contra a direita

‘Manifestação deve ser a primeira de muitas’, avalia líder de sem-teto

União de pautas entre movimentos sociais e centrais sindicais é fundamental para frear onda conservadora, segundo coordenador nacional do MTST, Guilherme Boulos

Gabriela Biló/Futura Press/Folhapress

Boulos: “O caminho para a construção de um país mais justo são as reformas populares e não a redução de direitos”

São Paulo – As mobilizações de amanhã (15) de movimentos populares e centrais sindicais devem ser o primeiro passo de um longo processo de mobilizações para enfrentar a ofensiva conservadora dentro do Congresso Nacional e nas ruas, segundo o coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), Guilherme Boulos. “Temos um conjunto de preocupações. De um lado temos que nos mobilizar contra a ofensiva conservadora que reviveu propostas de redução da maioridade penal, da terceirização, da lei antiterrorismo. Mas também dar uma reposta à ofensiva da direita nas ruas. É um longo caminho”, afirmou.

A manifestação vai reunir dezenas de organizações, entre as quais CUT, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), CTB e CSP-Conlutas. E está pautada sobre três pontos: barrar o avanço do Projeto de Lei 4.330, de 2004, aprovado na semana passada na Câmara dos Deputados e que permite que as empresas terceirizem qualquer atividade; repudiar o ajuste fiscal em todas as esferas de governo e as pautas conservadoras em discussão no Congresso – como a redução da maioridade penal; e defender a reforma política com participação popular e o fim do financiamento privado de campanhas eleitorais.

“O caminho para a construção de um país mais justo e o enfrentamento da crise econômica são as reformas populares e não a redução de direitos”, afirmou Boulos, que espera a manutenção da convergência entre os diversos movimentos e centrais.

Para os movimentos, a aprovação do PL 4.330, junto com as mudanças na concessão de seguro-desemprego e outros direitos previdenciários, pode representar o fim dos direitos dos trabalhadores. “Junto ao ajuste fiscal proposto pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, esses propostas devastam as condições de vida e trabalho da população brasileira, sobretudo dos mais pobres”, avaliou Boulos.

O ajuste fiscal anunciado no fim do ano passado pela presidenta Dilma Rousseff deve acarretar em cortes de até R$ 22,7 bilhões no orçamento de todos os ministérios. O MTST já realizou uma série de protestos contra essa medida há um mês, afirmando que a medida já ceifou verbas para moradia no programa Minha Casa Melhor, que financia aquisição de móveis, e impedindo o lançamento da terceira etapa do Minha Casa, Minha Vida. “Hoje já não há recurso para contratação de novos empreendimentos no país”, disse Boulos.

Ele avaliou, no entanto, que é preciso um conjunto de mobilizações para conseguir forçar o debate político à esquerda. “O ato de amanhã faz parte de um conjunto ao qual esperamos dar sequência e fazer dele uma mobilização cada vez maior”, afirmou.

O MTST defende ainda que seja adotado no país um “programa de reformas estruturais”. Dentre elas, as urgentes são a reforma tributária, que implemente a progressividade nos impostos; a urbana, para atender à enorme demanda habitacional do país, criando empregos no setor da construção civil; a agrária, que garanta trabalho, soberania e segurança alimentar para a população; e a democratização dos meios de comunicação.

A manifestação vai começar as 17h, no Largo da Batata, em Pinheiros. O grupo pretende seguir em marcha até a avenida Paulista, em frente à sede da Federação das Indústrias do Estado (Fiesp), uma das principais defensoras do PL 4.330, onde estarão concentrados representantes de centrais e sindicatos. Antes eles devem passar pela Secretaria-Geral da Presidência da República, na mesma avenida, “para marcar posição firme contra o ajuste fiscal”, disse o coordenador do MTST.

Para Boulos, não há nenhuma contradição em marcar mobilizações com pautas trabalhistas no meio de semana. “O objetivo da mobilização social não é garantir a ordem. Para que as nossas reivindicações sejam atendidas, a mobilização precisa ser percebida, sentida pelo conjunto da sociedade. Manifestação não é desfile cívico, não é carnaval”, afirmou. Segundo ele, ainda amanhã haverá mobilizações do MTST no Ceará, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná.