos fundamentais, “especialmente destinados aos mais vulneráveis e à diversidade”.

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