Lembra a ditadura

Secretário de Direitos Humanos de SP condena ação truculenta da PM em manifestações

Rogério Sottili expressou 'preocupação' com a truculência da Polícia Militar; para ele, repressão violenta e impedimento a reuniões públicas lembra a ditadura

Frame/Folhapress

No ato na Praça Roosevelt, que não tinha o objetivo de ocupar a rua, clima de tensão era forte; seis pessoas foram detidas pela PM

São Paulo – O secretário municipal de Direitos de Humanos e Cidadania de São Paulo, Rogério Sottili, afirmou que a onda de repressão policial contra atos e reuniões públicas na cidade “lembra a ditadura e vai contra as políticas da prefeitura.”

Na última terça-feira (1), o coordenador de políticas para a Juventude, Gabriel Medina, que responde a Sottili, acompanhou uma reunião aberta na Praça Franklin Roosevelt, no centro da capital, e presenciou a prisão de um artesão. Medina chegou a interferir na abordagem, classificada por ele como “violenta”, mas o homem foi levado para a delegacia para prestar depoimentos e depois liberado.

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Baseado nos relatos do coordenador de Juventude, Sottili ligou para Eduardo Dias, assessor direto do secretário de Segurança Pública do estado Fernando Grella. “Pedi para ele levar minha preocupação ao secretário em relação a tudo o que está acontecendo”, disse.

No ato, que não tinha o objetivo de ocupar a rua, outras cinco pessoas foram detidas, entre elas dois advogados. Juristas, intelectuais e militantes de vários movimentos articulavam os próximos passos para exigir e denunciar as prisões do professor de inglês Rafael Marques Lusvarghi e do estudante e funcionário da Universidade de São Paulo (USP) Fábio Hideki Harano. Eles são acusados de serem praticantes da tática Black Bloc e de portar explosivos em uma manifestação no dia 23. Imagens do momento das prisões e testemunhas afirmam que não havia qualquer artefato perigoso com os jovens e que o flagrante foi forjado. Os dois permanecem presos. Lusvarghi está no Centro de Detenção Provisória de Pinheiros, na zona oeste da capital, e Hideki na penitenciária de Tremembé, a 147 quilômetros da cidade.

Ontem (2), a polícia repetiu a tática de cerco a reuniões de manifestantes durante o debate sobre a criminalização dos movimentos sociais ocorrido na Praça da Sé, no centro. Cerca de 200 policiais, praticamente um para cada um dos cerca de 200 ativistas, acompanharam o debate e causaram clima de tensão. Oficiais da Tropa de Choque, protegidos com armaduras negras, da cavalaria e do agrupamento tático estavam no local.

“Nas últimas semanas, vimos a polícia paulista impedindo atos que pediam a garantia de direitos. Tropa de choque, cavalaria, prendendo pessoas. Tudo com a alegação da manutenção da ordem. Temos que ter um certo cuidado, se não vamos em um processo de criminalização dos movimentos”, declarou.

Sottili disse que considerada legítima a preocupação dos gestores públicos de segurança para garantir o direito de outras pessoas, especialmente durante os jogos da Copa do Mundo, para não “atrapalhar a clima de festa e criar problemas mais graves, quebradeira”. “Mas apesar disso, estamos vendo prisões que eu considero arbitrárias, repressão às manifestações e uso da força excessiva por parte da polícia”, comentou.

O secretário também cita como exemplo de ação truculenta o uso de bombas de gás durante a comemoração de turistas na Vila Madalena, bairro da zona oeste, também na terça-feira. O prefeito Fernando Haddad (PT) garantiu que iria repactuar a ação da polícia no bairro, que tem sido palco de reunião de torcedores de vários países que participam do torneio de futebol.

Já o governador Geraldo Alckmin (PSDB) defendeu a ação da polícia. Segundo reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, ele disse que “onde for necessário, ela [a polícia] estará presente”. Para o tucano, “a polícia tem uma corregedoria que é bastante rigorosa”, no entanto nenhum policial envolvido nos abusos durante as manifestações de junho do ano passado foi punido.

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