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Frente Povo Sem Medo vê Cunha como símbolo do retrocesso

Centenas de militantes de movimentos sociais e sindicatos se reuniram para o lançamento da Frente que pretende lutar por reformas de base, contra o ajuste fiscal e o avanço do conservadorismo

Alice Vergueiro/Folhapress

São Paulo – O presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha (PMDB/RJ), foi lembrado ontem (8) por militantes sociais e sindicais que compõem a Frente Povo Sem Medo, como principal representante das forças conservadoras na ofensiva contra os direitos sociais e dos trabalhadores. “Nós dizemos ‘Fora, Cunha’, que representa o que há de pior no conservadorismo do Congresso Nacional”, afirmou a militante do movimento RUA Débora Cavalcante. As declarações foram feitas na noite de ontem durante lançamento da frente.

Nas últimas semanas vieram à tona confirmações de que o presidente da Câmara tem contas não declaradas na Suíça, com US$ 5 milhões. O valor é o mesmo que foi informado pelo doleiro Alberto Yousseff em delação premiada na Operação Lava Jato, que investiga a corrupção na Petrobras.

Cunha é também o principal articulador de pautas que são inadmissíveis para os movimentos, como a terceirização irrestrita, a redução da maioridade penal, o Estatuto da Família, inserir na Constituição o financiamento privado de campanhas – que já foi considerado ilegal pelo Supremo Tribunal Federal (STF) – e o impeachment da presidenta Dilma Rousseff. “Nós somos contra qualquer saída à direita e este impeachment, da forma como vem sendo construído, é uma saída à direita”, afirmou o coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos.

Centenas de militantes de pelo menos 30 movimentos sociais e sindicatos se reuniram no Centro Trasmontano, no centro da capital paulista, para o lançamento do coletivo, que pretende lutar por reformas de base, como a política, a tributária e a das comunicações, e contra o ajuste fiscal e o avanço do conservadorismo, representado por pautas como as patrocinadas por Cunha, além dos cortes nos programas sociais.

“É na prevalência dessa agenda que Cunha quer atacar os direitos sociais e dos trabalhadores”, ressaltou Adilson Araújo, presidente da Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB). Ele destacou o projeto em tramitação na Câmara que faz prevalecer os acordos coletivos entre patrões e empregados sobre a legislação trabalhista. “É como voltar à escravidão”, afirmou.

A candidata à presidência pelo Psol na eleição de 2014, Luciana Genro, esteve presente para expressar apoio à frente e não poupou críticas ao governo federal. Mas considera inaceitável a tentativa de tomada de poder “no tapetão”. “Causa repulsa ver Cunha com conta na Suíça e Augusto Nardes (ministro do TCU), envolvido na Operação Lava Jato, tentarem tomar o poder para aplicar eles mesmos um ajuste fiscal ainda pior contra a população.”

Ativismo

A frente terá três eixos de atuação. O primeiro é combater políticas de austeridade, como o ajuste fiscal, os cortes em programas sociais e o arrocho salarial dos servidores federais. O grupo também pretende combater as políticas conservadoras e apresentar uma saída à esquerda para a crise. Segundo Boulos, o objetivo da frente é “contribuir para um novo ciclo de mobilizações sociais no país” e fazer o trabalho de base nas periferias como método fundamental para “acumular forças para uma saída à esquerda para a atual crise política e econômica”.

Como forma de resolver a crise econômica, os movimentos defendem a taxação das grandes fortunas, que renderia cerca de R$ 100 bilhões por ano; o combate à sonegação fiscal, que neste ano sangrará R$ 500 bilhões anuais dos cofres públicos; a auditoria da dívida pública e a taxação de lucros e dividendos das empresas. “Lutar por mais direitos, neste momento, é lutar contra o ajuste fiscal, que penaliza os trabalhadores e a juventude. O povo não deve pagar a conta”, afirmou Carina Vitral, presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE).

Os militantes pretendem pressionar o Congresso Nacional e o governo federal para avançar em reformas, como a do sistema político, do Judiciário, das comunicações, a tributária, a urbana e a agrária, tendo na primeira um de seus pontos principais. “Precisamos de força para mudar este país, fazer a reforma política vedando com o financiamento privado de campanhas que sustenta o conservadorismo. E acabar com esse absurdo de uma faxineira ser processada por pegar um bombom e alguém com 5 milhões de dólares na Suíça não ser investigado”, afirmou Barbara Melo, militante da União Brasileira de Estudantes Secundaristas (Ubes).

Os movimentos e centrais pretendem usar de todos os instrumentos de luta social disponíveis para isso: passeatas, ocupações, greves. “Não vamos deixar que os trabalhadores paguem pela crise. Bancários e metalúrgicos já estão em greve. Essa é a resposta que daremos aos patrões que querem arrochar salários e acabar com direitos”, afirmou Douglas Izzo, presidente da CUT-São Paulo.

Os primeiros atos da Frente Povo Sem Medo serão em 8 de novembro, dia em que já estão previstas manifestações em várias cidades. Em São Paulo, deverá ser na Avenida Paulista, que tem sido o local de referência para os grupos conservadores realizarem protestos por impeachment, pela volta da ditadura e contra os programas sociais.

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