'farsante'

MPF denuncia legista que fraudava necropsias durante a ditadura

Harry Shibata é acusado de corroborar com versão oficial da morte do militante Yoshitane Fujimori, em 1970, oficialmente ocorrida 'em confronto' quando, na verdade, foi torturado antes de morrer

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Na foto, médico-legista Harry Shibata é o terceiro da esquerda para a direita

São Paulo – O Ministério Público Federal em São Paulo denunciou o médico legista Harry Shibata sob acusação de ter forjado laudo da morte do militante político Yoshitane Fujimori, morto em 1970, nas dependências do DOI-Codi, após ser torturado. As informações foram divulgadas nesta segunda-feira (25), no site da Procuradoria.

Na época, o órgão de repressão era chefiado pelo coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, responsável, direta ou indiretamente, segundo levantamento da Comissão Nacional da Verdade, pela tortura e morte de cerca de 60 presos políticos. Morto em outubro do ano passado, Ustra foi homenageado pelo deputado Jair Bolsonaro durante a sessão que aprovou o prosseguimento do impeachment da presidenta Dilma Roussef.

No laudo, Shibata endossou a versão oficial de que a vítima teria trocado tiros com policiais. Ivan Seixas, membro da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, vinculada à Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República, em entrevista à Rádio Brasil Atual na manhã de hoje (26), contraria a versão oficial.

Segundo ele, Fujimori e o também militante Edson Neves Quaresma foram emboscados e metralhados por policiais na Praça Santa Rita de Cássia, no bairro da Saúde, zona sul de São Paulo. De acordo com relatos dos moradores do local, Quaresma teria sido morto durante a ação, mas Yoshitane teria sido levado para o DOI-Codi ainda com vida, onde foi torturado.

Em depoimento à Comissão Nacional da Verdade, outro militante que estava preso no DOI-Codiconfirma a tortura contra Fujimori e relata ainda que, após a sua morte, os militares e empresários aliados teriam dado uma festa, nas dependências do órgão de repressão, que teria durado a noite toda, com direito a rajadas de metralhadora, para comemorar a morte dos militantes.

“Naquela época, tudo era uma mentira. A população era deixada de lado. O que se tinha era o chamado terrorismo de Estado. O Estado estava na mão de uma quadrilha, que assaltaram o poder e os cofres públicos. Faziam o que queriam e tinham a conivência dos meios de comunicação, que eram ativos participantes e beneficiários da ditadura”, afirma Seixas.

Ele lembra, ainda, que são muitos os casos em que o legista Shibata, a quem Seixas chama de “farsante”, teria atuado fraudando laudos, e cita os episódios das mortes do jornalista Vladimir Herzog, em 1975, e do metalúrgico Manoel Fiel Filho, em 1976, com laudos assinados por Shibata constatando a morte por suicídio, quando investigações posteriores desmentiram a versão oficial.

Ouça a entrevista à Rádio Brasil Atual:

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