Debate

Fórum Social Temático alerta para abusos do governo paraguaio

Sindicalista e jornalista falam sobre trabalhadores sem terra presos arbitrariamente

Leonardo Severo/reprodução cut

Ariovaldo: “Curuguaty foi uma armação em prol dos latifundiários”

São Paulo – No segundo dia de Fórum Social Temático de Porto Alegre, o debate “Crime, golpe e farsa no Paraguai” chamou a atenção para a importância de ações em defesa de trabalhadores sem terra, presos políticos há mais de três anos pelo governo Horacio Cartes. A exposição das evidências ficou por conta do secretário adjunto de Relações Internacionais da CUT, Ariovaldo de Camargo, e do jornalista Leonardo Severo.

A apresentação contou ainda com a presença de membros da coordenação geral do Fórum Social Mundial (FSM) do Canadá, que reafirmaram a relevância da solidariedade com o caso. Para Carminda Mac Lorin, da coordenação do FSM Montreal 2016, o caso possui “invisibilidade total” e precisa se tornar conhecido e incorporado à agenda dos que lutam pela liberdade.

Durante o debate, foi exibido o vídeo “Desmontando Curuguaty”, para contribuir na compreensão sobre o tema por parte dos ativistas presentes. De acordo com Ariovaldo, a mídia e o parlamento responsabilizaram o presidente Fernando Lugo, deposto uma semana após o incidente, porém, os fatos apontam em uma direção oposta. “Foi uma armação em prol dos latifundiários e das transnacionais do agronegócio, que conseguiram rapidamente a deposição de um presidente constitucionalmente eleito”, disse.

As oligarquias latifundiárias no Paraguai concentram um grande poder econômico, com representações no parlamento local. De acordo com o último censo, 2,5% dos proprietários detém 86,5% das terras no país vizinho. No massacre ocorrido no dia 11 de junho de 2012, 17 pessoas morreram, sendo 11 camponeses e seis policiais.

“É completamente absurdo pensar que 60 camponeses, metade deles mulheres, crianças e anciãos, pudessem fazer frente a 324 policiais fortemente armados com fuzis Galil, escudos, cavalos, bombas e helicópteros”, apontou Severo. Outro aspecto apontado pelo jornalista como absurdo, é o fato de que o promotor do caso seja vinculado à família de Blas Riquelme, ex-presidente do partido de Alfredo Strossener (ditador de 1954 a 1989). “Seu nome é Jalil Rachid (…) agora, pela sua postura raivosa contra os camponeses e sua aversão à reforma agrária foi nomeado por Cartes para ser o vice-ministro da Segurança”, disse.

Argumentos de diversas ordens, como processual, são apresentados no vídeo. Para exemplificar, o promotor notificou a defesa dos camponeses no dia 16 de outubro de 2012 para realização da perícia, sendo que ela havia acontecido três dias antes. A ação de despejo que culminou no massacre também é citada como duvidosa. As terras, destinadas para fins de reforma agrária são inscritas como de propriedade da empresa do grupo Industrial Paraguaya SA, que em 2007 doou dois mil hectares para a Armada Paraguaia. Logo, o documentário argumenta que as terras, por serem públicas, não poderiam ser objeto de uma ação privada de despejo.

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