Diversidade

Transcidadania tem primeira formatura e inspira governo dos Estados Unidos

Programa da prefeitura de São Paulo oferece bolsas para que homens e mulheres trans voltem à escola e frequentem cursos de capacitação e de formação em cidadania. Orçamento e vagas serão ampliados

PMSP / divulgação

Haddad e os primeiros formandos do Transcidadania: ‘educar a sociedade para a diversidade e compartilhar os mesmos valores’

São Paulo – “Há 15 anos fui posta para fora da escola porque um grupo de alunos queria me queimar viva. Quem me salvou foi um professor, que me tirou do prédio dentro do porta malas do seu carro. Mas hoje estou me formando”, relatou emocionada a participante do Transcidadania Marcela Monteiro, formanda da primeira turma. “É um programa que fez com que as pessoas nos enxergassem com dignidade, me permitiu voltar à escola e me perceber como uma pessoa de direitos”, disse Marcela.

Ontem (20), 38 homens e mulheres trans da cidade de São Paulo, que abandonaram os estudos por sofrer agressões e discriminação na escola, receberam diplomas de conclusão do ensino fundamental e do ensino médio. Eles fazem parte da primeira turma do Transcidadania. O programa da prefeitura começou em 29 de janeiro do ano passado, com oferta de bolsas de R$ 820 para que homens e mulheres trans voltassem à escola, realizassem cursos de capacitação profissional e de formação em cidadania.

Dos 100 participantes iniciais, 33 concluíram o ensino fundamental e cinco, o ensino médio. Duas delas fizeram as provas do Enem e obtiveram nota suficiente para concorrer a uma vaga em uma universidade federal pelo Sistema de Seleção Unificado (Sisu) ou a uma bolsa de estudos pelo programa Universidade Para Todos (Prouni). Paloma Castro, que foi bem no Enem, disse ter recuperado valores: “Hoje eu posso sonhar com um futuro melhor para a minha vida pelos meus estudos, e não em um mundo de prostituição”.

Neste ano, a Coordenação de Políticas LGBT da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania terá orçamento de R$ 8,8 milhões, ante R$ 3,8 milhões em 2015. Serão oferecidas 200 vagas e o valor da bolsa aumentará para pelo menos R$ 910, conforme anunciou o prefeito Fernando Haddad durante a cerimônia de formatura, realizada na Praça das Artes, no centro de São Paulo.

“Em um momento em que ameaçavam propagar o preconceito e a intolerância, nós dissemos que não vamos permitir isso em São Paulo. Com esse programa, anunciamos a todas as pessoas que ninguém ficará para trás”, disse Haddad. “O Transcidadania educa toda a sociedade para a diversidade.”

“Imagine uma pessoa que há um ano agarrou a primeira oportunidade que teve. Passados 12 meses ela deixou uma condição de vulnerabilidade e agora pode decidir sobre o seu futuro em uma universidade”, disse o prefeito. Ele previu “impacto grande” na vida dessa pessoa, mas também na universidade. “onde os alunos ampliarão suas oportunidades de convivência”.

Em um evento carregado de emoção e alegria, como toda festa de formatura, os participantes receberam o certificado de conclusão de curso, dançaram valsa e festejaram com amigos e familiares. Participaram a primeira-dama Ana Estela Haddad, os secretários municipais Eduardo Suplicy (Direitos Humanos), Gabriel Chalita (Educação), Denise Motta Dau (Políticas para Mulheres), Cristina Cordeiro (Assistência e Desenvolvimento Social, em exercício) e o coordenador de políticas LGBT da secretaria de Direitos Humanos, Alessandro Belchior. O program envolve ainda mais as secretarias de Saúde e de Desenvolvimento, Trabalho e Empreendedorismo.

“Quando o programa começou, nenhum de vocês dizia o que diz hoje, que queria continuar estudando e ir para universidade. O programa ampliou os horizontes de vocês”, disse Suplicy.

O Transcidadania é uma iniciativa ainda inédita no mundo. O governo do estado de Minas Gerais já estrutura uma ação semelhante, baseada na experiência da cidade de São Paulo. Representantes do governo norte-americano também já vieram a São Paulo conhecer a iniciativa.

“Implantamos essa política no país que mais assassina travestis e homossexuais. São seis secretarias envolvidas tanto na construção desse programa como na execução dele no dia-a-dia. É uma política pública séria, uma opção corajosa e arriscada que pode mudar a vida das pessoas, servindo de exemplo para outros municípios e estados”, afirmou Alessandro Melchior, que nos próximos meses irá aos Estados Unidos apresentar o programa.

“Agora ninguém mais vai decidir por vocês. O programa abre portas para que os travestis de São Paulo digam: ‘eu também posso’”, disse Chalita. “Nosso papel é dizer que São Paulo não é uma cidade de alguns, é uma cidade de todos. De todas as pessoas que olham para essa grande cidade e sonham em ter uma oportunidade de ser feliz aqui do jeito que são.”

Confira também a reportagem do Seu Jornal, da TVT:

 

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