São Paulo

Índios exigem que MJ declare aldeia de Parelheiros como terra indígena

Para pressionar o poder público, os Guarani saíram ontem (18) em passeata pela avenida Paulista. Há 18 dias, aldeia do Jaraguá foi reconhecida pelo ministro como território indígena

Danilo Ramos/ RBA

“Foi muito emocionante”, diz líder da aldeia sobre a notícia do reconhecimento da terra

São Paulo – Indígenas guarani de São Paulo saíram em passeata ontem (18) para reivindicar que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, assine portaria declaratória reconhecendo a aldeia Tenondé Porã, em Parelheiros, na zona sul da cidade, como terra indígena. O protesto – que seguiu do vão livre do Masp, na avenida Paulista, à Praça Roosevelt, no centro – foi realizado 18 dias após Cardozo ter reconhecido a indígena do Jaraguá como terra indígena, impedindo sua reintegração de posse, que estava marcada para ocorrer entre 25 e 29 de maio.

Na aldeia Tenondé Porã vivem 4 mil indígenas. “Temos um grave problema, pois se trata de uma área de proteção ambiental com muitos recursos naturais, o principal deles é a água. Temos receio que com a falta de água as pessoas comecem a invadir a área, sem se preocupar com o manejo sustentável. Nós sabemos que precisamos dessa terra para viver nosso nhaderecó, que é o modo de vida tradicional guarani. Nós vamos proteger esse território e no futuro ele pode ser uma fonte de água para São Paulo”, afirmou uma das lideranças da aldeia de Parelheiros, Jera Guarani.

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O ministério afirma que um dos problemas é uma contestação do governo do estado de São Paulo, mas os indígenas afirmam que, na verdade, a dificuldade é alinhar as políticas de planejamento com o Ibama e a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, já que se trata de uma área de proteção ambiental.

Durante o ato, os indígenas, adultos e crianças, realizaram danças circulares, cantaram e rezaram seguindo as tradições Guarani. Quando a passeata chegou na rua da Consolação, os indígenas apontaram armas para uma pintura que representa José de Anchieta e alguns índios.

“Para nós, essas imagens e esse culto dos paulistanos aos bandeirantes e aos jesuítas significa a falta de conhecimento e de respeito ao massacre que nosso povo sofreu no passado. Foi um momento em que o juruá (homem branco) achou que tinha o direito de acabar com a nossa cultura para vivêssemos como ele. Hoje estamos aqui para mostrar que resistimos por mais de 500 anos, que a nossa cultura existe e que vamos lutar por ela”, disse Davi Martins, outra liderança da aldeia.

A reintegração de posse da aldeia do Jaraguá havia sido determinada em 26 de março, pelo desembargador Antonio Cedenho, antes mesmo do julgamento da juíza federal responsável pelo caso, Leila Morrison. Para tentar reverter a decisão, a Advocacia Geral da União, representando a Funai, acionou o Tribunal Regional Federal para pedir suspensão da medida, em 3 de abril. O terreno, que era reivindicado pelo ex-deputado e ex-prefeito de São Bernardo do Campo Tito Costa, já havia sido reconhecido como área tradicional pela Fundação Nacional do Índio (Funai).

Sônia Barbosa de Souza, também líder na aldeia, lembrou emocionada do momento em que receberam a notícia da assinatura da portaria pelo Ministério da Justiça. “Ficamos sem saber o que dizer. Nós questionávamos, ainda sem acreditar: ‘É isso mesmo, é verdade?’. Nós estávamos dentro de uma casa de reza e de repente chegou uma pessoa dizendo que recebeu uma ligação e que o ministro havia assinado. Foi muito emocionante. Eu chorei muito e até hoje me emociono quando falo e lembro de tudo isso.”

Atualmente, os guaranis do Jaraguá se concentram em dois terrenos: um de 1,7 hectare (equivalente a dois campos oficiais de futebol), já homologado pela União como terra indígena, chamada Teko Utu. A outra área, em frente à primeira, tem 2,6 hectares e ainda está em processo de regularização – é chamada pelos moradores de Teko Pyau.

Confira a reportagem da Rádio Brasil Atual:

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