pistoleiros

Aldeia Kaiowá é incendiada no Mato Grosso do Sul

Ataques seriam em represália à retomada de terras em Kurusu Ambá; Funai alerta para risco de conflito iminente; polícia ainda não compareceu ao local

Cimi/reprodução

“Chegamos e vimos casas sendo queimadas, pessoas correndo, gritando”, disse servidor da Funai

São Paulo – Indígenas das etnias Guarani e Kaiowá foram atacados por um grupo de homens que ateou fogo na aldeia tekoha Kurusu, no último domingo (31). Temendo maiores conflitos, servidores da Fundação Nacional do Índio (Funai) estão no local desde terça-feira (2) e confirmam o incidente no local. A comunidade fica próxima à cidade de Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul.

“Nós estamos vendo agora. Ainda tem casas sendo queimadas. Todas as casas que estavam na fazenda Bom Retiro foram queimadas”, informou o coordenador regional da Funai de Ponta Porã, Elder Ribas. Segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), até o momento a polícia não compareceu ao local e os fazendeiros tomaram posse parcial das terras, que ainda não foram desocupadas pelos indígenas.

A iminência do conflito foi relatada pelos servidores da Funai, que dizem temer ataques de “capangas e pistoleiros” pagos pelos fazendeiros. “Nós chegamos e vimos casas sendo queimadas, pessoas correndo, gritando. A gente tá ligando desesperadamente para as autoridades. A gente tem medo de sair daqui e a coisa piorar. Eles vão atacar”, disse o servidor da Funai Jorge Pereira.

Temendo ataques a mais terras indígenas, os agentes da Funai dizem que não vão sair do local. “Um grupo indígena ouviu os pistoleiros dizerem que iriam aguardar a Funai sair do local para atacar a fazenda Barra Bonita também. Por isso, nós permanecemos aguardando que a Polícia Federal ou a Força Nacional venha para a área”, afirmou Pereira.

Os ataques possuem ligação com a tentativa de retomada dos indígenas da fazenda Madama, no sábado (30), que havia sido reintegrada pelos fazendeiros. Antes de atear fogo na comunidade, homens armados dispararam com armas de fogo nos três acampamentos que compões o complexo Kurusu Ambá.

“Enquanto novos crimes e atentados premeditados podem estar prestes a ocorrer, as forças policiais, o Ministério da Justiça e o governo do estado do Mato Grosso do Sul assistem a tudo calados, garantindo assim aos jagunços porteira aberta para a possibilidade de novos assassinatos”, alerta em nota o Cimi. “É inadmissível o descaso das forças de segurança, que até o momento nem sequer estiveram no local para garantir a mínima integridade dos indígenas e impedir que novos ataques ocorram.”

De acordo com o Cimi, os indígenas Guarani e Kaiowá tentam há quase uma década identificar e delimitar as terras do tekoha Kurusu Ambá. Durante este período, além dos ataques, vários processos de reintegração de posse foram ajuizados no local, sendo que, em 2015, o Supremo Tribunal Federal (STF) garantiu a permanência das famílias indígenas na área, suspendendo uma decisão de reintegração.

Com informações do Cimi

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