'Ô abre alas...'

Baile de máscaras ocupa a praça Roosevelt, mas onde estavam os ‘baderneiros’?

Décimo encontro da série Roosevelt Livre teve como pauta o repúdio à lei que proíbe o uso de máscaras em manifestações. Bloco animou participantes com marchinhas de carnaval

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São Paulo – Parecia um carnaval fora de época, mas, além das fantasias, havia também política. Foi esse o contexto na praça Roosevelt na noite desta quinta-feira (11). A praça foi ocupada com música, artistas de diferentes áreas, políticos, advogados, jornalistas, skatistas, famílias, crianças, cachorros. No décimo encontro da série Roosevelt Livre, DJs e o Bloco Bastardo – do carnaval de rua paulistano – garantiram animação e dança. Com o intuito de repudiar a sanção do governador Geraldo Alckmin (PSDB) à lei 50/2014, que proíbe o uso de máscaras em manifestações populares, e a proposta de instalação de uma base da Polícia Militar no local, o coletivo Arrua e os Advogados Ativistas organizaram uma manifestação lúdica e criativa: um baile de máscaras. O que historicamente foi exclusivo das elites, se tornou uma ação recheada de ironia fina para lutar pela liberdade e democratização do espaço público.

O baile estava marcado para começar às 19h. Teve início tímido. Poucas pessoas montavam o equipamento de som e organizavam os acessórios que seriam distribuídos, enquanto o restante do espaço era ocupado pelos habitués skatistas. Uma viatura da Guarda Civil Metropolitana circulava pela praça ao som de Jorge Benjor, “que maravilha.” Poucos integrantes da Tropa de Choque da PM estavam no campo de visão. Destoantes, dois deles passaram próximos aos manifestantes com armas em punho, mas logo desapareceram.

Um representante da PM, o major Ambar, não respondeu qualquer pergunta. Não foi possível saber quantos policiais foram “convidados” para o baile ou quais instruções receberam para a dança, mas essas informações eram irrelevantes. As performances com bambolês, pernas de pau, bola de acrílico, música, confetes e serpentinas não dariam mesmo trabalho à polícia.

Contudo, a truculência policial deixa marcas. Integrantes do coletivo Arrua relataram a “sensação de impotência” que tiveram em outros encontros, nos quais havia mais policiais do que manifestantes. Nessas ocasiões, o sentimento de a cidade estar sitiada, sob forte opressão por parte da PM, pairava no ar, mesmo quando não havia violência física. Alguns dos ativistas acreditam que têm as ações observadas e controladas pela polícia, como telefones grampeados, acompanhamento das redes sociais, além de vídeos gravados durante manifestações.

Também relatam que moradores da região contrários à causa dos coletivos, que defendem que a praça seja fechada com cercas e tenha uma base policial, estimulam vizinhos a registrarem o rosto dos ativistas para tentar identificá-los depois. Esse controle é o causador do receio dos participantes e preferência por ter a identidade preservada, embora a abertura e o acolhimento seja uma característica forte.

E assim, na noite de ontem, os protestos vieram com sorrisos e olhares de cumplicidade, que eram predominantes, trocados constantemente. Pessoas desconhecidas puxavam conversa a fim de conhecer gente nova e trocar impressões sobre política e atividades que foram ou serão realizadas. Era mais uma “quinta da resistência”, dessa vez, auxiliando “a esquerda a ficar mais leve”, mas mantendo vivas, apesar das pressões dos cassetetes e das leis autoritárias, as programações na Roosevelt Livre, que têm como centro a defesa da liberdade por meio da ocupação do espaço público. Ali Já foram realizadas rodas de conversa sobre arte de rua em São Paulo, debates a respeito de prisões políticas e liberdade de manifestação.

“Você pensa que cachaça é água”, “A estrela Dalva” e outros clássicos carnavalescos mantinham os corpos em movimento. A ativista que, enquanto recortava e pintava máscaras, explicava porque a praça era considerada um lugar estratégico para a Polícia Militar – fácil acesso para diferentes lugares da cidade, estacionamento grande na parte de baixo para as viaturas – passou a dançar e cantar com a tradicional marchinha de “Ô abre alas que eu quero passar”, canção que poderia bem ser um hino das manifestações de rua.

Máscaras coloridas ao redor dos olhos, típicas de carnaval, eram maioria. Entre elas, as já esperadas Guy Fawkes e Batman. Também surgiram os Lulas e Tiriricas. “Manifestante com máscara não pode, mas político mascarado pode”, explicava indignado o manifestante que carregava uma bandeira do movimento LGBT amarrada sobre os ombros.

O clima irônico e tranquilo não significava falta de seriedade ou importância do evento, ao contrário. A proposta era justamente oferecer leveza à atividade, mas sem esquecer as motivações da luta. O ambiente produzia reflexões e fomentava o desejo de estar no espaço público de forma produtiva e política.

O som teve que ser desligado às 22h. Era a lei do silêncio. Não havia quórum para transferir o baile ao Buraco da Minhoca – túnel que passa embaixo da praça, também alvo simbólico de ocupação da cidade –como tinha pensado inicialmente um dos organizadores. Porém, isso não significava que as pessoas queriam voltar para casa. As rodas de conversa continuaram entre os garis que já varriam as serpentinas e confetes. Latas e garrafas de cerveja e bitucas de cigarro quase não eram vistas fora das lixeiras. As que tinham ficado esquecidas nos cantos foram recolhidas pela mesma ativista que estava recortando e pintando máscaras antes do baile começar. O mascarados eram civilizados.

Entre a ironia, o debate político e a organização, ficava a pergunta: onde estariam os “baderneiros”, tão destacados pela polícia e pelo discurso do senso comum?

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