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Empresários pedem ilegalidade da greve de motoristas à Justiça do Trabalho

Em coletiva, presidente do sindicato dos motoristas reafirma que entidade não organizou ato e desconhece líderes do movimento; SPTrans divulga terminais bloqueados

Zanone Fraissat/Folhapress

Paralisação conta com trabalhadores das zonas norte, oeste e sul, mas afeta toda a cidade com travamento de terminais

São Paulo – O Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de São Paulo (SPUrbanuss) entrou com representação na Tribunal Regional do Trabalho (TRT) na capital paulista, pedindo que a greve espontânea de motoristas e cobradores de ônibus, iniciada na manhã de ontem (21), seja declarada ilegal. O sindicato patronal não descarta punir os trabalhadores com cortes de ponto pelos dias parados e mesmo demissões caso eles não voltem ao trabalho.

O sindicato patronal também informou que solicitou apoio das secretarias de Segurança Pública do Estado de São Paulo e de Segurança Urbana da prefeitura, “solicitando providências no sentido de garantir a saída dos veículos das garagens das concessionárias e a operação normal nos Terminais Urbanos e nos principais corredores de transporte da cidade.”

O SPUrbanuss acompanha a reunião que ocorre neste momento na Superintendência Regional do Trabalho, no bairro da Consolação, centro da capital, buscando por fim ao movimento que surgiu à revelia do Sindicato dos Trabalhadores do Transporte Coletivo de São Paulo (Sindmotoristas). Desse encontro, participam o superintendente do Ministério do Trabalho e Emprego em São Paulo, Luiz Antônio de Medeiros, o presidente do Sindmotoristas, José Valdevan Noventa, e sete representantes – dois da Viação Gato Preto, dois da Santa Brígida e três da Sambaíba – do movimento grevista.

Em coletiva no início da tarde de hoje (21), na sede do Sindmotoristas, Valdevan reafirmou que o sindicato de trabalhadores foi pego de surpresa pelo movimento e disse que “querem manchar a imagem da entidade”.

“Acredito que o componente político seja nos atingir, enfraquecer a nova gestão do sindicato. Pode ter militância da antiga gestão infiltrada, afinal, eles permanecem trabalhando nas garagens”, afirmou. Porém repetiu diversas vezes não saber quem seriam os líderes do movimento.

No entanto, o sindicalista descartou a possibilidade de o ex-presidente, Isao Hosogi, o Jorginho, ou os empresários do setor estarem por trás das mobilizações. “Não acredito nisso. Os patrões estão tendo prejuízos com essa situação. Ninguém quer ter ônibus parados”, defendeu.

Ele reafirmou que todas as propostas são apresentadas pelos trabalhadores nunca foram colocadas em pauta e que a prefeitura de São Paulo não tem nada a ver com negociação salarial. “O poder público nunca participou da mesa de negociação, como poderia ter feito proposta?”, questionou. E prosseguiu: “Todas essas propostas que vêm surgindo, 19% de reajuste salarial, vale-refeição de R$ 19, participação nos lucros de R$ 1.250, são mentirosas”, destacou.

No entanto, Valdevan prefere a conciliação ao ser questionado sobre as medidas cabíveis contra os amotinados. “Não é nosso papel ficar procurando as lideranças, punir. Isso cabe às autoridades. Nós queremos dialogar, conscientizar os trabalhadores. Essa é a melhor campanha de negociação dos últimos 15 anos”, declarou. No entanto, ele procurou minimizar a atuação dos trabalhadores da Viação Santa Brígida nas mobilizações, afirmando ser curiosa essa greve ter se iniciado lá, onde poucos profissionais participam das campanhas do sindicato.

Mais cedo, o secretário municipal de Transportes, Jilmar Tatto, disse que o maior problema para a prefeitura é que é impossível definir quem são os líderes do movimento. “Não há um interlocutor na cidade.”

Segundo Tatto, o poder público municipal não pode intervir na negociação entre trabalhadores e empresários, que são apenas contratados pela prefeitura. “Toda negociação de relação trabalhista é privada. Não compete à prefeitura interferir. Acompanhamos a negociação por ser um contrato nosso e ficamos felizes que chegaram a um acordo sem paralisações. Em nenhum momento falei sobre índices com eles.”

Desde a madrugada, pelo menos cinco empresas de ônibus não operam e 14 garagens estão paralisadas. De acordo com os grevistas, não há previsão para o fim da greve.

Em nota divulgada nesta tarde, a SPTrans informa que ainda há bloqueios em vários terminais, além de outros com menor oferta de ônibus do que nos dias de circulação normal.

Confira a íntegra da nota com todos os terminais bloqueados ou com menor circulação:

“A SPTrans informa que no início da tarde desta quarta-feira, às 15h, há bloqueios feitos com ônibus enfileirados nos terminais: Mercado, Lapa, Pinheiros, Pirituba, Casa Verde, Sacomã, Santo Amaro, João Dias e Vila Nova Cachoeirinha. Os terminais Parque Dom Pedro II, Princesa Isabel, Santana, Barra Funda, Jardim Britânia, Grajaú, Capelinha, Guarapiranga, Aricanduva e AE. Carvalho estão abertos, mas há oferta de ônibus inferior à registrada em dias de operação normal do sistema.

Vale registrar que os terminais Santana e Barra Funda são estações do Metrô que têm operação de ônibus municipais.

Hoje, o movimento prejudica 300 mil usuários.

A SPTrans acrescenta ainda que há paralisações em 11 garagens de cinco empresas concessionárias. São elas: Santa Brígida (2), Sambaíba (4), Gato Preto (2), Via Sul (2) e VIP (1).

A SPTrans solicitou apoio policial para garantir a operação em algumas garagens. Todas as providências no sentido de requerer a normalização dos serviços, a apuração e punição dos responsáveis estão sendo tomadas pela Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Transportes (SMT) e da SPTrans que, neste momento, atua no monitoramento e gerenciamento da operação no sentido de que os transtornos à população sejam minimizados.”

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