falta de água

Governo paulista alega dificuldades de caixa na Sabesp e cogita eliminar bônus

Segundo secretário de Alckmin, São Paulo passa por situação climática inusitada e de difícil previsão, o que tornou complicado tomar medidas radicais com antecedência

Ciete Silvério/Perspectiva/Fecomércio

Para Benedito Braga, as medidas econômicas de restrição de consumo, como a multa, são as mais eficientes

São Paulo – O secretário estadual de Saneamento e Recursos Hídricos de São Paulo, Benedito Braga, afirmou na manhã de hoje (6) que o governo de Geraldo Alckmin (PSDB) estuda um novo aumento das tarifas de água, e cogitou o encerramento do bônus, com descontos de até 30% oferecido para quem reduzir o consumo de água. Segundo Braga, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) está enfrentando dificuldades financeiras por ter instituído a medida e ao mesmo tempo ter reduzido a quantidade de água vendida.

“Nós não tínhamos expectativa de um período tão longo de estiagem, e esse bônus foi complicando sobremaneira a questão financeira. Então nós vamos ter de fazer uma revisão disso”, disse Braga, em seminário promovido pela Federação do Comércio de São Paulo, na Bela Vista, região central da capital.

Segundo Braga, aliada com a redução na quantidade de água fornecida – vendida – essa situação pode complicar os investimentos da companhia para garantir o abastecimento de água no futuro.

O secretário disse também que está sendo estudada uma estrutura de aumentos progressivos das tarifas de água, mas que será resguardada a tarifa social, relativa aos consumidores de baixa renda que consomem até 10 metros cúbicos por mês.

Braga se esforçou para convencer o público presente de que a falta de água em São Paulo é “uma situação climática inusitada” e que não era possível prevê-la com exatidão. O secretário fez apresentações das obras de curto, médio e longo prazos que estão sendo realizadas ou projetadas. Ele ainda ponderou que a região é propensa, sim, à seca, mas que foi “absoluta surpresa para todos a intensidade”.

Porém, estudos e relatórios anteriores à crise, da própria Sabesp e da secretaria, assim como a outorga para captação de água do Sistema Cantareira, de 2004, já informavam sobre o risco de uma estiagem prolongada e da necessidade de reduzir a dependência de água do Cantareira.

O secretário tentou justificar a não tomada de medidas mais rigorosas em 2014, quando os reservatórios ainda tinham níveis menos críticos. “A decisão é complicada. Se se tomam atitudes radicais com antecedência de vários meses, e depois, na época que pode chover, chove… As decisões que foram tomadas foram no sentido de reduzir o consumo”, disse Braga.

Segundo estudos climáticos apresentados pelo secretário, a previsão de chuvas para os próximos meses não é nada animadora. “Todas as ações necessárias serão tomadas”, afirmou. Mas questionado quando o rodízio de água será implementado, o secretário disse apenas que a medida está em estudo, não podendo dizer agora “quando, nem se” a medida será implementada.

Embora o evento propusesse a apresentação de um plano de contingência sobre a crise hídrica, ele continua sendo uma incógnita. O presidente da Sabesp, Jerson Kelman, também convidado ao seminário, não compareceu.

Essa posição ambígua do secretário levou os presentes a quebrar o protocolo, fazendo perguntas diretamente e não de acordo com o pedido da organização, de que fossem feitas por escrito. Inclusive por que as perguntas estavam sendo selecionadas pela assessoria do secretário, antes de chegar a ele. Várias pessoas se manifestaram exigindo clareza e transparência de Braga e foram repreendidas pelo mediador José Goldemberg, presidente do Conselho de Sustentabilidade da Fecomércio.

A situação levou o diretor executivo da Fecomércio, Antônio Carlos Borges, a se pronunciar, algo que não estava previsto na programação. Para ele, o nível das perguntas demonstrava claramente a desinformação da população. “Não se fez o que devia ser feito e o problema está posto”, disse, cobrando também transparência e atitude do governo paulista nesse momento.

Segundo Borges, a entidade ainda não tem clareza dos impactos que a crise vai provocar no setor, em relação a receitas e empregabilidade, mas já estão sendo feitas projeções. “Imagine como devem funcionar os restaurantes, os bares, as lavanderias. Tudo isso está se tentando entender agora a dimensão que tem. É um problema muito grave. E o que nós estamos vendo é que não se está tratando isso da maneira objetiva como devia ser tratada. O que eu vi até agora é que não vai faltar água no carnaval. Tudo bem, e depois?”, questionou.

Ao final do evento, Braga se recusou a falar com a imprensa.

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