Ditadura

Filha de Rubens Paiva pede que se investigue ‘genocídio indígena’

Vera Paiva afirma que negros, pobres e indígenas foram os que mais sofreram durante o regime iniciado com o golpe de 1964

Reprodução/Sidney Oliveira

‘Histórias escabrosas’ de opressão a indígenas durante a ditadura ainda precisam ser contadas

São Paulo – A psicóloga Vera Paiva, filha do deputado Rubens Paiva, assassinado durante a ditadura, que esteve presente ontem (10) na cerimônia de entrega do relatório final da Comissão Nacional da Verdade, em entrevista à repórter Marilu Cabañas, da Rádio Brasil Atual, destaca a disposição da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de investir no resgate da história do genocídio indígena durante o período autoritário.

A família Paiva tem íntima relação com a questão, pois a mãe de Vera, Maria Lucrécia Eunice Facciolla Paiva, advogada, dedicou-se a defender indígenas ao longo da década de 1980, durante a fase final da ditadura. Vera Paiva afirma que, desde aquela época, a família vislumbrava que “pretos, pobre e indígenas foram os mais afetados. E continuam sendo”.

“Ouço histórias escabrosas até hoje, das pessoas com a mão na boca, com medo. Como se a gente vivesse no período da ditadura ainda. Falam baixinho, olhando para o lado”, conta Vera, que também é representante da sociedade civil no Conselho Nacional dos Direitos Humanos, órgão da Secretaria de Direitos Humanos.

Rubens Paiva

Sobre a morte e o desaparecimento de seu pai, em 1971, Vera elogia o empenho da CNV e do Ministério Público Federal para elucidar o caso. “A principal questão é que não se trata mais do caso de um desaparecido. Trata-se de um caso de assassinato, com local e hora marcada. O que está desaparecido é o corpo, apenas.”

Sobre o paradeiro do corpo de seu pai, Vera faz um apelo: “Quem sabe alguém vivo ainda precise dar um depoimento. Que as pessoas que tenham informações, façam isso. Reconheçam”. Ela espera que o relatório da CNV seja apenas a base da continuidade das investigações. “É preciso ainda levantar milhares de histórias que não foram contadas.”