Proibir organizadas deixa impune quem comete atos violentos, diz Gaviões da Fiel

Torcida afirma que considera ineficazes as medidas do governo estadual contra as organizadas, coloca-se à disposição para pensar alternativas e reitera que é contra qualquer ato de violência

Gaviões da Fiel/ Divulgação

Torcedores ligados à Gaviões da Fiel realizaram ato no último dia 31 cobrando instalação de CPI da merenda

São Paulo – A diretoria da torcida organizada Gaviões da Fiel, ligada ao Corinthians, divulgou nota na tarde de hoje (5) posicionando-se contra a decisão anunciada ontem pela Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, que tornou obrigatória uma única torcida em clássicos até 31 de dezembro, proibiu faixas e adereços e exigiu um cadastro prévio de torcedores para venda on-line de ingressos.

A determinação ocorreu após quatro confrontos no domingo (3) envolvendo supostos torcedores ligados à Mancha Alviverde, do Palmeiras, e à Gaviões da Fiel, que causaram uma morte e levaram pelo menos 50 pessoas para a prisão. Na tarde daquele dia, Palmeiras e Corinthians disputaram mais uma rodada do campeonato paulista, no Pacaembu, zona oeste de São Paulo. O Palmeiras venceu o Corinthians por 1 a 0.

“Generalizar o problema da violência apenas com a proibição das organizadas em estádios paulistas trata-se não apenas de punir quem nada fez, mas deixar de punir quem de fato tenha cometido atos violentos”, diz a nota. “A falta de punições individuais, investigações inteligentes, identificações nos estádios, e várias outras medidas, são o que de fato estimulam torcedores mal intencionados.”

No texto, a Gaviões da Fiel afirma que considera as medidas da secretaria ineficazes, se coloca à disposição para estudar alternativas e afirma que não aceitará generalizações passivamente. A torcida reiterou que é contra qualquer ato de violência ou vandalismo e que não há qualquer consentimento da diretoria com esse tipo de comportamento.

“O que realmente nos surpreende (ou não) é a incompetência e passividade do Poder Público como um todo, que não apenas falha no esforço para punir de fato os indivíduos que cometem atos violentos, como quer transferir a responsabilidade de tais punições aos dirigentes de torcidas. Querem retirar do Poder Público o que é de sua responsabilidade”, diz o texto.

A diretoria da Gaviões reforça que “colocar clássicos com torcida única não coibirá o livre trânsito de torcedores rivais em lugares distantes dos estádios, conforme já acontece.” Além disso, aponta que proibir camisas, instrumentos e bandeiras “não pacificará magicamente a cidade” e que proibir o repasse de ingressos direto dos clubes para as torcidas, o que não ocorre no Corinthians, “não evitará que torcedores violentos adentrem os estádios”.

“Tais medidas não apenas são ignorantes e sem qualquer eficácia prática, como tem um total apelo midiático, buscando dar uma resposta bem rasa a uma opinião pública influenciada por distorções e manipulações por parte de uma grande mídia que, conforme é de conhecimento geral, defende seus interesses próprios”, diz o texto.

A torcida denuncia, ainda, a série de “coincidências” que antecederam o clássico, como uma invasão de policiais à sede dos Gaviões da Fiel Torcida na sexta-feira (1º), um dia após a torcida ter realizado um protesto na Assembleia Legislativa, pedindo instalação de CPI para investigar os desvios na merenda escolar pelo governo de Geraldo Alckmin (PSDB). Além disso, um suspeito das agressões contra diretores da Gaviões foi apresentado às vésperas da partida como possível integrante de uma torcida organizada palmeirense.

“Causa estranheza o fato de tal cruzada repentina pelo fim das organizadas vir ‘coincidentemente’ após meses de intermináveis protestos por parte dos Gaviões da Fiel contra alicerces conservadores da sociedade, não habituados com a contestação – como FPF (Federação Paulista de Futebol), CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Rede Globo, dirigentes do Corinthians e o (presidente da Assembleia Legislativa) deputado Fernando Capez, ex-promotor e um dos investigados no esquema das Merendas.”

O texto reafirma, ainda, que “querer responsabilizar torcidas organizadas por uma violência que, infelizmente, já faz parte da realidade da nossa sociedade, é minimizar (senão ignorar) a problemática como um todo. As brigas entre torcedores existem sim. Porém, não são simplesmente fruto de torcidas violentas, mas sim de uma sociedade que não apenas convive e aceita com estranha naturalidade essa violência, como dá ibope aos programas televisivos que têm como pauta única o sensacionalismo da violência”.

Leia a nota:

Medidas tomadas após o clássico

Na última segunda-feira (4), a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, a Federação Paulista de Futebol e a Promotoria do Estado anunciaram algumas medidas que, segundo eles, são para coibir a violência nos estádios paulistas, algo que não podemos deixar de nos posicionar.

Antes de mais nada, reiteramos nossa TOTAL CONTRARIEDADE a qualquer ato de vandalismo e/ou violência. Nenhuma ação tem o incentivo ou consentimento por parte da diretoria dos Gaviões da Fiel Torcida.

Não assumimos a responsabilidade e autoria de brigas, principalmente por considerarmos que as mesmas não tem ligação direta a qualquer tipo de entidade.

