má interpretação

Polêmica sobre Beauvoir aponta necessidade de discutir gênero desde a educação de base

Para a feminista e filosofa Djamila Ribeiro, ofensas à de Beauvoir têm a intenção de desqualifica-la, pois a autora 'ousou estudar a questão do sexo feminino'

Divulgação

Frase de Simone de Beauvouir “ninguém nasce mulher, torna-se mulher”, foi abordada no ENEM deste ano

São Paulo – A frase de Simone de Beauvoir “ninguém nasce mulher, torna-se mulher”, a partir da qual foi desenvolvida uma das questões do Exame Nacional do Ensino Médio 2015 (Enem), resultou numa série de más interpretações sobre a autora, o que chamou a atenção sobre a necessidade de incluir o pensamento da filósofa francesa na grade curricular do ensino brasileiro, afirma a feminista e mestre em Filosofia pela Universidade Federal de São Paulo Djamila Ribeiro. “Fica claro que é necessário que Simone Beauvoir precisa ser mais estudada, pois até na faculdade de filosofia muitas filósofas mulheres não são estudadas.”

Em entrevista à repórter Anelize Moreira, da Rádio Brasil Atual, Djamila diz que, apesar de ter ganho visibilidade, a polêmica mostrou a necessidade de debater as questões de gênero, desde o início da formação escolar. “É extremamente importante, porque trouxe um debate para o cenário, e ao mesmo tempo, mostra o quanto é necessário estudar esse tema desde a educação de base. Temos dificuldade de abordar o tema na escola.”

Para Djamila, os ataques à autora foram uma tentativa de desqualificar a obra e a pessoa de Simone de Beauvoir. “Eu estudo a obra dela e recebi várias mensagens ofensivas, com a intenção de destruir a Simone como ser humano, em vez de discutir e interpretar a obra dela. Isso com certeza acontece por se tratar de uma mulher que ousou estudar a questão do sexo feminino.”

Apesar das conquistas de direitos das mulheres, fruto de movimentos feministas do século 20, Djamila Ribeiro ressalta que a desigualdade de gênero é grande em uma sociedade patriarcal. “Quando a Simone de Beauvoir fala que ‘nos tornamos mulheres’, ela quer dizer ‘as mulheres nascem em uma sociedade onde já existe uma imposição de como devem se comportar e ser; dentro desse modelo de sociedade, a mulher ocupa um lugar subalterno.'”

“As oportunidades não são iguais, as mulheres enfrentam a opressão machista, o que não possibilita que a mulher ‘transcenda’, então a gente precisa de políticas públicas, de mecanismos de inclusão para que possamos superar essa situação de desigualdade”, conclui.

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