Órgãos da repressão

Infiltrado do Exército em movimentos lembra episódio Riocentro

Segundo reportagem do Mídia Ninja, capitão das Forças Armadas 'preso' com outros jovens em ato dia último dia 4 infiltrou-se em outros grupos antes. Episódio é comparado ao atentado do Riocentro em 1981

Mídia Ninja

Capitão tinha preocupação de não se deixar fotografar

São Paulo – Reportagem do site de jornalismo independente Mídia Ninja informou ontem (13) que o capitão do Exército Willian Pina Botelho atuou de maneira infiltrada em vários movimentos sociais com a finalidade de patrulhar sua atividades. Botelho, sob o codinome de “Balta Nunes”, virou notícia depois de ter sido “detido” junto com outros 21 jovens antes da manifestação do último dia 4, que reuniu mais de 100 mil pessoas entre a Avenida Paulista e o Largo da Batata, em São Paulo.

O capitão teria sido o responsável por passar informações aos órgãos de repressão que executaram as detenções utilizando como justificativa flagrantes forjados. Segundo o Mídia Ninja, Botelho não se infiltrou somente em grupos de manifestantes que acabavam de se conhecer pelas redes sociais. Meses antes, sob o mesmo disfarce, já teria coletado movimentações da Frente Povo sem Medo, que hoje reúne alguns dos mais importantes movimentos sociais do país, como Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Fora do Eixo, Mídia Ninja, CUT e UNE. Militantes do Psol e do PCdoB, jornalistas e comunicadores, entre outras organizações sociais, também foram patrulhadas – revelando a extensão da operação para além da frente, na qual não atuam partidos.

Botelho, ou “Balta”, abordava mulheres dos movimentos em conversas privadas pelo menos desde abril de 2015. E passou a ter acesso direto a informações após participar presencialmente do Encontro dos Comunicadores Sem Medo, realizado em junho deste ano na Casa Fora do Eixo, em São Paulo.

Pessoas ligadas aos movimentos sociais têm comparado a ação tida como “desastrada” – embora muitas não descartem que até mesmo a “descoberta” do infiltrado possa ser parte da estratégia dos órgãos de repressão – ao episódio do Riocentro, em 1981. Na ocasião, ocaso da temporada mais violenta do regime ditatorial instalado em 1964, um sargento e um capitão do Exército tentaram plantar bombas nas proximidades do centro de convenções onde ocorria um show comemorativo ao Dia do Trabalho que tinha como mote a redemocratização do país e do qual participavam os principais nomes da MPB (era 30 de abril).

Com o evento já em andamento, uma das bombas explodiu dentro do carro onde estavam os dois militares, no estacionamento do pavilhão. A explosão ocorreu antes da hora matando o sargentoGuilherme Pereira do Rosário e ferindo o então capitão Wilson Dias Machado. O governo então chefiado pelo general João Batista Figueiredo chegou a “culpar” de radicais de esquerda pelo atentado – embora soubesse se tratar de operação idealizada por setores dos quartéis que discordavam da abertura e buscavam álibis par voltar a endurecer o regime.

Mais trechos da reportagem

O capitão parece ser um mestre em fugir de registros fotográficos que possam comprometê-lo: surpreendentemente, ele aparece em apenas uma foto do evento, de costas, mesmo com centenas de imagens registradas ao longo do encontro.
(…)
Hoje reconhecido como agente infiltrado, Botelho logrou a inclusão de outro membro nos grupos, identificado inicialmente como “Fagner”. Em uma das mensagens, o agente fala de seu ‘companheiro’: “Tem um compa que tá querendo ir no ato da Dilma para ajudar a cobrir o evento.” No dia da manifestação, questionou: “O Fagner tá ai?”. A reportagem não conseguiu localizar informações ou imagens de Fagner, e suas contas nas redes sociais estão desativadas, assim como as de “Balta”. A única informação que há sobre ele é que esteve presente no ato de Dilma Rousseff no condomínio João Candido, São Paulo, no dia 8 de Julho, quando enviou imagens de cobertura no chat do movimento.
(…)
O juiz Rodrigo Tellini, responsável pela soltura de 18 dos jovens na segunda, 5, foi contatado pela NINJA e informou que não foram citados possíveis infiltrados no inquérito. Embora o “flagrante” não fale sobre isso, pois só apura a conduta dos detidos, Tellini alertou que o caso deve ser denunciado e se dispôs a auxiliar no encaminhamento da denúncia.

Linguagem da sedução

Leia também

Últimas notícias