Vivemos em um país onde a prática de chacinas de inocentes é recorrente, como a que vitimou 19 (ou mais) pessoas em Osasco e tirou de nós oito amigos do Pavilhão 9. Um país onde a guerra às drogas, posta a qualquer custo, mata crianças, como aconteceu com Matheus Santos Moraes, de 5 anos, em Magé-RJ, no último sábado (2). Um país onde mulheres, adolescentes e idosos apanham de homens adultos por divergências político-partidárias. Um país em que alguns pregam a intolerância religiosa por crenças distintas, culminando em ataques físicos, como acontecido com Kailane Campos, de 11 anos, apedrejada por ser candomblecista. Um país onde a desigualdade social é pano de fundo para que os números de criminalidade não apenas sejam alarmantes, mas que alcancem também o posto de maior população carcerária do mundo.

Em resumo, somos o país que tem 21 cidades entre as 50 mais violentas do planeta (dados do Conselho Cidadão para a Segurança Pública e a Justiça Penal, de 2015). Querer responsabilizar torcidas organizadas por uma violência que, infelizmente, já faz parte da realidade da nossa sociedade, é minimizar (senão ignorar) a problemática como um todo.

As brigas entre torcedores existem sim. Porém, não são simplesmente fruto de torcidas violentas, mas sim de uma sociedade que não apenas convive e aceita com estranha naturalidade essa violência, como dá ibope aos programas televisivos que tem como pauta única o sensacionalismo da violência. Os responsáveis por esse estado de coisas pouco se importam com a possibilidade de crianças serem telespectadores dos horrores diários.

Não sejamos hipócritas! A violência entre as torcidas é somente mais um reflexo da violência diária que assistimos permanentemente.

O que realmente nos surpreende (ou não) é a incompetência e passividade do Poder Público como um todo, que não apenas falha no esforço para punir de fato os INDIVÍDUOS que cometem atos violentos, como quer transferir a responsabilidade de tais punições aos dirigentes de torcidas. Querem retirar do Poder Público o que é de SUA responsabilidade.

Surpreende-nos também a série de “coincidências” que antecederam o clássico, como uma invasão autorizada de policiais à sede dos Gaviões da Fiel Torcida, um dia após termos realizado um grande protesto na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, pedindo por uma CPI das Merendas.

Chama-nos a atenção também que um suspeito das agressões contra diretores dos Gaviões da Fiel tenha sido apresentado às vésperas de um clássico entre Palmeiras e Corinthians como suspeito de integrar uma torcida organizada palmeirense. Assim como nos desperta curiosidade a falta dos planos de ações preventivas por parte da promotoria e da PM para coibir e evitar possíveis encontros entre torcedores.

Além disso, causa estranheza o fato de tal cruzada repentina pelo fim das organizadas vir “coincidentemente” após meses de intermináveis protestos por parte dos Gaviões da Fiel contra alicerces conservadores da sociedade, não habituados com a contestação – como FPF, CBF, Rede Globo, dirigentes do Corinthians e o Deputado Fernando Capez, ex-promotor e um dos investigados no esquema das Merendas.

Generalizar o problema da violência apenas com a proibição das organizadas em estádios paulistas trata-se não apenas de punir quem nada fez, mas deixar de punir quem de fato tenha cometido atos violentos. A falta de punições individuais, investigações inteligentes, identificações nos estádios, e várias outras medidas, são o que de fato estimulam torcedores mal intencionados.

Proibir a entrada de camisas, instrumentos, bandeiras e afins, não pacificará magicamente a cidade. Proibir o repasse direto de ingressos dos clubes para as torcidas (algo que NÃO ACONTECE entre Sport Club Corinthians Paulista e Gaviões da Fiel) não evitará que torcedores violentos adentrem os estádios. Colocar clássicos com torcida única não coibirá o livre trânsito de torcedores rivais em lugares distantes dos estádios, conforme já acontece.

Tais medidas não apenas são ignorantes e sem qualquer eficácia prática, como tem um total apelo midiático, buscando dar uma resposta bem rasa a uma opinião pública influenciada por distorções e manipulações por parte de uma grande mídia que, conforme é de conhecimento geral, defende seus interesses próprios.

Os Gaviões da Fiel se colocam à disposição do Poder Público e órgãos interessados para discutir medidas que realmente podem ter resultados, diferente das que estão sendo implementadas sem qualquer estudo real ou diálogo com os principais envolvidos.

As ações que anunciaram não se diferem das adotadas anos atrás, que se comprovaram completamente inúteis no que diz respeito ao combate à violência entre torcedores. Repetir as mesmas ações de outrora é dar intermináveis murros em ponta de faca.

Toda e qualquer generalização é burra e não a aceitaremos passivamente.

Aos torcedores (todos eles), pedimos a frieza de analisar calmamente todos os aspectos a cerca da questão, não aceitando cegamente a opinião imposta por uma mídia influenciável, que tem total interesse em acabar conosco.

E tenham a certeza de que, seja pelo motivo que for, os Gaviões da Fiel não acabou e jamais acabará. Vocês podem acreditar, nossa corrente não será quebrada!

Pelo futebol popular, pelas festas nas arquibancadas e pela não-generalização dos torcedores organizados.

Diretoria dos Gaviões da Fiel Torcida

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