Marcha

Mulheres negras se unem em Brasília contra o racismo e a violência

Segundo organizadores, 20 mil pessoas participaram da manifestação

A manifestação pacífica reuniu cerca de 20 mil pessoas <span>(Marcello Casal Jr/Agência Brasil)</span>A concentração da marcha começou no ginásio Nilson Nelson, na região central da capital federal. O grupo seguiu em caminhada em direção à Praça dos Três Poderes <span>(Marcello Casal Jr/Agência Brasil)</span>'As mulheres negras continuam recebendo os menores salários e são as que mais têm dificuldade para entrar no mundo do trabalho' <span>(Marcello Casal Jr/Agência Brasil)</span>Movimento também teve manifestações contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), também estava presente <span>(Marcello Casal Jr/Agência Brasil)</span>Manifestantes que reivindicam a volta da ditadura e o impeachment de dilma Rousseff ameaçaram as mulheres; um deles chegou a disparar tiros para o alto <span>(Marcello Casal Jr/Agência Brasil)</span>

Brasília – Vinte mil pessoas, segundo os organizadores, ocuparam a Esplanada dos Ministérios durante todo o dia, hoje (18), na 1ª Marcha Nacional das Mulheres Negras, em ato organizado por várias entidades contra a intolerância e o racismo, por igualdade de direitos. A manifestação, pacífica em todo o percurso, só teve um momento de tensão ao se aproximar do local onde um grupo anti-Dilma (e alguns favoráveis à volta dos militares) está acampado há aproximadamente um mês. Dois policiais civis foram presos por atirar para o alto – pelo menos um faz parte do grupo acampado e já havia sido detido na semana passada.

“Nos últimos anos, tivemos um grande processo de reformulação, de mudanças, de ampliação de direitos, de acesso a políticas e a bens e serviços. No entanto, quando a gente faz um recorte racial e de gênero, identificamos que as mulheres negras, um quarto da população, estão em condição de vulnerabilidade, de fragilidade, sem garantias”, afirmou uma das coordenadoras do ato, Valdecir Nascimento, coordenadora-executiva do Instituto da Mulher Negra da Bahia (Odara).

“A democracia só vai se consolidar quando a sociedade não permitir o racismo. Vamos dizer a esse Congresso machista e racista que a discriminação racial não dá mais nesse país”, acrescentou a secretária de Combate ao Racismo da CUT, Maria Julia Nogueira.

De acordo com dados do último Censo, de 2010, as mulheres negras são 25,5% da população brasileira – aproximadamente 48,6 milhões de pessoas. Outros dados demonstram que se trata de um setor social vulnerável: entre as mulheres, as negras são as maiores vítimas de crimes violentos. De 2003 para 2013, o assassinato de mulheres negras cresceu 54,2%, segundo o Mapa da Violência 2015: Homicídios de Mulheres no Brasil. No mesmo período, o índice de assassinatos de mulheres brancas recuou 9,8%, segundo estudo feito pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), a pedido da ONU Mulheres.

“A marcha quer falar de como um país rico como o Brasil não assegura o nosso direito à vida. Queremos um novo pacto civilizatório para o país. O pacto atual é falido e exclui metade da população composta por mulheres e homens negros”, diz Valdecir.

Junto às bandeiras estavam a diretora executiva da ONU Mulheres, Phumzile Mlambo-Ngcuka, ex-vice-presidenta da África do Sul, e a ex-integrante do grupo Panteras Negras e do Partido Comunista dos Estados Unidos Angela Davis.

“O Brasil vive um momento de fazer o desenvolvimento das mulheres negras fora da pauta. Nós não admitimos isso. Agora queremos decidir no poder, não vamos delegar a nossa representação a ninguém. Essa é a grande virada”, disse Vilma Reis, socióloga, ativista do Movimento de Mulheres Negras, ouvidora-geral da Defensoria Pública do Estado da Bahia.

O movimento listou as seguintes pautas reivindicadas pelas mulheres negras:

– O racismo, o machismo, a pobreza, com a desigualdade social e econômica, tem prejudicado nossa vida, rebaixando a nossa auto-estima coletiva e nossa própria sobrevivência;

– O fortalecimento da identidade negra tem sido prejudicado ao longo dos séculos pela construção negativa da imagem da pessoa negra, especialmente da mulher negra, desde a estética (cabelo, corpo etc.) até ao papel social desenvolvido pelas mulheres negras;

– As mulheres negras continuam recebendo os menores salários e são as que mais têm dificuldade para entrar no mundo do trabalho;

– A construção do papel social das mulheres negras é sempre pensada na perspectiva da dependência, da inferioridade e da subalternização, dificultando que nós possamos assumir espaços de poder, de gerência e de decisão, quer seja no mercado de trabalho, quer seja no campo da representação política e social;

– As mulheres negras sustentam o grupo familiar desempenhando tarefas informais, que as levam a trabalhar em duplas e triplas jornadas de trabalho;

– Ainda não temos os nossos direitos humanos (direitos civis, políticos, econômicos, sociais, culturais e ambientais) plenamente respeitados.

  • Com informações dos Jornalistas Livres e da Agência Brasil

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