São Paulo

Metroviários veem na privatização da Linha 5-Lilás mais precarização e menos qualidade

Trabalhadores realizaram protesto ontem com objetivo de denunciar à população a proposta de Alckmin, que seria uma forma de acertar contas com financiadores de campanha

Folhapress

Para os metroviários, superlotação e atendimento precário da Linha 4-Amarela vão se estender a outros ramais

São Paulo – Dezenas de metroviários realizaram ontem (1º) um protesto na estação Capão Redondo, da linha 5-Lilás do Metrô paulista, contra a proposta do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), de privatizar o trecho em operação e a construção do trecho restante. O recém-criado Comitê de Defesa do Metrô Estatal, organizado pelo Sindicato dos Metroviários de São Paulo com sindicatos e movimentos sociais, organizou o protesto com o objetivo de denunciar à população que privatizar significa “diminuição da qualidade do serviço, mais superlotação, precarização e redução dos postos de trabalho”.

Em construção desde 1998, a linha 5-Lilás teve as primeiras cinco estações, ligando Capão Redondo ao Largo Treze, na zona sul, entregues em 2002. Daí a construção ficou parada até 2009. A expansão da linha 5-Lilás começou orçada em R$ 6,9 bilhões e atualmente tem previsão de custo de R$ 9,1 bilhões. Alckmin já remarcou a data de inauguração das estações várias vezes, sendo a última previsão para 2018. Faltam ainda 11 estações, ligando a região de Santo Amaro à Chácara Klabin, na região sudeste da cidade, em conexão com a Linha 2-Verde.

A expansão iniciada em 2009 foi novamente paralisada em 2010, por suspeita de fraude e formação de cartel entre as empresas, com a participação de funcionários da gestão Alckmin. O objetivo era garantir que todas as empresas tivessem uma parte na obra. O esquema de corrupção pode ter causado um rombo de R$ 350 milhões e o processo ainda está em andamento na Justiça.

O governador fez o anúncio em 21 de julho e deixou em aberto a possibilidade de estender a concessão para outros ramais, como os monotrilhos das linhas 17-Ouro e 15-Prata. Este último foi colocado em operação comercial no mês passado, com apenas duas estações em operação, das 17 previstas. O primeiro estava prometido para a Copa do Mundo de 2014, mas ainda não tem nenhuma estação entregue.

Para o vice-presidente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, Flávio Rogério Gomes dos Santos, a privatização não vai melhorar o serviço. “Privatizar é transformar o transporte em uma mercadoria e ele ser regido pelos interesses do lucro e não pelos da população”, disse, em entrevista ao jornal Brasil de Fato.

O comitê lembrou que outras experiências de privatização, como a da Linha 4-Amarela – operada pelo Consórcio ViaQuatro –, que liga o Butantã, na zona oeste, à Luz, no centro da capital, somente precarizou as condições de trabalho e não representou melhora no atendimento da população. “Menos trens são oferecidos e há mais insegurança no sistema, uma vez que há muito menos funcionários e os trens circulam sem operador. As condições de trabalho dos funcionários da ViaQuatro são péssimas, além de baixos salários e poucos direitos”, defendem as entidades.

A motivação principal do governador para privatizar as linhas do Metrô paulista, na avaliação de Santos, é garantir o financiamento de campanhas eleitorais. “As empresas que receberam concessão das outras linhas já privatizadas – 4-Amarela e 6-Laranja, que vai ligar a estação São Joaquim, da linha 1-Azul à Brasilândia, na zona norte – são as mesmas empresas que financiaram a campanha eleitoral dele. Então, ele está querendo devolver, a favor da eleição, o patrimônio público”, acusou.