15M

Polícia Militar prende oito jovens em manifestação sem anunciar motivo

Jovens foram presos, segundo a PM, por portarem gasolina e advogados consideram prisões ilegais; clima era tenso já antes da caminhada

Futura Press/Folhapress

Tropa de Choque disparou bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha, o que dividiu marcha em dois grupos ontem

São Paulo – Um grupo de oito jovens foi detido pela Tropa de Choque da Polícia Militar antes mesmo de chegar ao ato final do Dia Internacional de Lutas contra a Copa, que reuniu pelo menos 3 mil pessoas ontem (15), na região da avenida Paulista. Eles foram conduzidos à 78ª Delegacia de Polícia, onde receberam assessoria de advogados ativistas e dois defensores públicos.

Os jovens caminhavam da praça Roosevelt, no centro, para a manifestação na avenida paulista, quando foram detidos na altura da rua Augusta, de acordo com o advogado da Comissão de Direitos Humanos do Sindicato dos Advogados de São Paulo, Paulo Malvezzi, que acompanhou os jovens na delegacia. Entre os detidos, sete são adultos e um adolescente, de 16 anos.

A polícia alega que os jovens carregavam garrafas com gasolina nas mochilas. Eles negam. “A polícia chegou a nos mostrar a gasolina, mas não temos provas se elas pertencem mesmo a esses meninos”, diz Paulo. “Essas prisões são ilegais porque o motivo sequer foi avisado antes de eles chegarem à delegacia.”

Eles foram mantidos presos até por volta das 22h, quando cinco foram liberados. Outros três permaneceram detidos por mais tempo para responder a um termo circunstanciado por resistência e desacato a autoridade.

Clima pesado

Antes de os manifestantes começarem a caminhada, já havia tensão entre PMs e black blocks. Um grupo de policiais deteve dois jovens em uma banca de jornal para averiguação e não permitiu a aproximação dos advogados que acompanhavam o ato. Após a revista das mochilas, eles foram liberados, mas reclamavam que máscaras foram confiscadas. Eles não quiseram se identificar.

Com o início da marcha, a PM acompanhou os manifestantes em duas filas paralelas ao ato. Os policiais portavam escudos, arma de balas de borracha e sacos de bombas de efeito moral.

Na altura da rua Matias Aires, um grupo de black blocks tentou segurar a fila de PMs, que passou a empurrá-loscom escudos e cassetetes. Os manifestantes revidaram os empurrões e atiraram objetos. A PM disparou bombas de efeito moral e o conflito maior começou.

A PM ocupou as duas pistas da rua da Consolação, disparando bombas, enquanto os black blocks ateavam fogo em lixo e arremessavam objetos. O grupo de frente da marcha, formado por membros do Comitê Popular e outros movimentos, tentaram retomar o trajeto, sem sucesso.

Em 20 minutos, a manifestação pacífica se tornou uma imensa névoa de gás lacrimogênio e fumaça dos incêndios de lixo.

Dois feridos, um fotógrafo do jornal Destak e um manifestante, foram atingidos por estilhaços das bombas de efeito moral lançadas pela PM. Havia informações, não confirmadas sobre, pelo menos, mais cinco feridos.

A PM perseguiu os black blocks em várias ruas da região e depois concentrou-se no cruzamento da avenida Paulista com a rua da Consolação, no estádio do Pacaembu e em vários outros cruzamentos.

Duas horas depois, um grupo de manifestantes, ainda concentrado na avenida Paulista, reunia o que restou de cartazes, panfletos e stencils, em uma imagem triste do fim do 15M, Dia Internacional de Lutas contra a Copa.

O protesto

Não havia entre os manifestantes na Paulista qualquer alusão a grupos conservadores. Militância do Movimento dos Atingidos por Barragens, PCdoB, Juntos, Psol, PSTU, Levante Popular da Juventude estavam entre os manifestantes.

Oito advogados que atuam junto ao Comitê prestavam assistência aos manifestantes. 20 prisões foram realizadas antes do protesto começar, na região da rua Augusta. Segundo Rodolfo Valente, um dos advogados, os presos são de um grupo antifascista que preparava outro ato na região.

Além de faixas e cartazes, os manifestantes levavam também placas com fotos dos operários mortos em obras da Copa do Mundo. “Os campeões do mundo ganham pensão vitalícia por sua ação no torneio, mas as famílias dos operários estão à própria sorte, sem nenhuma assistência”, disse o manifestante Douglas Teodoro, que carregava a foto de Fábio Luís Pereira, operador de guindaste morto em um acidente no Itaquerão.

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