Jardim União

Famílias esperam que novo encontro com CDHU acabe com ameaça de despejo

Ocupação no extremo sul de São Paulo conta com creche, cooperativas, espaços culturais coletivos e hortas comunitárias, mas pode ser despejada em 15 dias

Márcia Minillo/RBA

Para muitas famílias, moradia na ocupação é a primeira em que o aluguel deixou de ser o principal gasto familiar

São Paulo – Os moradores da ocupação Jardim da União, no bairro do Mangue Seco, no extremo sul de São Paulo, esperam encerrar amanhã (15) a angústia sobre a continuidade ou não da vida na área ocupada desde outubro de 2013. Uma reunião entre os ocupantes, a Defensoria Pública e a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) – proprietária do terreno de 84 mil m² – pode finalmente selar um acordo para prover habitação de interesse social às cerca de 600 famílias que moram no local. Porém, uma ordem de reintegração de posse, pedida pela própria CDHU, já tem data: 1º de julho.

“A nossa esperança é que a gente consiga suspender a reintegração e avançar na negociação sobre a construção de moradias para as famílias. O que não queremos mais é ficar nessa indefinição”, explica a cuidadora de idosos Valéria Silva, moradora da ocupação. Desde que a área foi ocupada, os moradores “já perderam a conta” de quantas reuniões foram realizadas. E mesmo a reintegração de posse já foi adiada duas vezes. Segundo eles, a área está desocupada há dez anos.

No entanto, a CDHU informou por meio de nota que no local “serão construídas 517 unidades habitacionais para atendimento à demanda do município de famílias de áreas de mananciais já cadastradas nas esferas municipal e estadual”, indicando que não deve desistir da reintegração de posse. A estatal disse ainda que, e em parceria com a prefeitura de São Paulo, “vem auxiliando o movimento na busca de uma solução definitiva de moradia no âmbito do Programa Minha Casa Minha Vida – Entidades”.

“As pessoas não têm para onde ir e já fizeram daquele local o seu lar. Se ocorrer um despejo, muitas delas vão ficar na rua e certamente vão realizar outra ocupação depois. Queremos uma solução e estamos dispostos a negociá-la”, afirmou Valéria. A moradora disse ainda que as famílias não descartam ocupar novamente a CDHU, caso as negociações não avancem. “Vamos seguir lutando”, completou.

Como estas, milhares de famílias devem ser colocadas nas ruas este ano, devido a reintegrações de posse. Reportagem da TVT denuncia que a capital paulista deve ter 50 despejos neste ano, afetando até 12 mil famílias.

O Jardim da União surgiu no bojo de uma série de ocupações que ocorreram em São Paulo entre junho e julho de 2013. Começou em uma área particular no bairro Jardim Itajaí, em julho daquele ano. Os moradores foram despejados de lá seis vezes. Na última, em meados de setembro de  2013, com muita truculência, houve sumiço de pertences, uso de força excessiva pela Polícia Militar e a Guarda Civil Metropolitana, com bombas de efeito moral e balas de borracha. Poucas semanas depois as famílias ocuparam a área da CDHU.

Desde então, fizeram o possível para transformar o terreno vazio – que já tinha tido a grande parte de suas árvores extirpadas – em um bairro com tudo o que sonhavam. A principal realização é uma creche comunitária, que atende, gratuitamente, a 20 crianças entre seis meses e 5 anos, enquanto mães e pais trabalham.

Duas hortas comunitárias foram criadas, contando com alfaces, cebolinha, coentro, escarolas, abóboras, maxixe, pimentão, algumas ervas medicinais e até pés de melancia. Sem usar agrotóxicos, os moradores têm feito compostagem com as sobras de alimentos consumidos.

Cada barraco pertence a um dos dez grupos criados para facilitar a organização e tem numeração própria. Todos têm energia elétrica, puxada de um dos três pontos em que os eletricistas locais fizeram ligações gerais. A água encanada também é encontrada em todas as moradias, no mínimo, em uma pia na cozinha. Algumas moradias têm até chuveiro elétrico. A energia passa por postes improvisados, a cerca de três metros de altura. Alguns têm lâmpadas para iluminar a passagem.

A ocupação possui ainda dois barracões destinados às atividades socioculturais onde ocorrem oficinas de grafite, idiomas e funciona a biblioteca comunitária. Os moradores também criaram duas cooperativas populares: uma de costura – que inclui aulas – e outra de reciclagem. A proposta de ambas é obter renda para os participantes.

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