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Movimento anuncia acordo com Dilma sobre ocupação perto do Itaquerão, mas Haddad nega

Prefeito diz que conversa antes de visita ao estádio girou em torno da ampliação do Minha Casa, Minha Vida. Antes, coordenador do MTST anunciou compromisso de Dilma com ocupação Copa do Povo

Integrantes do MTST consideraram positivo resultado do encontro com Dilma e Haddad
 <span>(MTST/Divulgação)</span>Dilma visitou as instalações do Itaquerão com Haddad e representantes do MTST <span>(Danilo Ramos/RBA)</span>

São Paulo – O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), negou hoje (8) que tenha havido qualquer acordo entre a presidenta Dilma Rousseff e as lideranças do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) para uma possível desapropriação do terreno onde está instalada desde o último sábado (3) a ocupação Copa do Povo, no Parque do Carmo, na zona leste da cidade.

Antes disso, o coordenador do MTST, Guilherme Boulos, chegou a divulgar para a imprensa a informação de que a presidenta havia aceitado analisar a possibilidade de a União arcar com a desapropriação da área privada de 150 mil metros quadrados. Disse que, caso fosse viável, seriam construídas unidades habitacionais no local com recursos do programa federal Minha Casa, Minha Vida (MCMV).

O terreno está localizado a menos de quatro quilômetros do estádio do Corinthians, o Itaquerão, sede da abertura da Copa do Mundo. Ontem o juiz Celso Maziteli Neto, da 3ª Vara Cível de Itaquera, concedeu liminar autorizando a reintegração de posse do terreno, com prazo de 48 horas para que os ocupantes deixem a área voluntariamente.

Antes de visitar o Itaquerão, Dilma se reuniu com cinco representantes do MTST, um evento que não estava previsto na agenda oficial e que teria sido realizado no próprio estádio. Após a reunião, a presidenta não deu entrevistas, e coube ao prefeito informar a respeito. “A agenda deles (MTST) com a presidenta não versou sobre o terreno, foi sobre o Minha Casa, Minha Vida em geral. Eles têm uma preocupação para viabilizar o programa em São Paulo”, disse a jornalistas.

Segundo o prefeito, Dilma comprometeu-se a ampliar o programa habitacional para São Paulo. Afirmou que no final de junho será lançado o MCMV 3, que deve conter novos mecanismos de financiamento para imóveis em capitais e regiões metropolitanas, onde o alto valor dos terrenos é um empecilho para a construção de moradias populares.

A reunião ocorreu depois que o MTST, com apoio do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), fez manifestações nas avenidas principais das cinco regiões da cidade, ocupou e pichou escritórios de três construtoras na manhã desta quinta-feira.

O MTST quer que o terreno do Parque do Carmo seja demarcado como Zona Especial de Interesse Social (Zeis) no Plano Diretor Estratégico (PDE), aprovado em primeiro turno na Câmara Municipal, mas ainda em debate na Casa. O mecanismo garantiria a construção de moradias para famílias de baixa renda.

Antes da reunião, Haddad disse que a Câmara tinha planos de criar empregos na região e que havia demarcado a área como industrial no Plano Diretor. A fala representou um recuo na posição do prefeito, que havia dito na segunda-feira (5) que seria possível viabilizar moradias no local. “Os vereadores estão acompanhando o movimento e têm que sempre se pautar em decisões técnicas para não cometer nenhum erro, uma vez que é um plano de longo prazo. É um plano que não vai afetar diretamente essa administração, mas a vida da cidade nos próximos 20 anos”, afirmou.

Em março, do alto de um carro de som, Haddad disse aos militantes do MTST que se manifestavam diante da sede da prefeitura que, se a Câmara demarcasse como Zona de Interesse Social um terreno na zona sul onde está instalada a ocupação Nova Palestina, ele revogaria o decreto que transformava em parque a área de proteção ambiental.

Vereadores de PV, PSD, PPS e PSDB avaliaram que, com a afirmação, o prefeito jogou pressão sobre o Legislativo. Durante a votação do Plano Diretor, movimentos sociais se irritaram com uma manobra promovida por partidos de oposição para protelar a apreciação da matéria em plenário e realizaram um protesto com depredação e ameaças.

Hoje, o prefeito discordou da visão de que seja o responsável pela ampliação da pressão promovida pelo MTST e afirmou que é de uma “tradição democrática”, diferente da dos seus opositores. “Eu acho que é um erro não ouvir a sociedade, não ir ao encontro dos movimentos organizados… Olha o que aconteceu no Pinheirinho. É aquilo que a oposição tem a oferecer para a sociedade? Repetir em São Paulo o que fizeram lá? Aqui o governo é de outra natureza”, disse.

Diálogo

Questionado se pretendia tentar uma trégua com os movimentos sociais para impedir novas manifestações durante o Mundial, Haddad foi enfático. “Não fazemos esse tipo de acordo. O que nós queremos é que pacificamente as pessoas possam reivindicar suas demandas. O que não queremos é que haja qualquer tipo de incidente porque não há necessidade, há diálogo.”

As manifestações desta manhã só terminaram depois que a presidenta confirmou a reunião de hoje. Um ato que ocorreria na frente do estádio foi cancelado.

O estádio, praticamente pronto, passa pelas últimas obras nas arquibancadas provisórias, com colocação de assentos e teste de resistência – em que aproximadamente 400 tambores estavam cheios de água para simular o peso da torcida.

Haddad anunciou duas parcerias para criação de empregos na zona leste da cidade. A pedreira que fica próxima ao estádio ofereceu um projeto para criação de 50 mil postos de trabalho. “Além disso, a IBM nos procurou semana passada e anunciou uma planta na região que vai criar outros três mil empregos. Acho que estamos num bom caminho para o desenvolvimento da zona leste”, disse Haddad.

Colaboração Gisele Brito