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Secretário de Alckmin diz que reclamações sobre falta d’água em SP são ‘exibicionismo’

Entre muitas ponderações, Mauro Arce chegou a admitir que alguns locais estão ficando sem água por falta de pressão, mas segue sem admitir que São Paulo esteja passando por racionamento

Luiz Augusto Daidone/ Prefeitura de Vargem

Crise de abastecimento chega a oitavo mês, mas governo estadual segue afirmando que está tudo sob controle

São Paulo – O secretário Estadual de Recursos Hídricos, Mauro Arce, disse na noite de ontem (23) que é enorme o número de pessoas que reclamam de falta de água em São Paulo, mas que, na verdade, não há problema e agentes públicos encontram dificuldade para localizar as pessoas que notificam o problema. Para o gestor público, as reclamações por falta d’água são um tipo de “exibicionismo” da população: “as pessoas gostam de um microfone”, minimizou. Questionado sobre bairros onde falta água todas as noites, admitiu que a água pode não chegar em alguns lugares por falta de pressão nos canos. “Pode não chegar. Mas são bairros que você vê que uma casa falta, na outra casa não falta. Se ele morar alto”, disse, sem concluir.

A RBA esteve nos bairros de Vila Maria Alta, Jardim Japão e Parque Novo Mundo (zona norte), Jardim Romano (leste) e Jardim Previdência (oeste), onde os moradores relataram que a água “some” todas as noites, entre 19h e 20h. As caixas, dizem os moradores, só começam a encher a partir de 5h do dia seguinte, mas quando eles procuram a Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp) para cobrar informações, são comunicados de que não há nada de irregular no fornecimento.

Segundo Arce, no entanto, o número de reclamações até agosto deste ano é inferior ao mesmo período de 2013. Ele também afirmou que a maior parte dos problemas se concentra em residências que não têm reservatório. Ele rechaçou ainda a ideia de que a redução da pressão da água durante a noite cause desabastecimento e afirmou que houve erro de interpretação sobre o documento entregue pela Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp) ao Ministério Público Estadual.

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Arce reafirmou que, na opinião da gestão Alckmin, o rodizio seria prejudicial para a população, pois teriam pessoas que não receberiam água nunca. A prática seria de um dia com água e três dias sem. “Até a água chegar nas pessoas que moram mais distante, já estaria acabando as 24 horas”, explicou.

Ele voltou a dizer que a região abastecida pelo sistema Cantareira terá água até março de 2015, e adiantou que até o fim de setembro estará concluído um sistema de captação de 0,5 metros cúbicos por segundo (m³/s) de água da represa Billings, que será fornecido para parte da população abastecida pelo Cantareira. Além disso, as ações necessárias para retirada do segundo lote de água do volume morto (108 bilhões de litros) estão concluídas.

Arce falou ainda sobre ação polêmica do governo Alckmin para lidar com o estresse hídrico: em março deste ano, o governador anunciou que pretendia retirar mais água do rio Paraíba do Sul, cujas nascentes estão em São Paulo, mas cujo curso segue para para o Rio de Janeiro, onde é utilizado para o abastecimento da população local. O anúncio gerou atrito com o estado vizinho. Sobre a polêmica, Arce defendeu a captação das águas do Paraíba do Sul para abastecer a população de São Paulo, disse que o principal reservatório do sistema fica no estado e contou que, a partir do diálogo que teve com taxistas no Rio de Janeiro, chegou à conclusão que a população fluminense não tem entendimento sobre a crise hídrica.

Estive no Rio de Janeiro e conversei com os taxistas. Perguntei se tinha problema e eles disseram que ‘não, aqui não tem problema de água, aqui é água à vontade’. E não é bem assim”, contou, ressaltando que o estado usa 40 metros cúbicos por segundo (m³/s) de água para abastecer a mesma população que em São Paulo utilizava 31 m³/s antes da crise no Cantareira.

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