Mouzar Benedito

As crianças da Amazônia têm aptidão nata para a natação e o remo

Da mesma forma que os atletas quenianos, meninos e meninas da Amazônia têm enorme potencial para atividades esportivas. Só lhes falta a oportunidade

Danilo Ramos/RBA

Meninos brincam à beira do Rio Araguaia, no Pará, onde o talento aquático é nato

São Paulo – O domínio dos atletas quenianos em determinadas provas do atletismo sempre teve como pano de fundo a brincadeira de que tal capacidade estaria associada ao hábito de fugir de leões desde criança. Verdade ou não, o fato é que o pendor das crianças quenianas para a corrida formou exímios atletas. “Foi só dar oportunidade para eles treinarem de acordo com os padrões oficiais que se tornaram quase invencíveis”, diz o geógrafo e escritor Mouzar Benedito, em seu comentário de hoje (12) no quadro “Coisas do Brasil”, na Rádio Brasil Atual.

O exemplo dos corredores quenianos faz Mouzar refletir sobre o potencial latente das crianças que vivem na Amazônia. “Vi muitas crianças pequenas na Amazônia nadando com peixes e atravessando grandes extensões de rio em barcos a remo. Assim como os quenianos são grandes corredores desde pequenos, nossas crianças da Amazônia são grandes nadadores e remadores, mas não têm a oportunidade de usar essa habilidade em práticas esportivas”, observa.

Mouzar toma como exemplo algumas atletas brasileiras que já se destacaram nesta Olimpíada. É o caso da judoca Rafaela Silva, protagonista da primeira e, até agora, única medalha de ouro do Brasil nos Jogos. “A vitória dela é uma resposta a vários tipos de babaquice, como o racismo, o machismo e o preconceito com pessoas de origem pobre.” Negra, nascida na Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, a mãe de Rafaela a colocou para praticar judô porque sentia que a menina era muito agressiva. “Uma característica que era considerada negativa foi transformada em forma de superação e vitória”, pondera Benedito.

O escritor cita ainda o exemplo de Rebeca Andrade, atleta da ginástica artística que desde criança mostrava habilidade para o esporte e, por inúmeras vezes, foi obrigada a parar de treinar por não ter dinheiro para pagar o transporte. “Quantas crianças como ela poderia ter futuro no Brasil? E não só no esporte. Quantos potenciais cientistas e pessoas competentes existem nas favelas e bairros pobres do Brasil?”, questiona.

Para ele, se estas crianças tivessem oportunidade, mesmo que não se transformassem em grandes esportistas ou profissionais de destaque, ao menos teriam a chance de uma vida melhor. Ouça o comentário.

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