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Até final do ano, Metrô de SP terá 57 trens novos sem uso devido a obras atrasadas

Linhas 4-Amarela, 15-Prata e 5-Lilás não têm espaço para colocar as composições no sistema. Outros 19 trens reformados também estão parados

Carol Teresa/Metrô/Fotos Públicas
Carol Teresa/Metrô/Fotos Públicas
Privada, a Linha 4-Amarela receberá, até o final de 2016, 15 trens novos que não terão onde circular

São Paulo – A Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô) terá, até o final deste ano, 57 trens novos das linhas 15-Prata (Vila Prudente-Oratório), 5-Lilás (Capão Redondo-Adolfo Pinheiro) e 4-Amarela (Butantã-Luz) sem atender à população. Outros 20 trens reformados das linhas 1-Azul e 3-Vermelha, estão parados. Nove foram equipados com um sistema de operação (CBTC) incompatível com o sistema das vias (ATC). Os outros dez estão sofrendo desmonte – a chamada canibalização – para garantir a manutenção de outros trens.

No caso dos trens novos, o maior problema é o atraso na execução das obras. A Linha 15-Prata tem apenas duas estações e 2,6 quilômetros de extensão, onde operam quatro composições. Outras 16 ficam estacionadas no Pátio Oratório, sem previsão de quando serão colocadas a serviço da população. Iniciada em 2009, a obra foi prevista para ser concluída em 2014. O projeto era de que a linha tivesse 24,5 quilômetros e 17 estações, conectando os bairros de Vila Prudente e Cidade de Tiradentes, na zona leste da capital paulista.

No início deste ano, o governador paulista, Geraldo Alckmin (PSDB), congelou parte do projeto. Agora serão dez estações, até São Mateus, com previsão de conclusão para 2018. As outras sete não foram sequer licitadas. O governador também reduziu a compra de trens. Antes seriam 54 composições de sete vagões cada, com capacidade para mil passageiros, ao custo de R$ 2 bilhões. Agora serão 32 trens.

RBA
Na terça-feira(3),as 11h, 12 trens da Linha 15-Prata estavam parados no pátio Oratório (Foto:RBA)

A ViaQuatro, concessionária privada que opera a Linha 4-Amarela, possui 14 trens para as sete estações em operação, das 11 que deveriam compor o trajeto. Outros 15 chegam este ano – cinco já foram entregues – não terão função, já que a previsão de abertura de novas estações é só para 2018. O primeiro prazo de conclusão da obra era 2010, o que indica que a própria entrega dos 15 trens foi ajustada. Quatro estações restantes estão em construção: Vila Sônia, São Paulo-Morumbi, Higienópolis-Mackenzie e Oscar Freire.

O investimento em aquisição de trens para a Linha 4-Amarela é de R$ 2 bilhões. Como o pátio Vila Sônia não está concluído, a ViaQuatro não tem um local adequado para estacionamento dos novos trens, que podem ficar espalhados, como ocorre com os 26 trens novos da Linha 5-Lilás, que estão parados em outros pátios e ao longo da linha.

Na Linha 5-Lilás, o atraso é ainda maior. A ferrovia está sendo construída desde 1998, quando era a Linha F da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). Após inúmeras alterações no prazo de entrega das 17 estações, que vão ligar o Capão Redondo à Chácara Klabin, integrando-se com a Linha2-Verde, a previsão atual de conclusão é 2018. Nem mesmo o pátio de estacionamento Guido Caloi, que abrigaria a frota P, foi concluído. Esse é um dos motivos das composições estarem paradas.

Os 26 trens, adquiridos por R$ 630 milhões pelo governo Alckmin, também nunca foram colocados em serviço porque o sistema de operação deles é incompatível com o sistema das vias. Vídeos produzidos pelo Sindicato dos Metroviários de São Paulo mostram 12 dos 26 trens comprados, desde 2013, que ficam estacionados no pátio e ao longo do trecho de circulação. As composições identificadas nos vídeos são: P21, P12, P34, P15, P22, P10, P19, P16, P20, P11, P18 e P02.

Segundo o Sindicato dos Metroviários, há ainda dez trens da frota P parados na fábrica da CAF, em Hortolândia, interior de São Paulo. “O governo Alckmin paga aluguel para a empresa para manter essas composições lá. Mas não há transparência sobre quanto é pago, nem há quanto tempo”, disse o presidente da entidade, Altino de Melo.

O motivo de o governo ter adquirido esses trens sem ter como utilizá-los é objeto de investigação do Ministério Público Estadual, desde o ano passado. “Na minha opinião, não é erro. É privilegiar as empresas. Eu não consigo entender como você compra dezenas de trens para um sistema não implantado. É como se você comprasse seu carro, e por algum motivo comprasse mais dois carros, mas esses dois serão para ficar. É jogar dinheiro fora”, afirmou.

Outra preocupação dos trabalhadores é que a garantia das composições é de quatro anos, mas, como eles não foram usados, perderam-na. Tem havido oxidação e desgaste na parte externa dos trens, por conta da exposição às intempéries. Além disso, componentes sem uso se degradam, levando à possibilidade de os trens apresentarem falhas quando começarem a ser colocados em uso.

A Secretaria de Transportes Metropolitanos, o Metrô e a ViaQuatro não atenderam à reportagem.

Trens reformados

As nove composições reformadas das linhas 1-Azul e 3-Vermelha que estão paradas fazem parte do pacote de 98 composições modernizadas ao custo de R$ 1,7 bilhão pelo governo Alckmin. O sistema instalado nelas (CBTC) é incompatível com o sistema operacional das vias (ATC). A implantação do CBTC custou R$ 700 milhões. Mas como não deu certo, o Metrô abriu uma licitação no valor R$ 35,5 mil, em abril deste ano, para desenvolvimento de cartões eletrônicos para que os trens funcionem com o sistema ATC.

“O Metrô fez uma adaptação do equipamento antigo com o trem reformado, para poder circular os trens no sistema ATC. São verdadeiros ‘franksteins’. O governo gastou milhões com reformas e implantação de sistemas e não está tendo o retorno esperado. E agora gastará mais uma fortuna de dinheiro público para contornar essa situação”, afirmou o presidente dos Metroviários. O CBTC funciona na Linha 2-Verde desde fevereiro deste ano, dois anos após a previsão para que fosse implementado em toda a rede.

Já os dez trens canibalizados – H59, K09, K17, K21, L43, L28, L30, L35, I10 conforme denunciou a RBA – são utilizados para realizar manutenção de outras composições. Segundo os trabalhadores, o Metrô está com falta de aproximadamente 3 mil itens no setor de manutenção, dentre os quais, bancos de passageiros e de operadores, lâmpadas, faróis, motores de tração, redutores, vidros de janelas, portas, fechaduras, contrassapatas e até extintores de incêndio.

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