denúncia

Manifestantes teriam sofrido maus-tratos de mesmo policial em delegacia de SP

Em denúncias feitas ao Condepe e à Ouvidoria, Fábio Hideki e Rafael Lusvargh identificam tatuagem com o lema 'Mein Kampf' no braço de um dos policiais responsáveis por agressões

Paulo Lopes/Futura Press/Folhapress

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São Paulo – Os manifestantes Fábio Hideki Harano, 27 anos, e Rafael Marques Lusvargh, 29, presos desde 23 de junho após participar de protesto contra a Copa do Mundo em São Paulo, citam um mesmo policial nos relatos de maus-tratos que teriam sofrido na sede do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic).

As denúncias foram oficializadas pelos ativistas no início de julho. Nelas, ambos identificam, entre os agressores, um agente com o lema Mein Kampf tatuado no braço. As palavras de origem alemã significam “minha luta” e dão título à autobiografia do líder nazista Adolf Hitler.

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Em 3 de julho, Hideki recebeu a visita de membros do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe) no presídio de Tremembé, a 150 quilômetros da capital, onde cumpre prisão preventiva. Na ocasião, o ativista relatou ter sido agredido por “um dos policiais” com um soco no queixo, joelhada na barriga e chute na lateral da barriga.

“Após as agressões, todos os policiais presentes começaram a me xingar e humilhar novamente”, contou Hideki aos conselheiros do Condepe. “Havia um policial branco e alto com uma tatuagem no braço, que, pelo que vi, estava escrito MyKampf (sic). Fiquei mais assustado”, continuou. “Posteriormente, foi este policial que me tirou as digitais.”

Em denúncia levada por seu irmão à Ouvidoria das Polícias do Estado de São Paulo, em 2 de julho, Rafael Lusvargh relatou que “foi mantido algemado e recebeu diversos socos e choques elétricos e um dos policiais que tinha tatuagem no braço escrito Mein Kampf ainda pisoteou sua mão, ocasionando falta de sensibilidade”.

O caso está sendo investigado pela Corregedoria de Polícia Civil. A Defensoria Pública, que representa Lusvargh perante a justiça, ajuntou a denúncia de tortura ao habeas corpus que moveu ao Supremo Tribunal Federal (STF) para que o jovem responda processo em liberdade.

O advogado de Hideki, Luiz Eduardo Greenhalgh, também usará as agressões colhidas pelo Condepe na defesa do cliente. “E também na apuração das agressões, porque iremos apurá-las”, garante. “Estou imaginando que quem bateu nele é um dos policiais que vai à justiça como testemunha. A tatuagem é uma das formas de reconhecê-lo.”

Greenhalgh denuncia que os policiais que teriam agredido Hideki foram os mesmos que o conduziram ao Instituto Médico Legal (IML) para realizar exames de corpo de delito. “O médico do IML nem te olha e já manda de volta o laudo com os dois policiais”, critica. “É uma bobagem.”

Em depoimento ao Condepe, Hideki confirma que foi levado ao IML pelos “mesmos policiais” que o agrediram. E descreve a atitude da médica responsável por examiná-lo. “Ela nem quis falar comigo, me tratou muito mal.”