violência no campo

Sem-terra negam ter alvejado avião que atacou acampamento em Minas: ‘Mirabolante’

Dois aviões soltaram rojões sobre 200 famílias acampadas na tarde de ontem (14). Um deles caiu causando a morte do piloto, que era prefeito de Central de Minas, e de uma pessoa não identificada

MST/Divulgação

Destroços do avião após a queda

São Paulo – O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) negou hoje (15) que as famílias acampadas na Fazenda Casa Branca, em Tumiritinga (MG), tenham alvejado o avião que atacou acampamento na tarde de ontem. A aeronave caiu e duas pessoas morreram, uma delas o prefeito de Central de Minas, Genil Mata da Cruz, acusado de ser o responsável pelo ataque. Os motivos do acidente ainda não foram esclarecidos e a segunda vítima não foi identificada. A perícia começará ainda hoje.

A assessoria de imprensa do MST informou, por telefone, que a acusação divulgada em alguns veículos de imprensa de que os sem-teto teriam alvejado o avião é “mirabolante” e que as famílias não têm meios de derrubar uma aeronave.

Segundo o relato dos sem-terra, os aviões deram rasantes sobre o acampamento durante uma hora e soltaram rojões sobre as 200 famílias acampadas. Os trabalhadores rurais ocuparam a fazenda, de 420 alqueires, no último dia 5. A área, considerada improdutiva, pertencia à empresa Fíbria, mas teria sido adquirida por Genil Mata da Cruz.

O suposto proprietário, no entanto, não possuía nenhum documento que comprovasse a propriedade do imóvel, o que impossibilitou uma ação de reintegração de posse, segundo o MST. A RBA procurou as prefeituras de Tumiritinga e Central de Minas, mas não obteve contato com nenhuma delas. A Polícia Militar informou que o local do acidente está sendo preservado até o início das investigações.

No último sábado (11), representantes do governo de Minas Gerais e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) estiveram no local e se reuniram com o suposto proprietário, com a Polícia Militar e com a coordenação do MST, na tentativa de iniciar uma negociação. No entanto, por volta das 16h de ontem dois aviões começaram sobrevoar o acampamento efetuando disparos sobre os acampados, entre eles mulheres, jovens, crianças e idosos. “As famílias viveram momentos de terror. Em meios aos ataques um avião caiu e pegou fogo”, informou o MST em nota.

Este é o segundo ataque contra as famílias acampadas na Fazenda Casa Branca. Segundo o MST, na madrugada da última sexta-feira (10), pelo menos 12 pistoleiros invadiram o acampamento e soltaram fogos de artifício contra as barracas. Uma pessoa foi atingida e sofreu pequenas queimaduras no corpo. Com a chegada da polícia, os pistoleiros fugiram em dois tratores blindados que acompanhavam a ação. Um deles atolou e foi deixado para trás. Antes disso, as famílias já haviam se deparado com rondas noturnas na área e registraram um boletim de ocorrência na delegacia local.

Segundo informações do MST, além de prefeito de Central de Minas, Genil Mata da Cruz, filiado ao PP, era dono da Rede Gentil, uma das maiores redes de posto de combustível na região. Em 2013 foi acusado de tráfico de combustível e em 2006 foi investigado pela Polícia Federal por ter financiado viagens ilegais de brasileiros aos Estados Unidos, em um caso enquadrado como tráfico de pessoas. Em 2001, foi denunciado pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais por ter construído um posto de gasolina sem licença ou autorização ambiental.

“Não sabemos as circunstâncias de tal acidente (…) Isso cabe às autoridades investigar. O que nós, do MST, temos feito é nos colocar à disposição para o diálogo para fazer avançar a reforma agrária, mesmo que esta esteja praticamente paralisada. Essa disposição nunca nos faltará, mesmo com vários tipos de violência que temos sofrido, como o massacre de Felizburgo, em Eldorado dos Carajás, entre outros”, conclui a nota.

Leia também

Últimas notícias