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Entidades criticam governo Alckmin por sonegar informações sobre crise hídrica

Representantes da Rede Nossa São Paulo avaliam que gestão está propondo ações de grande proporção para problema que poderia ser evitado com intervenções menores e conscientização

Zanone Fraissat/Folhapress

Manifestante do Greenpeace ironiza postura de Geraldo Alckmin. Falta de respostas irrita organizações sociais

São Paulo – O governo de Geraldo Alckmin (PSDB) tem se negado a passar informações, além daquelas que já são públicas, sobre a crise de abastecimento que afeta a capital paulista e a região metropolitana de São Paulo, afetando sobretudo os sistemas Cantareira e Alto Tietê – este último atingiu hoje seu menor volume da história, 16,4%. A organização não governamental Nossa São Paulo pediu dados mais completos sobre o problema e as ações tomadas. O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) cobrou a Agência Reguladora de Saneamento e Energia de São Paulo (Arsesp) sobre os cortes de água que vêm ocorrendo em alguns bairros.

“Nós enviamos uma carta à Sabesp há mais de um mês. Temos grandes problemas quanto à transparência das informações”, comentou Broinizi, durante debate sobre a crise hídrica que é parte da Virada Sustentável 2014, que vai até o próximo dia 31. A Nossa São Paulo solicitou dados sobre prospecção, perspectiva de tempo que duram os reservatórios, qualidade da água do volume morto. “Tivemos apenas respostas protocolares.”

Para ele, as soluções propostas pelo governo paulista até aqui são muito complexas e dispendiosas. Ele defende que a companhia dialogue com entidades e pesquisadores que atuam no setor, evitando, por exemplo, buscar água a muitos quilômetros da capital paulista.

Como exemplo, Broinizi citou a prefeitura de Nova York, nos Estados Unidos, que comprou US$ 1 bilhão em terras no entorno dos mananciais da cidade e implementou ações de reflorestamento. “Isso gera imensa economia em relação a ficar tentando buscar água cada vez mais longe”, completou. Segundo ele, cada hectare de mata ciliar pode devolver até 10 mil litros de água limpa para um rio por ano. “Temos muitas propostas e queremos discuti-las com a Sabesp e o governo paulista.”

O coordenador do Movimento Água para São Paulo, Samuel Barrêto, propôs uma ação “relativamente simples” que poderia ser feita para auxiliar na preservação dos mananciais. “Intervir em 3% da área do entorno dos reservatórios, em reflorestamento e preservação da mata faria uma grande diferença na manutenção desses mananciais”, afirmou.

A bacia do Alto Tietê tem cerca de 220 mil hectares e a do Cantareira tem em torno de 225 mil. Segundo Barrêto, o investimento seria da ordem de R$ 200 milhões. Só a captação do volume morto do Cantareira custou R$ 80 milhões. Outros R$ 7 milhões foram gastos pelo governo Alckmin com aviões para fazer chover, sem sucesso.

Para o coordenador da Nossa Paulo existe uma razão clara para que a Sabesp seja desinteressada em implementar ações de reúso de água, tratamento de esgoto, instalação de medidores individuais nas casas e captação de água de chuva: a remuneração dos acionistas da companhia. “Interessa a uma empresa de economia mista poupar água, incentivar a economia, captar água de chuva? Ou é melhor gastar a que está disponível, já que é uma mercadoria?”, ponderou.

O sistema Cantareira, que abastece nove milhões de pessoas na capital e na região metropolitana, está utilizando a água do chamado volume morto – água que fica abaixo das comportas – desde maio. O sistema Alto Tietê passou a ser utilizado para suprir uma parte dos atendidos pelo Cantareira. Com isso seu nível também baixou rapidamente e o governo Alckmin já cogita utilizar o volume morto deste reservatório.

“Vamos consumindo esse volume de água, sem aplicar nenhum tipo de restrição de consumo ou medida mais enérgica e torcer para que chova no verão. Esse é o planejamento. E se não chover?” concluiu Broinizi.

Já o Idec enviou um relatório com informações de pessoas que vêm sofrendo com a falta de água cotidianamente, desde o início da crise hídrica. A Arsesp enviou de volta – após quase um mês – um ofício informando que possui um serviço de atendimento ao usuário, tendo recebido 159 relatos de falta de água por este canal.

Ou seja, o governo reconhece a existência do problema, embora negue a prática de racionamento. E, por isso, trata a questão de forma individual. “Desse modo a Arsesp terá condição de avaliar individualmente a falta de água em determinada unidade usuária, bem como as medidas a serem adotadas pela agência junto à concessionária, caso haja ‘não conformidade’ no abastecimento de água”, diz um trecho da resposta ao Idec.

Para o Idec, a nota oficial não responde aos questionamentos, pois não define um prazo para a finalização do processo investigatório, nem apresenta medidas que poderão ser aplicadas contra a Sabesp. Apenas indica a instalação de medidores de pressão no medidor de água das casas que apresentaram reclamações, para conferir se está sendo descumprida a regulação.

A campanha Tô Sem Água começou em 25 de junho e até hoje recebeu 599 relatos de falta d’água na capital paulista e Grande São Paulo. Destes, 82% indicam falta de água à noite, e 73% registram interrupção de fornecimento diariamente, ao menos uma vez por dia. A região mais afetada é a zona leste, com 26% dos relatos, mas as demais regiões ficam em torno de 20% do total de reclamações.