Xenofobia

Haitianos atacados no centro de SP passam por cirurgia para retirada de bala de chumbinho

Seis imigrantes foram atingidos na rua do Glicério; manifestações de ódio e xenofobia crescem no país

Heloisa Ballarini / SECOM

Ataque foi próximo à Igreja Nossa Senhora da Paz, que recebe imigrantes

São Paulo – Seis haitianos sofreram um ataque na Rua do Glicério, região central de São Paulo, na madrugada do dia 2. A informação, que veio a público agora, por meio da Missão de Paz, aponta para um agressor em um carro cinza que desferiu tiros de chumbinho contra os imigrantes. Três deles ficaram com projéteis alojados no corpo e segundo a Secretaria Municipal de Saúde, devem ser operados hoje (10) no Hospital Municipal do Tatuapé, na zona leste, para remoção da munição. Os demais têm quadro estável.

A polícia investiga o caso, relatado em boletim de ocorrência pelo padre Paulo Parisi, da Missão de Paz, que recebe imigrantes na Igreja Nossa Senhora da Paz, na mesma região do atentado. A Secretaria da Segurança Pública divulgou uma nota afirmando que “a polícia está colhendo o depoimento dessas vítimas e de testemunhas, e não irá revelar detalhes para não comprometer a investigação”.

A suspeita é de que os crimes foram motivados por discriminação. A Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania está acompanhando o caso por meio do Centro de Referência e Acolhida para Imigrantes. Segundo a secretaria, os haitianos foram socorridos inicialmente na Assistência Médica Ambulatorial, na Sé. Em seguida, foram transferidos para a Santa Casa de Misericórdia, onde receberam alta.

Para o militante da União de Núcleos de Educação Popular para Negras/os e Classe Trabalhadora (UNEafro Brasil) Clayton Borges, a violência representa “uma repetição de diversos outros crimes sofridos por imigrantes no país”.

Borges argumenta que o caso pode ser reflexo de duas situações. “A primeira é o racismo em si e a forma como os brasileiros manifestam sua xenofobia, a segunda, mais profunda, uma necessidade de reformulação de leis de imigração”, diz.

O aumento recente da imigração amplifica as vozes do ódio e do preconceito. “Em um período de cinco a dez anos pra cá, alguns grupos se tornaram mais presentes e visíveis. As novas ondas e fluxos maiores chamam a atenção. Além do tipo físico, questões culturais, infelizmente, despertam manifestações racistas”, afirma o militante.

Ondas de ódio

Outra análise possível são as formas de discriminação que vêm sendo fomentadas pelo crescente discurso de ódio conservador com características xenofóbicas e nacionalistas. Recentemente, em Canoas (RS), um rapaz – Daniel Barbosa – fez um vídeo promovendo insultos a um trabalhador haitiano.

Ostentando um boné com a bandeira brasileira, um uniforme camuflado e um chaveiro do Batalhão de Operações Especiais (Bope) do Rio de Janeiro, o agressor se dirige ao rapaz enquanto ele trabalha, como frentista. “Aqui tem um dos milhares de haitianos trazidos pelo governo comunista da Dilma Rousseff”, diz.

Com voz alterada, o homem segue a hostilidade contra o trabalhador questionando se ele tem “treinamento de guerrilha” e dizendo que o imigrante “trazido pela Dilma Rousseff, pelo Foro de São Paulo e pelo crime organizado tem emprego garantido no Brasil”. “Parabéns, você é competente. Aqui no Brasil somos todos incompetentes, entendeu isso?”, conclui.

Com informações da Agência Brasil


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