para não esquecer

Comitê cobra pensão vitalícia a famílias de operários mortos nas obras da Copa

'Esculacho' em frente à casa do presidente da CBF, José Maria Marin, denuncia precarização do trabalho durante obras nos estádios, que deixaram dez mortos

Comitê popular da Copa/Divulgaçã

Em 2012, Marin foi escrachado por seu apoio à ditadura. Hoje, coroas de flores foram pregadas em seu portão

São Paulo – O Comitê Popular da Copa de São Paulo realizou na manhã de hoje (6) um “esculacho popular” diante do prédio onde vive o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), José Maria Marin, no bairro dos Jardins, em São Paulo. Cerca de 30 pessoas fizeram um “enterro simbólico” dos operários mortos em obras relacionadas à Copa do Mundo e cobraram assistência às famílias. O torneio de futebol começa na próxima quinta-feira (12), na Arena Corinthians, em Itaquera, na zona leste.

Segundo Matheus Marestoni, membro do Comitê, a ação de hoje deveria ter ocorrido no dia 15 de maio, mas em função da repressão policial aos atos políticos programados para aquela data, divulgada como Dia Internacional de Lutas Contra a Copa, o ato teve de ser adiado. O objetivo do esculacho popular foi expor a Federação Internacional de Futebol (Fifa), CBF e construtoras como responsáveis pelas mortes dos operários devido às condições precárias de trabalho e segurança oferecidas a eles.

O comitê contabiliza 13 mortes em todo o Brasil, dez por acidentes em estádios que serão usados durante o torneio de futebol e três em arenas que seguem o “padrão Fifa”. “Nós estamos cobrando que as famílias desses mortos recebam pensões vitalícias, e que as construtoras envolvidas sejam responsabilizadas”, afirmou Marestoni.

Os trabalhadores mortos em estádios que sediarão jogos foram Fábio Hamilton da Cruz, Fábio Luiz Pereira e Ronaldo Oliveira dos Santos, mortos nas obras da Arena Corinthians, em São Paulo; Antônio Pita Martins, José Antônio Nascimento, Raimundo Nonato Lima e Macleudo de Melo Ferreira, mortos em Manaus; Muhammad Ali Afonso, na Arena Cuiabá; Antônio Abel de Oliveira, no Mineirão, em Belo Horizonte; e José Afonso de Oliveira Rodrigues, no Mané Garrincha, em Brasília.

Mesmo debaixo de chuva, um grupo de 30 pessoas marchou entre a Avenida Paulista e a casa de Marin, na Alameda Franca, com faixas e velas. Ao chegar na residência do cartola, dispuseram coroas de flores diante do portão de entrada, realizaram uma performance teatral, leram o manifesto “Copa das Mortes” e o nome dos operários que perderam a vida. Durante a madrugada, lambe-lambes foram colados pelo bairro com a foto dos trabalhadores.

Marin não apareceu e não houve qualquer tipo de tentativa de impedir o ato. “Foi bem rápido. Nem era a ideia juntar muita gente. Era um ato simbólico”, afirmou.

Em 2012, Marin sofreu um outro “esculacho” organizado pelo Levante Popular da Juventude por conta de seu apoio à ditadura (1964-1985) no Brasil. Durante o regime, Marin foi deputado estadual pela Arena, partido de sustentação dos militares no poder, e chegou a ser governador “biônico” (nomeado pelo presidente, sem eleições diretas) de São Paulo entre 1982 e 1983. Ele é acusado por movimentos sociais de ter sido responsável indireto pelo assassinato do jornalista Vladimir Herzog, morto em 1975 sob tortura nas dependências do DOI-Codi após discurso inflamado de Marin na Assembleia Legislativa em que denunciava os “comunistas” da TV Cultura.

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