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MPL comemora ato com começo, meio e fim na zona leste de SP

Terceira manifestação contra reajuste das tarifas conseguiu chegar ao destino, diferente do que ocorreu nos dias 9 e 16, quando a PM dispersou manifestantes com bombas

mpl/reprodução

Aproximadamente 8 mil pessoas, segundo o MPL, marcharam pela Avenida Radial Leste até o Largo do Belém; para a PM eram 5 mil

São Paulo – A tarifa de transporte público, reajustada em São Paulo no último dia 6, não baixou, mas o terceiro ato contra o aumento convocado pelo Movimento Passe Livre terminou em clima de comemoração nesta terça-feira (20). O protesto, realizado pela primeira vez na zona leste de São Paulo, teve começo, meio e fim, diferente do que ocorreu nos dias 9 e 16, quando a Polícia Militar reprimiu a manifestação antes que ela chegasse a seu destino.

“Nossa postura não mudou em relação aos outros atos. Fizemos uma negociação grande com a PM (Polícia Militar) na última sexta, mas nos impediram de prosseguir com a marcha e nos agrediram. Hoje negociamos mais uma vez. A diferença é que eles (os policiais) cumpriram o acordo”, avalia a representante do MPL Luiza Tavares.

Após três horas e meia de caminhada no entorno do metrô Tatuapé e pela Avenida Radial Leste, o terceiro ato terminou por voltas das 21h30 no Largo do Belém. Desde a praça Silvio Romero, a marcha seguiu sem cordão policial, comum nos atos anteriores. A caminhada foi feita pela Radial Leste no sentido centro bloqueando todas as faixas.

O MPL afirma que pelo menos 8 mil pessoas participaram da mobilização. Já a PM fala em 5 mil. Entre os manifestantes, muitos jovens, boa parte menores de idade. Livia Mirim, de 14 anos, mora na Vila Madalena e incorpora o movimento contra a tarifa. Apoiada pelo pai, que esteve em todos os protestos deste ano e nos de 2013, Lívia não se intimidou com a repressão policial dos últimos atos, e voltou para a ação na periferia. “Sou contra a concessão de um serviço essencial. Para mim, o melhor modelo seria estatizar o transporte público.”

Marcos Vinicius Melo, de 22 anos, estudante de história, saiu de Guarulhos, onde mora e estuda, para o ato na zona leste. Ele participou das manifestações de junho de 2013, quando esteve pela primeira vez em uma mobilização popular. “Uso o transporte público para ir de Guarulhos para São Paulo, e pago caro nos ônibus intermunicipais. A passagem não precisa não custar nada, mas tem de ser um valor razoável, acessível. Não é. E pior, os ônibus são muito ruins. Fico muito tempo no ponto esperando, vou sempre em pé, os motoristas correm demais. Pagar caro e ainda ter de enfrentar tudo isso é pedir demais.”

A reclamação do estudante vai ao encontro da avaliação do coordenador nacional do Movimento Nacional pelo Direito ao Transporte Público de Qualidade (MDT) e coordenador da Agência Nacional dos Transportes Públicos (ANTP) em Brasília, Nazareno Affonso. Segundo ele, as pesquisas realizadas pela agência apontam que a principal reclamação do usuário não é o valor da passagem, mas a má qualidade do sistema.

“No atual modelo de gestão do transporte, quando congelamos tarifa, perdemos qualidade. Corte de linhas e demissões se tornam inevitáveis. Nossa briga é para que se dê acesso para quem não tem, como se faz com o estudante de baixa renda, e melhore, modernize, capacite o sistema.”

Para Affonso, os municípios não têm nem recurso para implementar a tarifa zero, nem condições técnicas de gerir o transporte público. “Se uma cidade da magnitude de São Paulo mal consegue fiscalizar o sistema, imagine administrá-lo integralmente”, afirma o especialista, fazendo referência às auditorias realizadas pela prefeitura em 2013 e que apontaram descumprimento das concessionárias às normas estabelecidas em licitação.

Para a tarifa zero, Affonso é categórico: taxar as grandes fortunas, bancos, agronegócio. “Não há caixa em prefeitura que dê conta de um subsídio desse. Os gargalos de uma administração pública também estão na saúde, na educação. Tarifa é zero é possível se taxarmos as grandes fortunas, aí teremos recurso para fazer uma política de igualdade. Acabar com a tarifa no modelo atual continuará tirando de quem não tem.”

Atos fraturados

O próximo ato do MPL está marcado para sexta-feira (23) às 17h, com concentração em frente ao Teatro Municipal, no centro da capital. O Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), que em 2013 engrossou pela primeira vez as ações organizadas contra o aumento das tarifas e que neste ano havia declarado apenas apoio ao MPL – sem comparecer aos atos no centro –, começa na quinta (22) a fazer mobilizações próprias.

O protagonismo da discussão por moradia dará lugar para a reivindicação popular por transporte público bom e barato, para todos. Os sem-teto agendaram para o fim da tarde de quinta um panelaço nas regiões do Grajaú, Itaquera, M’Boi Mirim e Campo Limpo, na zona sul da capital, e nas cidades de Santo André, Carapicuíba e Taboão da Serra, na região metropolitana. A ideia do movimento é fazer sete ações simultâneas, todas com concentração agendada para as 17h.

 

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