repressão no paraná

No Senado, representante de Beto Richa acusa professores de iniciar violência

Professores rechaçaram acusação e afirmaram que foi uma 'operação de guerra'. Segundo eles, desde a reeleição do governador não há mais diálogo da gestão com a sociedade

Geraldo Magela/Agência Senado

Edson Lau Filho defendeu Richa e a atuação da PM do Paraná, acusando sindicalistas de “vitimização” e “drama”

São Paulo – O governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), e o secretário da Segurança Pública do estado, Fernando Francischini (SD), não compareceram hoje (6) à audiência pública realizada pela Comissão de Direitos Humanos do Senado, para discutir a repressão policial contra os professores e servidores públicos paranaenses, no último dia 29. Representando-os, o assessor especial de Políticas Públicas para a Juventude da Casa Civil, Edson Lau Filho, acusou os professores de ter iniciado a violência. “Não foi a polícia que começou o confronto. Os manifestantes furaram o bloqueio policial. Alguns black blocs portavam coquetéis molotov e máscaras de gás”, afirmou.

Edson ainda disse que “os sindicatos são mestres na arte da vitimização e do drama” e que a Secretaria de Segurança Pública e o Ministério Público vão investigar o que ocorreu na ação da Polícia Militar e os “excessos ocorridos por manifestantes radicais”. Para ele, é injustificada a mobilização dos servidores, pois o Projeto de Lei (PL) 252, de 2015, que altera a previdência dos servidores “foi dialogado por dois meses com todas as categorias”.

Naquele dia, 220 manifestantes ficaram feridos, atingidos por balas de borracha e gás lacrimogêneo disparados pela polícia. Segundo o governo estadual, 20 policiais ficaram feridos.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP), Hermes Leão, rechaçou as afirmações do representante do governo Richa. “Desde a reeleição de Beto Richa, nós assistimos um comportamento absolutamente diferente na gestão de governo. Passou a não ter mais reuniões com as entidades sindicais. Foram aprovados, em comissões gerais, ‘pacotaços’ de projetos de lei, sem debates”, afirmou. Segundo Leão, o aumento de impostos, aprovado no início do ano, passou sem discussão com sindicatos e entidades empresariais.

De acordo com o presidente da APP-Sindicato, foram realizadas algumas reuniões para discutir fragmentos de texto do projeto. Os professores manifestaram desacordo com as medidas previstas no projeto de lei e pediram 60 dias de prazo para debater a proposta com as diferentes categorias, mas o governo pediu regime de urgência na votação. “Havia compromissos assumidos com os servidores estaduais de que qualquer projeto de lei que tratasse de direitos, de carreiras, ou de assuntos previdenciários, seria amplamente debatido em um esforço de formar consenso”, disse Leão.

Ainda segundo o sindicalista, no dia em que os trabalhadores estavam decidindo sobre a greve em assembleia receberam o aviso de que a Justiça paranaense concedera um “interdito proibitório”, que os impediria de acessar as galerias da Assembleia Legislativa. “Fizemos várias denúncias de que o Estado democrático de Direito estava sendo ferido de morte no estado do Paraná. Vivemos ações arbitrárias do Executivo, do Legislativo, na pessoa do presidente da casa, deputado estadual Ademar Traiano (PSDB), e também do Judiciário, que atendeu aos pedidos desses dois poderes muito rapidamente”, relatou.

“Foi uma operação de guerra”, completou a professora Luzia Marta Bellini, diretora do sindicato. “Na terça-feira, o centro cívico estava cercado pela tropa por todos os lados, com cães e cavalos. Havia também muitos policiais a paisana. Foram duas horas e meia de bombardeio ininterrupto. Inclusive com uso de helicópteros. Se isso não foi premeditado, vamos ter de mudar o significado da palavra no dicionário”, afirmou.

No entanto, a violenta repressão aos professores não foi suficiente para levar os deputados estaduais a suspenderem a votação. O projeto aprovado foi sancionado no dia seguinte pelo governador Richa. “O deputado Traiano disse: ‘As bombas estão caindo lá fora e não aqui dentro. Vamos continuar votando’. Isso é absolutamente um desprezo pelos professores”, protestou Luzia.

A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) afirmou que a Comissão de Direitos Humanos do Senado vai denunciar o caso a organismos internacionais. “Não foi um confronto. Foi um massacre. Confronto é quando as forças estão equilibradas. Estive lá representando o Senado. Vivenciei o que aconteceu. O que vimos foram duas horas de bombas de gás lacrimogêneo, de cachorros, de tiros de bala de borracha”, relatou.

A ouvidora nacional da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência, Irina Karla Bacci, se disse impressionada com o uso indiscriminado de armamentos não letais e de helicópteros pela polícia, que os utilizou para atirar bombas de gás lacrimogêneo contra os professores. “As imagens falam por si só. Houve falência de negociação e de gerenciamento de multidões e de conflitos que tem se estabelecido em toda e qualquer manifestação que ocorre nesse país. A repressão foi bastante forte”, disse a ouvidora.

A ouvidora afirmou que vai para o Paraná averiguar a situação e se reunir com integrantes do Ministério Público Estadual, da Defensoria Pública e da ouvidoria de polícia do estado.

Com informações da Agência Senado


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