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Tática policial utilizada em repressão é condenada pelo próprio manual da PM

Isolados por cordões policiais que não permitiam que ninguém entrasse ou saísse da manifestação, manifestantes foram atacados por bombas jogadas pela PM

Reprodução/Justificando

PM cerca manifestação em São Paulo: dia de ditadura

Justificando – Na tarde de ontem (12) a Polícia Militar do Estado de São Paulo optou por uma tática de repressão à manifestação condenada por organizações de direitos humanos e pelo próprio manual de conduta da corporação. Kettling (ou panela de Hamburgo) consiste em cercar e isolar as pessoas dentro de um cordão policial. O nome deriva tanto do termo inglês “kettle” para chaleira, como do alemão “kessel” para caldeirão.

Foi exatamente o que ocorreu na Paulista. Isolados por cordões policiais que não permitiam que ninguém entrasse ou saísse da manifestação, os manifestantes foram surpreendidos com incontáveis bombas de gás lacrimogênio.

A tática, explica Camila Marques, advogada da organização de direitos humanos Artigo 19, viola o próprio Manual de Controle de Distúrbios Civis da Polícia Militar, quando trata sobre o tema.

“A multidão não deve ser pressionada contra obstáculos físicos ou outra tropa, pois ocorrerá um confinamento de consequências violentas e indesejáveis”, diz o Manual de Controle de Distúrbios Civis da Polícia Militar, item 3.2.1.

“Apesar do Caldeirão de Hamburgo ir contra a própria normativa do Estado de São Paulo, a PM vem utilizando essa tática desde 2013, e, desde então, a aprimora nos protestos”, denuncia a advogada.

Na prática, explica Camila, é que desde quando a tática passou a ser utilizada, o resultado não é positivo. “O que nós percebemos foi que uso da tática inicia e aumenta a violência.”

Nas redes sociais, uma foto bem explicativa demonstra como a estratégia Kettling ocorreu.

O especialista em segurança pública e professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie, Humberto Barrionuevo Fabretti, explica que qualquer pessoa, instintivamente, sabe que não se deve encurralar multidões em hipótese alguma, muito menos quando há uma tensão natural entre policiais e manifestantes.

“Cabe ao Estado agir da forma mais racional possível para evitar o confronto e a violência. Cercar os manifestantes e atirar bombas em todas as direções mostra um total desconhecimento de táticas de contenção de manifestações, seria a mesma coisa que tentar apagar uma fogueira com gasolina”, completou.

Já Guilherme Perisse, dos Advogados Ativistas, lembra que a “ação da PM na Paulista contraria frontalmente os Direitos de Reunião, Manifestação e Liberdade de Expressão”. “Além disso, a violência empregada feriu muitas pessoas, o que é inaceitável. Ontem foi um dia de ditadura no centro da cidade.”

Em coletiva de imprensa, o Secretário Estadual de Segurança Pública de São Paulo, Alexandre de Moraes, negou abusos da polícia na tarde de ontem.

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