reforma agrária

Em Goiás, sem-terra iniciam greve de fome contra despejo em terras de senador

Justiça goiana concedeu reintegração de posse de área de 24 mil hectares de terra e famílias têm até o próximo dia 24 para deixar o local

MST

Sem-terra prometem manter greve de fome e ocupação da Assembleia Legislativa até que reintegração seja suspensa

São Paulo – Cinco militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) iniciaram na manhã de ontem (18) greve de fome no saguão da Assembleia Legislativa de Goiás reivindicando a suspensão de uma reintegração de posse contra as 3 mil famílias do acampamento Dom Tomás Balduíno, localizado na fazenda Santa Mônica, propriedade do senador Eunício Oliveira (PMDB-CE). Acampadas desde 31 de agosto, as famílias têm até o próximo dia 24 para deixar o local, por decisão da Justiça goiana.

O movimento também ingressou com pedido liminar para suspensão do despejo que deve ser analisado na tarde de hoje (19), pelo Tribunal de Justiça de Goiás.

Para o membro da direção estadual do MST de Goiás, Luiz Zarref, o pedido de reintegração de posse expedido pelo juiz da Comarca de Corumbá, Levine Raja Gabaglia Artiaga, é ilegal, pois o magistrado seria aliado político de Oliveira. “Essa liminar foi emitida com base em relações pessoais. O MST está entrando com o pedido de reconsideração no Tribunal de Justiça de Goiás. Não podemos permitir que milhares de pessoas sejam jogadas na rua”, afirmou.

A área ocupada fica entre os municípios de Alexânia, Corumbá e Abadiania. São cerca de 24 mil hectares de terra – o equivalente a 20 mil campos de futebol – autodeclarada improdutiva, segundo o MST, que reivindica a desapropriação.

Segundo o movimento, o senador tem 90 propriedades na região, todas improdutivas. “Eunício é o maior dono de terras na região. Terras improdutivas que só servem para enriquecê-lo cada vez mais. Essa é a maior ocupação de terras em Goiás dos últimos dez anos, e não vamos permitir que mais injustiças sejam feitas em prol do bem-estar de latifundiários”, explicou Zarref.

Outra preocupação é com o contingente policial chamado para fazer a reintegração. De acordo com Zarref, cerca de 5 mil policiais militares estão de sobreaviso. Embora as famílias não aceitem sair, o movimento pondera que um enfrentamento com as forças de segurança pode ser catastrófico. “Confiamos no recuo do governo do estado. Essas milhares de famílias não podem sem tiradas à força dessas terras”, finalizou.

Um grupo de entidades e intelectuais produziu um manifesto de apoio ao MST, pedindo que a Justiça suspenda a reintegração de posse e que o governo goiano realize a desapropriação da área, destinando-a para as famílias que a ocupam hoje. Entre os signatários estão o coordenador da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) no Centro-Oeste, Dom Guilherme Werlang, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) em Goiás, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e professores de universidades federais.