injustiça

Campanha pede libertação de militante acusado de liderar black blocs em SP

Coletivo protesta contra 'prisão política' e lança site no dia que Fábio Hideki, laboratorista da Universidade de São Paulo (USP), preso há sete dias na penitenciária de Tremembé (SP), completa 27 anos

São Paulo – Preso durante manifestação contra Copa do Mundo na última segunda-feira (23), na capital paulista, o laboratorista da Universidade de São Paulo (USP) Fábio Hideki Harano ganhou hoje (30), dia em que completa 27 anos, uma campanha de solidariedade na internet. O site Liberdade para Hideki, posto no ar depois que o jovem foi detido por policiais civis dentro da estação Consolação do Metrô, traz informações sobre a vida e a “trajetória de lutas” do jovem, entre elas entrevista concedida ao Mídia Ninja durante a Marcha Mundial da Maconha, fotos da participação em outras manifestações e notícias sobre o caso. Há ainda um abaixo-assinado.

A detenção de Hideki foi acompanhada por diversos manifestantes. Ele foi revistado por policiais civis e por policiais militares, coisas antes de ser colocado colocá-lo na viatura. Embora de maneira inconclusiva, vídeos feitos por celular mostram que nenhum artefato explosivo teria sido encontrado em sua mochila como mais tarde as autoridades apontaram.

De acordo com o padre Julio Lancelotti, membro da Pastoral do Povo de Rua e testemunha da operação policial, o “flagrante” foi forjado. “Ele foi injustiçado e acusado de maneira delirante”, atesta o religioso, em entrevista publicada no site da campanha. “Acharam um pacote de salgadinho, uma máscara de gás e um frasco de vinagre. Por mais que mexessem na mochila, não apareceu nada. Não apareceu nenhum tipo de explosivo, armamento ou bomba. Eu vi acontecer a uma distância bastante curta.”

No dia seguinte (24), Hideki seria apontado pelo secretário estadual de Segurança Pública, Fernando Grella, como “líder” dos black blocs, em referência à tática adotada por parte dos manifestantes no país: cobrir o rosto, vestir-se de preto e atacar símbolos do capitalismo, como agências bancárias e concessionárias de automóveis.

Atualmente, Hideki cumpre prisão preventiva na Penitenciária Dr. José Augusto César Salgado, localizada na cidade de Tremembé (SP), para onde foi transferido na última quarta-feira (25). É acusado de infringir quatro artigos do Código Penal – entre os quais o de formação de quadrilha – e um artigo do Estatuto de Desarmamento.

De acordo com membros da campanha que pede a libertação de Hideki, o jovem recebeu, na última sexta-feira (27), a visita de seu irmão, Alexandre Yukio. “Sou sindicalista, membro do Conselho Diretor de base do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp). Não sou membro formal de nenhum partido ou corrente política. Não sou da organização de nenhum movimento social”, teria dito Hideki, em relato publicado nas redes sociais por Yukio.

“Manifestação de rua não é crime. Usar equipamento de proteção para não dispensar aos primeiros ataques da PM não é crime. Não estava com o tal explosivo. Não sou black bloc. Ser black bloc é quebrar símbolos do capital. Sou militante independente de coletivo, correntes ou partido”, completa o jovem. Ainda de acordo com relato de familiares, Hideki está em “bom estado físico e emocional”.

Em entrevista à RBA, um dos administradores do site, que não quis se identificar por razões de segurança, afirma que Hideki sempre foi aos protestos, mas nunca se envolveu com ações ilegais. “Com certeza, iríamos fazer algo para ajudar na libertação de nosso amigo, mas quando saiu na imprensa a acusação de ser ‘líder’ de black blocs percebemos que era urgente mostrar para o mundo que isto é um total absurdo”, disse. “O objetivo do site é apresentar quem é o Hideki, e ele não é nada disso que o secretário Fernando Grella tem declarado. Queremos também que o site seja um incentivo para que mais pessoas somem na luta pela libertação do Hideki, e por lá vamos manter um clipping de notícias. Também estamos gravando vídeos de várias pessoas mandando mensagens para o próprio Hideki, para que quando ele saia da prisão possa ver o quanto é importante para todos nós.”

O grupo afirma que a “Rede de Solidariedade” criada não é composta por nenhum grupo político e que a prisão do militante é “política”. “Hideki foi preso por policiais do Deic à paisana que forjaram um flagrante. Depois disso, o advogado entrou com pedido de liberdade provisória e habeas corpus, mas mesmo assim ele foi tratado como criminoso de alto risco, ficando em prisão preventiva.”

Segundo o organizador do site, desde 2008, o Hideki aparece muito em vídeos do Youtube e dá entrevistas, o que o teria tornado “muito visado” pela polícia. “Ele nunca teve vergonha ou medo de lutar pelo que acredita e quando falava em manifestações era sempre de forma muito apaixonada, o que fazia as pessoas seguirem muito seus ideais. Por isso, ele representa uma ameaça, talvez por isso a polícia tenha achado que ele era uma liderança.”

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