Mais intolerância

Manifestantes fazem beijaço contra homofobia após agressão a jovens em Brasília

O ato reuniu manifestantes do movimento LGBT contra mais um caso de ódio contra homossexuais, que foram agredidos com garrafadas, socos e chutes num bar

Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Para os organizadores do beijaço, homofobia tem que ser reconhecida e criminalizada

São Paulo – Dezenas de pessoas participaram nesta sexta-feira (10) de um beijaço contra a homofobia na área comercial da Quadra 307 Sul, no bairro Asa Sul, no Plano Piloto de Brasília.  O ato, organizado pela internet, reuniu manifestantes do movimento LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros) e casais heterossexuais que protestaram com cartazes pedindo paz e palavras de ordem contra a homofobia, o racismo e o machismo após a agressão de quatro homossexuais que foram espancados em um bar na 307 Sul, na noite da última terça-feira (7).

Naquele dia, os quatro jovens homossexuais (três homens e uma mulher) foram agredidos por seis pessoas no bar. Em ocorrência registrada na 1ª Delegacia de Polícia, as vítimas afirmaram que os agressores vinham fazendo provocações sobre orientação sexual deles antes de a confusão começar. As vítimas foram atingidas por garrafadas, socos e chutes. A assessoria da Polícia Civil informou que os agressores foram identificados e que as investigações continuam para averiguar as circunstâncias da briga e a motivação.

O beijaço ocorreu no mesmo local das agressões. “Não é só por isso [a violência contra os jovens no bar], mas por tudo que vem acontecendo. O que aconteceu com eles uniu a militância para agir em conjunto para que haja conscientização contra a violência”, disse David Santos, um dos organizadores do ato. Maria Eneida da Rocha, mãe de um dos jovens agredidos, esteve presente. “Eu, como mãe, sinto-me impotente por saber que meu filho sofreu lesões, maus-tratos. Isso é inaceitável e estou revoltada.”.

De forma pacífica, os manifestantes fecharam a rua em frente ao bar para fazer o beijaço. Eles também vestiram sacos pretos e deitaram na pista para representar homossexuais mortos em casos de homofobia. Os organizadores gritaram o nome das vítimas de diversos casos enquanto os manifestantes respondiam “presente”. Para os organizadores, é preciso que a homofobia seja reconhecida e criminalizada. “O fato de toda vez que acontece um caso típico de homofobia e as autoridades mascararem isso como crime passional, briga de bar ou como injúria, não faz jus a quem está sofrendo a agressão”.

Os manifestantes alegam que o local foi omisso e conivente com a violência. O bar se manifestou em nota oficial. O texto diz que o local rejeita “qualquer tipo de agressão física, moral e psicológica, principalmente as de motivações discriminatórias, como a homofobia e o racismo”. A assessoria do estabelecimento alega que os funcionários do bar tentaram parar a briga, auxiliaram as pessoas que estavam feridas e chamaram a polícia. Os proprietários entregaram as imagens das câmeras do local para as autoridades policiais.

Durante o protesto, clientes do bar acompanharam o ato. O empresário Jefferson Santos disse ter sido pego de surpresa e sentiu-se incomodado com a manifestação. “Sou contra a violência e a agressão não se justifica, mas a gente tem que refletir sobre o que gerou essa violência. Eles também precisam respeitar os outros”. Em outra mesa, a servidora pública Sandra Lima acha a manifestação válida, mas acredita que o beijaço pode ser visto como uma provocação. “Mas é preciso, sim, coibir os agressores”.