Imigrantes

Prefeitura instala abrigo e busca apoio para organizar fluxo de haitianos em São Paulo

Em 15 dias, 900 imigrantes chegaram à cidade. Haddad afirma que não há dificuldade em integrar estrangeiros, desde que vinda seja organizada, e secretaria destaca alta capacitação de profissionais

Luiz Guadagnoli/PrefeituraSP

Em visita aos haitianos, Haddad disse que não há problema em recebê-los, desde que de forma organizada

São Paulo – Desde que o primeiro ônibus pago pelo governo do Acre chegou a São Paulo, há 15 dias, pouco mais de 900 imigrantes haitianos passaram pela Igreja Nossa Senhora da Paz, na rua do Glicério, na região central da cidade. Na manhã de hoje (5), o prefeito Fernando Haddad, em visita ao local, informou que nesta terça-feira (6) irá se reunir com o embaixador do Haiti no Brasil para buscar medidas que organizem o fluxo.

Outra iniciativa para atenuar a situação é uma reunião que ocorrerá ainda hoje entre os secretários municipais de Direitos Humanos, Rogério Sottili e de Governo, Chico Macena, com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, em Brasília. Também participarão representantes do Ministério do Desenvolvimento Social, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e da Casa Civil.

De acordo com Fernando Haddad, só no ano passado,2.600 imigrantes haitianos chegaram a São Paulo, o que, na visão dele, demonstra que a cidade não tem restrições para recebê-los, desde que de maneira organizada.

A prefeitura, inclusive, irá abrir um centro de acolhimento emergencial na rua do Glicério, com capacidade para 120 pessoas, que serão abrigadas em dois galpões alugados pela administração municipal – um menor, para mulheres, e outro maior, para homens, que são a maioria (a proporção é de 4 mulheres para cada 100 homens, segundo a secretária de Assistência Social, Luciana Temer).

Para o prefeito, com o aquecimento da economia, não há dificuldade de empregar o contingente. Sinal disso é que empresas de vários lugares do estado já deram sinais de que pretendem promover contratações que somam 400 pessoas. No entanto, a falta de documentação mantém os haitianos dependentes de assistência social. “Tenho uma reunião amanhã [terça] com o embaixador do Haiti para, eventualmente, ou garantir que eles saiam do Acre já com a carteira de trabalho, ou que haja um posto avançado na embaixada que possa providenciar a documentação”, afirmou Haddad.

“Se o fluxo for estabilizado de comum acordo e as condições de chegada estiverem previamente pactuadas, sobretudo a questão da documentação, nós temos a impressão que, da mesma forma que conseguimos nos organizar esta semana, não teremos problemas para dar continuidade”, completou o prefeito.

‘Elite’

Segundo o coordenador de políticas para imigrantes da Secretaria Municipal de Direitos Humanos, Paulo Illes, os haitianos que chegaram à cidade fazem parte da “elite haitiana”, formada por profissionais qualificados. “Também existem os mais pobres, mas a maioria tem profissão ou curso superior”, explicou. Iles diz que a viagem até o Brasil custa em média 5 mil dólares e que os haitianos, hoje, são a comunidade que mais envia remessas para o exterior. Aqui, entretanto, eles são recrutados para trabalhar como ajudantes em obras ou outros trabalhos braçais. “Como eles sabem disso, chegam e dizem que são pedreiros”, revela.

Representantes de empresas têm ido pessoalmente recrutar homens no Glicério. Outros empreendimentos convocam para realizar entrevistas por meio do Centro de Apoio ao Trabalhador (CAT), que hoje, pela primeira vez, tinha vagas direcionadas especificamente para os haitianos.

Porém, muitos dos que esperavam na fila do ônibus do CAT, estacionado no pátio da igreja, deixavam clara a insatisfação com as vagas ofertadas. “Só tem trabalho para ajudante (de pedreiro)”, reclamava o ceramista Davi Fabien, de 34 anos, que vive há um mês de aluguel no bairro Utinga, em Santo André, na região do ABC Paulista.

O eletricista Israel Cange, que vive há 4 anos no Brasil e mora em Guarulhos, trabalhou na reforma do estádio do Engenhão, no Rio de Janeiro, e do Mineirão, em Minas Gerais, nos dois como “ajudante”, cargo que agora recusa. “Quando você chega, precisa trabalhar, mas, agora, quero na minha área, eletricista”, diz.

Entre as mulheres, há enfermeiras, faxineiras e professoras. “Eu dava aula para crianças. Aqui, trabalho em um restaurante”, conta uma delas, falante fluente de português e que não quis se identificar.

“A imprensa diz que todos os haitianos são pobres, mas não é verdade. Nós temos profissão. Nós ajudamos muito o Brasil”, defende Antônio Michel, haitiano que chegou há 13 meses ao país com visto de turista.

Em função da calamidade provocada por um terremoto de grandes proporções no ano de 2010, os haitianos têm direito a visto humanitário, o que facilita a legalização no Brasil.

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