Inclusão

São Paulo está mais perto de seu plano municipal para a população de rua

Segunda gestão do comitê intersetorial toma posse com o desafio de desenhar uma política que garanta, de fato, os direitos dessa população excluída

Arquivo/Prefeitura Municipal de São Paulo

Ações como o programa De Braços Abertos foram elogiadas por ativistas ingleses em visita a São Paulo

São Paulo – A segunda gestão do Comitê Intersetorial da Política Municipal da População em Situação de Rua de São Paulo tomou posse hoje (10). Constituído por representantes do governo e da sociedade civil, com mandato de dois anos, o colegiado é responsável pela elaboração do plano municipal de políticas para o setor.

As diretrizes serão construídas a partir do início do próximo ano, quando estará concluído o diagnóstico da situação dessa população. Trabalham nesse levantamento especialistas e uma equipe de pesquisadores formada por pessoas em situação de rua, que foram treinadas e que recebem remuneração. “Toda semana, o grupo se desloca pelas regiões da cidade e entrevista a população de rua, para saber sobre as suas necessidades e reivindicações”, diz Luana Cruz Bottini, coordenadora de Políticas para a População em Situação de Rua.

A cerimônia foi marcada por um seminário sobre iniciativas em arte-educação desenvolvidas pela prefeitura. Entre elas, o projeto Minha São Paulo – O olhar da cidade pela população em situação de rua, que estimula pessoas interessadas em registrar, em foto, aspectos da cidade conforme a sua própria ótica. Na semana passada, foram distribuídas 100 máquinas portáteis com filmes, cada uma para 24 fotos. A iniciativa segue metodologia da organização inglesa CaféArt, que valoriza a arte produzida por essas pessoas.

“Todo ano entregamos máquinas e promovemos um concurso para as pessoas em situação de rua registrarem a cidade em que vivem. As fotos selecionadas ajudam a compor um calendário, que em seu processo também inclui a geração de renda. Essa metodologia já foi utilizada em Vancouver, Londres e neste ano está sendo realizada aqui em São Paulo”, disse o representante da rede With One Voice e diretor da Streetwise, Matt Peacock.

Peacock estava acompanhado por educadores populares e ativistas ingleses, entre eles ex-moradores de rua, que hoje desenvolvem ações para esse público. Todos elogiaram as iniciativas desenvolvidas na cidade, inclusive o Programa De Braços Abertos, na região da cracolândia.

“A situação das pessoas aqui é o contrário do que acontece em Manchester. Lá, eles são invisíveis, aqui são visíveis. Falam, tornam-se visíveis, estão sendo ouvidas, buscam seus direitos. Isso é emocionante. Uma experiência que nós vamos levar conosco”, disse Beth Knowles, coordenadora da organização City Centre Voice.

Morador de um abrigo da Prefeitura de São Paulo, o baiano Diogo Viroli, 35 anos, é um dos finalistas do concurso. “Sempre gostei de fotografar. Antes de vir para São Paulo, há seis anos, fazia fotos para muitos amigos. Eu caprichava, fazia várias fotos para escolher a melhor”, conta o voluntário, que se dedica a ensinar artesanato para outras pessoas em situação semelhante à sua. “Por causa disso já nem tenho me drogado mais”, conta, orgulhoso.

Uma comissão escolheu 20 fotos, que foram expostas na manhã de hoje. Dessas, foram escolhidas 13, por votação secreta dos presentes ao seminário, para compor um calendário. Sua divulgação será entre os dias 6 e 13 de dezembro, durante o 3º Festival de Direitos Humanos – Cidadania nas Ruas, promovido pela Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania.

O projeto Minha São Paulo integra a rede With One Voice, uma parceria da secretaria com as organizações inglesas People’s Palace Projects, Streetwise Opera, British Council e Calouste Gulbenkian Foundation.

Durante o seminário foram apresentados ainda projetos de intervenção cultural na rede de atenção psicossocial como forma de ampliar e democratizar o método teatral. São trechos de peças e balés que têm no Teatro do Oprimido o caminho para o empoderamento de grupos sociais vulneráveis. Um deles é a Companhia Mudança de Cena, que critica as relações entre a polícia e a população jovem, sobretudo da periferia e em situação de rua.

A educação popular para promover os direitos humanos, por meio de intervenções artísticas, é a base de outro projeto A Cor da Rua, desenvolvido em parceria com um dos serviços de extensão da Universidade Federal de São Paulo.