Covardia

Agressões contra atletas se repetem nas redes sociais

Medalhista de ouro foi alvo de ataques racistas quando eliminada nos Jogos de Londres (2012). Agora, discurso de ódio atinge nadadora, que reage: 'Vamos entrar com ação na Justiça com todas as provas'

reprodução/ebc

Joanna é alvo de ataques nas redes, especialmente por se posicionar em relação a temas polêmicos

São Paulo – Em quadra, nas piscinas e nos tablados, os atletas brasileiros enfrentam os melhores esportistas do mundo nos Jogos Olímpicos. A torcida, mesmo com resultados negativos, aplaude e apoia a dedicação da equipe. Algo diferente, no entanto, acontece nas redes sociais. O primeiro (e único até então) ouro brasileiro foi conquistado pela judoca Rafaela Silva, que na Olimpíada de Londres, em 2012, não conseguiu o feito e foi duramente agredida.

Na ocasião, a postura racista e ultraconservadora de parte dos usuários da internet se voltou contra a medalhista. “Falaram que eu não servia para o judô, que eu era uma vergonha para a minha família”, disse. Chegaram a proferir ataques discriminatórios, chamando-a de “macaca”. Agora, o discurso de ódio atinge outra atleta brasileira: Joanna Maranhão representou o país em três modalidades, nas piscinas, e seu rendimento desencadeou uma série de ofensas. Em resposta, a nadadora afirmou ter coletado dados de agressores para entrar na Justiça contra eles.

Soma-se à eliminação da nadadora o fato de que ela se posiciona politicamente. Engajada, defende bandeiras de minorias e causas ligadas aos direitos humanos, além de rechaçar o golpe que afastou a presidenta Dilma Rousseff (PT), empossando seu vice, Michel Temer (PMDB). Se em 2012 os discursos de setores da sociedade eram agressivos, com o acirramento da dualidade política no país, após o processo eleitoral de 2014, esses setores tornam-se a cada dia mais ofensivos, ou, nas palavras da própria Joanna, mais “racista, machista, xenófobo e homofóbico”.

RBA
Ataques carregam discursos rasos e chavões

Escondidos atrás de telas de computadores ou smartphones, internautas atacaram o desempenho da nadadora. “E a medalha? Cadê? Nadou tão devagar que achei que estava se afogando”, disse um deles. Entretanto, este discurso, ao encontrar questionamento razoável, apela para chavões. “Quantas medalhas olímpicas você tem mesmo?”, questionou outro internauta defendendo a nadadora. A resposta vazia: “Sem vitimismo, faz favor”.

“Vitimista” e “Bolsonaro presidente” são as palavras mais encontradas no perfil da nadadora no Facebook. Entretanto, as ofensas foram mais graves, como conta a própria Joanna: “Nem todo mundo entende a dificuldade que é estar na Olimpíada. Mas desejar que minha mãe morra, que eu me afogue, que eu seja estuprada, que a história da minha infância seja algo que eu inventei para estar na mídia, já ultrapassa. Eu falo sobre coisas que a maioria dos atletas não fala, eu aguento porrada, mas tudo tem limite”, afirmou.

Em resposta às agressões, Joanna resolveu não abaixar a cabeça. Via redes sociais, a nadadora afirmou ter tomado algumas decisões: “A todos perfis que vieram até aqui me denegrir, ofender e xingar: muito obrigada! Fiquei em silêncio para que vocês se sentissem à vontade, enquanto meu advogado coletava dados de cada um. Vamos entrar com ação na Justiça com todas as provas. Trata-se de uma causa ganha e com este dinheiro, vamos potencializar as ações da ONG Infância Livre”, disse. “O ódio de vocês será revertido para uma boa causa”, completou.

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