crise aumenta

Ituanos desconfiam de intervenção da prefeitura em empresa de águas

Empresa Águas de Itu vai ficar sob intervenção por seis meses e deve passar também por auditoria, segundo decreto municipal publicado ontem (11)

Danilo Ramos/RBA

No desespero por conta da seca, moradores de Itu captaram água em todos os lugares que encontraram

São Paulo – Um ano após a deflagração da pior falta de água da história da cidade do interior paulista Itu, o prefeito Antônio Luiz Carvalho Gomes, o Tuíze (PSD), nomeou ontem (11) um interventor para fazer a gestão da empresa privada Águas de Itu, que administra o sistema, e determinou a realização de uma auditoria em até 180 dias. Porém, a população do município avalia que pouca coisa vai mudar com essa medida.

“A prefeitura é tão pouco transparente quanto a empresa. Já estamos vivendo o período de seca e continuamos sem saber se vamos ter racionamento, como estão os reservatórios, qual a situação de verdade”, reclamou a moradora e assistente administrativa Rosana Metzner. As ações da prefeitura resumiram-se a aplicar R$ 10 milhões em multas à empresa e determinar a liberação de todos os poços artesianos para captação de água para a população.

De acordo com o Decreto Municipal 2.336, de 2015, a intervenção será aplicada devido aos “sucessivos descumprimentos de obrigações contratuais por parte da empresa”. O interventor nomeado é o administrador de empresas Elso Marques, que não fazia parte da administração municipal.

“Não fazemos ideia de quem é. Não houve nenhum diálogo com a população sobre a ação, apesar de terem sido colhidas milhares de assinaturas no ano passado, em um abaixo-assinado que pedia intervenção na empresa”, comenta Rosana. A moradora lembra que, durante os cerca de dez meses em que a população conviveu com um racionamento extremo, o prefeito desapareceu e a população teve de se virar para conseguir água.

O contrato de concessão com a empresa Águas de Itu foi assinado em Julho de 2007 e compreende uma série de obras que deviam ter sido realizadas pela empresa. A Agência Reguladora dos Serviços Delegados do Município alegou que a concessionária descumpriu o contrato de concessão e não executou os investimentos previstos, ocasionando problemas nos serviços prestados.

O decreto de intervenção prevê ainda a revogação do aumento da tarifa de água em 33%, aplicada há dois meses, e que o poder público assegure a conclusão das obras de captação de água nos córregos Mombaça e Pau D’alho. Essas intervenções são consideradas indispensáveis para garantir a continuidade do abastecimento de água no município e evitar cenário de desabastecimento semelhante ao ocorrido no município no segundo semestre de 2014.

Porém, tais obras já estavam em andamento quando a RBA visitou Itu, em outubro do ano passado (leia link abaixo). A do ribeirão Mombaça, que fica a 22 quilômetros da cidade, estava prevista para ser entregue em janeiro deste ano. Consiste na instalação de dutos e sistemas de bombeamento para trazer 280 litros de água por segundo, suficiente para abastecer cerca de 100 mil pessoas.

Atualmente, segundo Rosana, não há racionamento de água em Itu. Em outubro, quando a reportagem visitou o município, alguns bairros estavam sem água há 45 dias. Os moradores recorriam à empresa de bebidas Brasil Kirin – que por força do decreto municipal instalou mangueiras na entrada da sede para fornecer água à população – e a praça Fonte Nova, que possui uma fonte pública. Algumas pessoas chegavam a pegar água em fontes de potabilidade duvidosa.

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