Prêmio Herzog

Recorde de inscritos mostra país em débito com direitos humanos

Para Ivo Herzog, as 612 inscrições para o prêmio de jornalismo – maior número nos últimos dez anos – revelam escalada preocupante de violência policial, tema mais presente entre os trabalhos

Divulgação/Facebook

Prêmio carrega simbologia na luta pela liberdade democrática e valoriza o trabalho de jornalistas

São Paulo – O presidente do Instituto Vladimir Herzog, Ivo Herzog, afirma que o número de candidatos inscritos na edição deste ano do Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos é preocupante. “É uma novidade ruim. Passados 40 anos da morte do meu pai, infelizmente, o tema não está melhorando. Estamos em um momento desafiador”, observou, alertando para o grande número de reportagens relacionadas à violência policial, durante o evento de premiação realizado ontem (20), em São Paulo.

A ministra Nilma Lino Gomes, da Secretaria da Mulher, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, admitiu que o país ainda tem muito a avançar nessas área abrangidas pela Pasta recém-criada. Segundo ela, políticas hoje consideradas “de governo” precisam ser consolidadas na forma de políticas de Estado, para que não sejam fragilizadas ao sabor da alternância de comando das administrações.

Entre os premiados deste ano, houve menções às carreiras de Mino Carta, 82 anos, e de Mauro Santayna, 83. Mino dirigiu as equipes de criação do Jornal da Tarde (Grupo Estado) e das revistas Veja e Quatro Rodas (Abril) nos anos 1960, e de Istoé, Senhor, e Jornal da República nos anos 1970. Desde 1996, dirige a redação da semanal CartaCapital. “Algumas ilusões”, disse, sobre o que ainda o move a exercer o ofício. “A liberdade hoje só serve aos poderosos”, constatou, concluindo que a luta em questão, no jornalismo, na política e na sociedade, é “pela igualdade”.

O também veterano Audálio Dantas, 86 anos, representou na festa o amigo Santayana. Para Audálio, Mauro Santayana ainda está “entre dois ou três melhores textos do jornalismo brasileiro”. E durante dez anos, em meio à ditadura, em que teve de viver no Uruguai, México, Cuba, Tchecoslováquia e Alemanha, nunca se limitou à mera condição de exilado. “Foi sempre jornalista.”

Homenagens póstumas foram feitas aos escritores e jornalistas Daniel Herz, por sua contribuição à imprensa nacional, e Eduardo Galeano, para a imprensa latino-americana. Herz, morto em maio de 2006 aos 52 anos, escreveu em 1986 A História Secreta da Rede Globo, um dos primeiros livros-reportagem a respeito do surgimento, do crescimento e das relações da emissora com a ditadura. A obra foi base para o filme Beyond Citizen Kane (Muito Além de Cidadão Kane, 1993), do documentarista britânico Simon Hartog.

Presente à premião, a filha do uruguaio Eduardo Galeano, Verônica, advertiu que a falta de transparência e o moralismo da mídia latino-americana proporcionam a criação de tabus que prejudicam as políticas de prevenção a doenças, como o câncer, que matou seu pai aos 75 anos, em abril deste ano. “Meu pai era tabagista e morreu de câncer no pulmão”, disse, criticando os floreios da imprensa ao se referir a episódios como os do autor de As Veias Abertas da América Latina (1971) que “morreu depois de uma longa luta” contra a doença. “A imprensa trata o câncer como tabu, e o tabu é primo da censura.”

Ouça a reportagem de Anelize Moreira, na Rádio Brasil Atual.

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