Poeta do Rap

‘O golpe não vai beneficiar em nada a periferia’, diz rapper GOG

Em entrevista à Frente Brasil Popular, ativista diz que classe trabalhadora não vai dar sossego aos golpistas: 'luta é para a vida'

Bruno Pilon/FBP

‘Vamos assistir menos televisão e nos aproximar mais dos sindicatos e instrumentos de classe’

FBP – “Não sou a Disneylândia, eu sou os becos das quebradas escuras de Ceilândia, as ruas as famílias sem o básico, o fim dos fins de semana trágicos, eu sou favela, sou viela“. Foi pelo rap que Genivaldo Oliveira Gonçalves se tornou GOG, rapper e escritor nascido em Sobradinho, no Distrito Federal. Ele levou a vez e a voz da periferia para os palcos, mostrando que “é impossível ser trabalhador e não se revoltar com as desigualdades”.

Foi sob o intenso sol de Brasília que o rapper contou, com sua singular “palavra poesia”, como enxerga a situação atual do país. Para o poeta do rap nacional, o povo precisa desligar literalmente a TV e se voltar para as organizações populares para deixar de somente “escutar as respostas”.

Confira: 

No cenário que o nosso país se encontra, a classe trabalhadora é a que mais sofre. Para você, quais são os principais motivos para o povo se posicionar e lutar contra o golpe?

A periferia tem que ser contra o golpe porque o golpe não vai beneficiar em nada a periferia. Na realidade, aqueles que foram os senhores do engenho, os capitães do mato, aqueles que sempre oprimiram o povo, querem a governança de volta. Eles sempre estiveram no poder, eles continuam sendo os grandes banqueiros, os grandes latifundiários aqueles que subjugam o povo brasileiro. É hora do trabalhador brasileiro suar a camisa, no sentido verdadeiro dessa palavra e não permitir que isso aconteça.

Vamos assistir menos televisão e nos aproximar mais dos sindicatos e instrumentos de classe. Vamos conversar mais com o pessoal que tem um histórico de classe, para entendermos o que está acontecendo. Fica muito complicado se ainda ficarmos só escutando das pessoas as respostas para nossas dúvidas.

Nesta conjuntura, quais são as respostas que o povo precisa dar para vencer a onda golpista?

Existe uma diferença: eles (a direita) vem para a rua, nós somos a rua, o trabalhador é a rua. Essa é a diferença crucial entre essas duas classes. Eles estão organizados pelo ódio, o que nos organiza é a vontade de trabalhar, de ter melhores dias não só para nós, mas para toda a comunidade, para nossas famílias e hoje nosso lugar mais do que nunca é a rua nos expondo no debate e colocando nossa opinião. Temos que perceber que esses que estão por tomar o poder, e que querem tomar a governança do Brasil, querem tomar de assalto o que não ganharam nas urnas de forma democrática.

Em sua análise o que mais motivou a direita a arquitetar o golpe, foi o descontentamento com os avanços sociais, ou existem mais coisas?

Existe um enfrentamento, desde os anos 1980 quando nasce a CUT, quando nasce a CGT, quando nasce o PT. Começa-se um debate, e a direita brasileira, essa classe que se acha melhor que todos os brasileiros, eles pegaram e também começaram a se organizar. Logo aí nos anos 1990, já acontece a flexibilização de alguns sindicatos, sindicatos pelegos. Você vê por exemplo o Paulinho da Força, surge nessa época né. A Força Sindical, por exemplo, surge para contrapor as entidades que realmente são ligadas à classe trabalhador.

É um enfrentamento contra tudo que aconteceu não só nos últimos quinze anos, mas sim contra toda a engrenagem social que nós montamos em praticamente trinta anos.

Por último, em uma possibilidade de consumação do golpe, qual deve ser a resposta da classe trabalhadora?

Não daremos sossego jamais, porque nós somos de luta. Eles são de briga. Briga é por uns dias, luta é para a vida inteira.