Memória

Relatório Final da Comissão da Verdade é relançado em SP

Em entrevista, o ex-deputado Adriano Diogo lembra da importância de conhecer as atrocidades cometidas durante a ditadura, no momento em que manifestações de rua pedem pelo retorno dos militares

CNV

“Que história é essa, desse bando de malucos que vem para a rua agora falando que quer a volta da ditadura?”

São Paulo – Em dezembro do ano passado, a Comissão Nacional da Verdade (CNV) entregou para a presidenta Dilma Rousseff o relatório final, com mais de quatro mil e trezentas páginas. Depois de dois anos e sete meses de trabalho, a comissão levantou informações sobre as graves violações de direitos humanos que ocorreram entre 1946 em 1988.

Na semana passada, o relatório foi relançando, em São Paulo, por iniciativa da Comissão da Memória e Verdade (CMV) da prefeitura paulistana. Para Adriano Diogo, ex-deputado estadual (pelo PT), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo e que conduziu os trabalhos da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva”, trata-se do mais importante documento produzido no Brasil.

“O que se produziu foi um relatório maravilhoso, só que esse relatório está encaixotado”, diz Diogo, apontando a falta de visibilidade oferecida ao material, em entrevista concedida nos estúdios para a edição de ontem (38) do Seu Jornal, da TVT. “É uma forma que nós encontramos para dizer ‘cadê os nossos companheiros que foram assassinados?'”, relata o ex-deputado.

Sobre a importância do relatório no contexto atual de tensionamento político, o deputado indigna-se com as manifestações de ódio e com os que pedem pela volta dos militares. “Que história é essa, desse bando de malucos que vem para a rua agora falando que quer a volta da ditadura, que quer isso ou aquilo, se nem as recomendações do relatório foram atendidas? Por que o governo brasileiro está tão acovardado, diante da sua maior obra, que foi o relatório da CNV?”

Emocionado, Adriano Diogo diz que a sua atuação à frente da Comissão da Verdade, em São Paulo, “foi o trabalho mais sério” que já realizou. Ele compara a importância de cultivar a verdade e a memória do período da ditadura, no Brasil, com o impacto que a história da Segunda Guerra Mundial teve em sua formação.

“Eu sou dessa geração que lia O Diário de Anne Frank todos os dias. No Brasil, não pode acontecer essas coisas, desses caras virem às ruas, caras que eram torturadores confessos, e agora virem na Avenida Paulista fazer discurso e serem aplaudidos”, indigna-se mais uma vez, e diz temer “um clima de guerra civil instalado nas ruas”. “As pessoas se agredindo, se maltratando, porque está sendo feito um trabalho de ódio, todos os dias.”