massacre da sé

São Paulo inaugura monumento em homenagem a moradores de rua assassinados

A placa, que fica na praça em frente à catedral onde ocorreram as agressões, tem um desenho feito pelo morador de rua Deverson Max das Dores, de 20 anos

Fotoarena/Folhapress

Em 2004, sete moradores de rua foram assassinados, em um episódio que ficou conhecido como Massacre da Sé

São Paulo – Um monumento em homenagem a sete moradores de rua assassinados em 2004. em um episódio que ficou conhecido como Massacre da Sé, foi inaugurado nesta sexta-feira (19), no centro da capital paulista. Ao todo, 15 pessoas foram atacadas a pauladas enquanto dormiam nas escadarias da Catedral da Sé. Os autores do crime nunca foram identificados. Dois policiais militares e um segurança particular chegaram a ser presos como suspeitos, mas foram liberados por falta de provas.

A placa, que fica na praça em frente à catedral onde ocorreram as agressões, tem um desenho feito pelo morador de rua Deverson Max das Dores, de 20 anos. Na imagem, os homens aparecem em atitudes corriqueiras – fumando um cigarro, enrolados em um cobertor e acariciando um cachorro. “Quis representar eles vivos, não mortos, e nos lugares onde estavam acostumados a ficar”, disse o artista.

Também em situação de rua e ativista dos direitos dos sem-teto, Sebastião Nicomedes de Oliveira lembrou que o crime permanece impune. “Os assassinos podem estar aqui, no nosso meio, olhando para a gente agora, como estavam nos sepultamentos. Eles não foram condenados, não foram sequer reconhecidos”, ressaltou Oliveira, durante a cerimônia de inauguração do monumento.

Segundo Oliveira, as pessoas que vivem nas ruas continuam sofrendo violência. “A violência contra as pessoas da rua não acabou. Ela só piora no país inteiro. Morrem de frio, morrem queimados, morrem de tudo quanto é jeito”, disse. O artista lembrou que  ainda ocorrem na cidade crimes semelhantes ao Massacre da Sé. “As mortes continuam. Hoje não se fala nas mortes, porque é uma aqui e outra ali. Naquele momento, foram muitas de uma vez só, não tinha como esconder.”

As agressões institucionais, cometidas por agentes da Guarda Civil Metropolitana durante ações para remoção de barracas dos espaços públicos, foi destacada pelo padre Júlio Lancelotti, coordenador da Pastoral do Povo de Rua. “O rapa continua todo o dia tirando as coisas do povo da rua”, disse o sacerdote, sob aplausos dos sem-teto que acompanhavam a solenidade. “Tira documento, tira roupa, ou não tira?”, continuou Lancelotti, recebendo respostas afirmativas.

Ao discursar ao final do evento, o secretário municipal de Direitos Humanos, Eduardo Suplicy, disse que o prefeito Fernando Haddad vai editar uma norma para evitar abusos dos agentes municipais contra os moradores de rua. “Nós aqui fizemos questão de dar oportunidade a todos os que quiseram falar para expressar seus sentimentos. Que seja este momento em memória ao movimento da população em situação de rua um marco de transformação na direção de muito daquilo que vocês pediram”, ressaltou o secretário.

“Sempre deverá haver um diálogo de respeito com a população em situação de rua”, garantiu Suplicy.

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