Truculência

Por reintegração de posse, PM avança violentamente contra sem-teto no centro de SP

Cerca de 200 famílias viviam há seis meses em prédio abandonado na avenida São João; negociação começou na madrugada, mas violência eclodiu a partir das 7h

Fernando Zamora/Futura Press/Folhapress

Nova ação truculenta da PM paulista desencadeou onda de violência no centro de SP nesta terça

São Paulo – Policiais Militares e moradores sem-teto que ocupavam um prédio na Avenida São João, na região central da capital paulista, entraram em confronto no início da manhã de hoje (16), quando foi iniciada a reintegração de posse de um edifício de 20 andares, um antigo hotel abandonado, onde viviam cerca de 200 pessoas. Antes do horário de pico do trânsito e do transporte público, às 6h, teve início a negociação entre polícia, que cumpre ordem judicial, e militantes da Frente de Luta por Moradia (FLM), um dos movimentos responsáveis pela ocupação.

A juíza Maria Fernanda Belli, da 25ª Vara Cível do Foro Central, determinou a reintegração de posse do prédio, a pedido da empresa proprietária do imóvel, a Aquarius Hotel Limitada. A Justiça requisitou o apoio da Polícia Militar na desocupação. De acordo com a secretaria, a reintegração estava prevista para ocorrer no dia 11 de junho, porém, na ocasião, foi cancelada porque não foram disponibilizados pela empresa proprietária do imóvel os meios necessários para a desocupação (caminhões e carregadores para o transporte dos pertences dos moradores).

A reintegração foi reagendada para o dia 27 de agosto. Porém, no dia, foi novamente suspensa porque os oficiais de Justiça avaliaram que o número de caminhões e transportadores ainda não era suficiente.

O conflito de hoje teve início justamente quando parte das famílias ofereceu resistência à ordem da PM de que deixassem o local imediatamente, sem tempo para que eles carregassem pessoalmente seus pertences. Diante da argumentação das famílias, a Polícia deu início à operação de ocupação do prédio com a Tropa de Choque; relatos locais dão conta ainda de que policiais montaram um “corredor polonês” para retirar moradores resistentes de dentro do prédio.

Desde as 8h, a situação está fora de controle: os ocupantes do prédio lançaram móveis e lixo nas ruas para obstruir o caminho dos policiais, que se organizam em linhas de escudos e cacetetes para “varrer” as ruas do centro, toda a região do viaduto do chá à República. Enquanto a polícia avança com balas de borracha e bombas, os sem-teto respondem com paus e pedras. Por volta das 10h15, um ônibus foi incêndiado em frente ao Teatro Municipal, no Centro, causando incêndio também na fiação elétrica da rua.

Três bloqueios foram criados pela PM para impedir a circulação de pessoas: entre a rua Xavier de Toledo e a avenida São Luís, no Viaduto do Chá com a Libero Badaró e entre as avenidas Rio Branco e Ipiranga. A Secretaria Municipal de Transportes informou ainda que 30 linhas de ônibus foram desviadas da região central da cidade, para evitar a zona de conflitos.

Uma das integrantes do movimento, Shirley Santana, de 35 anos, disse que estava no interior do prédio quando a polícia chegou e atirou bombas pela janela. “As pessoas resistem porque elas não têm para onde ir”, contou. Jornalistas que acompanham o conflito no local reclamam, ainda, de obstrução por parte da polícia: fotógrafos e repórteres não foram permitidos dentro e nos entornos do prédio, mesmo após concluída a desocupação, por volta das 10h30.