Direitos Humanos

Relatório da Comissão da Verdade irá multiplicar vítimas ‘oficiais’ da ditadura

Coordenador da CNV, Pedro Dallari, afirma que inclusão de vítimas do campo e de indígenas aumentarão 'em muito' os 827 casos de morte e desaparecimento relatados como fruto de perseguição política

Paulo Pinto/ Fotos Públicas

Familiares de desaparecidos durante a ditadura exibem fotos de vítimas durante ato em São Paulo pelos 50 anos do golpe

São Paulo – O coordenador da Comissão Nacional da Verdade (CNV), Pedro Dallari, afirmou hoje (19), durante ato político em São Paulo que contou com a presença de comissões da verdade de 20 outros estados, que o primeiro esboço do relatório final das investigações ficará pronto em agosto deste ano, a quatro meses do prazo para entrega da versão final do texto que representará a visão oficial do Estado brasileiro sobre os períodos autoritários entre 1946 e 1988. Sem citar números exatos, Dallari disse ainda que a coleta de relatos sobre crimes cometidos pelo estado brasileiro contra indígenas e a população do campo multiplicará a listagem oficial corrente de mortos e desaparecidos por perseguição política, que é de 827 casos.

Será a segunda vez que o governo federal irá rever para cima o número de vítimas de crimes contra a humanidade durante a ditadura. Em 2012, na mesma semana em que foi criada a Comissão Nacional da Verdade, a Secretaria de Direitos Humanos, então capitaneada pela deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), somou 370 casos aos 457 oficialmente reconhecidos até então, a maioria, já naquela época, de trabalhadores rurais e de populações indígenas que acabaram ignorados pela Comissão de Mortos e Desaparecidos, criada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB, 1995-2002) no primeiro ano de seu governo.

Dallari destacou ainda que, mais importante do que os números de vítimas, será a humanização da narrativa sobre suas lutas no relatório final. “O tratamento das vítimas merecerá todo um capítulo no relatório final. Nós optamos por elaborar um trabalho em que cada vítima terá sua história individualmente; como foi morta, ou onde desapareceu, os agentes envolvidos, enfim, para que as vítimas tenham rosto, história e individualidade. Nós devemos isso a eles”, disse, durante discurso. Durante o encontro, o advogado, ex-vereador e ex-secretário municipal de São Paulo na gestão de Luiza Erundina (hoje no PSB, então no PT, 1988-1992), também foi reeleito pelos demais integrantes da comissão para a coordenar a CNV até o término do relatório.

O próximo passo em São Paulo deverá ser uma reunião com o secretário estadual de Segurança Pública, Fernando Grella, para que o estado de São Paulo abra os arquivos do Instituto Médico Legal para a investigação da Comissão da Verdade. Segundo Dallari, a falta de cooperação de militares ligados ao Exército e às polícias militares tem sido um dos principais obstáculos ao avanço da apuração sobre as violações aos direitos humanos durante a ditadura.