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Na Parada LGBT, o protesto de 2 milhões contra retrocessos

Evento paulistano deste ano foi marcado por manifestações contra o governo interino de Michel Temer e contra retrocessos nos direitos da comunidade LGBT

Avenida Paulista tomada pela Parada <span>(Paulo Pinto/ Fotos Públicas)</span>Casal durante a Parada LGBT <span>(Paulo Pinto/ Fotos Públicas)</span>Tom político marcou o evento <span>(Paulo Pinto/ Fotos Públicas)</span>Viviany Beleboni: personagem polêmica desde a edição do ano passado <span>(Paulo Pinto/ Fotos Públicas)</span>Wyllys: 'Precisamos lutar pela democracia, pelos nossos direitos, e pelas pessoas trans' <span>(Paulo Pinto/ Fotos Públicas)</span>Cartazes, panfletos e corpos pintados rechaçavam o presidente interino <span>(Paulo Pinto/ Fotos Públicas)</span>

São Paulo – A Parada do Orgulho LGBT reuniu aproximadamente 2 milhões de pessoas ontem em São Paulo em um movimento pela “Lei de Identidade de Gênero Já – Todas as pessoas juntas contra a Transfobia!”. O evento deste ano foi marcado por manifestações políticas contra o governo interino de Michel Temer e contra retrocessos nos direitos da comunidade LGBT.

Viviany Beleboni foi destaque na edição anterior por realizar uma performance em que era crucificada. Neste ano, não foi diferente. Ela veio carregando uma ‘bíblia’ com os dizeres “bancada evangélica e retrocesso”, com uma cruz manchada de sangue no centro. Na parte interior, dólares finalizavam a composição do adereço.

A performance foi aplaudida. No trio elétrico em que desfilava, havia uma grande faixa com o grito que, por vezes, surgia na multidão: “Fora Temer!”. As palavras de ordem ainda estavam estampadas em outros diversos lugares. Cartazes, panfletos e corpos pintados rechaçavam o presidente interino.

O tom político perdurou por todo o evento. O deputado federal Jean Wyllys (Psol-RJ) discursou em um trio. “O segmento T é o mais vulnerável”, disse em relação às mulheres e homens trans e travestis, universo destacado na edição deste ano. “É o segmento que tem mais vítimas de homicídios, lesões corporais e que não tem seus direitos reconhecidos. Essa letra precisa de atenção especial”, afirmou.

Wyllys é autor de um projeto de lei sobre nome social, junto com a deputada Erika Kokay (PT-DF), que tramita no Congresso desde 2013. A proposta consiste em permitir alteração do nome e do gênero do interessado sem que haja obrigações clínicas ou judiciais. Também consta do projeto a universalização, através do SUS, de tratamentos cirúrgicos para adequação do corpo ao gênero que a pessoa se reconhece.

A proposta encontra resistência no Congresso, especialmente da chamada bancada evangélica, que encontra representatividade no governo provisório. O próprio líder do governo da Câmara dos Deputados, André Moura (PSC-SE), integra a bancada. “Estamos vivendo no país um difícil momento de retrocessos. Além disso, a República foi tomada por uma quadrilha. Isso ameaça diretamente nossos direitos. Precisamos lutar pela democracia, pelos nossos direitos, e pelas pessoas trans. Fora Temer”, disse Wyllys.

Moura ainda esteve indiretamente no cerne da Parada por outra razão. O líder do governo é coautor de uma lei em tramitação na Casa que dificulta o acesso de vítimas de estupro ao sistema de saúde. O texto foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara em outubro do ano passado, e conta como autor principal o presidente afastado da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Muitos manifestantes também usaram o evento para denunciar a cultura do estupro. Com intervenções artísticas e o apoio de nomes como a cartunista Laerte Coutinho e Eduardo Suplicy, os presentes lamentaram o estupro coletivo a uma jovem no Rio de Janeiro e o fato de que parte da sociedade insiste em culpar a vítima. Contudo, Laerte afirmou que a conjuntura política e tal fato enriquecem a importância de uma manifestação como a Parada.

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