Atrasos

Ideia de internet grátis nas praças de SP é aprovada, mas resultado ainda decepciona

Com cronograma reformulado, serviço ainda está restrito a três locais da cidade dos 120 propostos inicialmente pela prefeitura

O professor Paulo César lamentou a baixa qualidade do serviço, ao tentar conectá-lo pela primeira vez <span></span>Sem mobiliário nas praças, as pessoas sentam em escadas e muretas para usar a internet livre <span>(Danilo Ramos/RBA)</span>Jovens são os mais satisfeitos com a ideia, mas não escondem a frustração com a precariedade do serviço <span>(Danilo Ramos/RBA)</span>Rede do Wifi Livre SP tem boa disponibilidade a maior parte do tempo, mas sinal é instável <span>(Danilo Ramos/RBA)</span>A praça Dilva Gomes não tem nenhum aviso sobre o serviço, o que se repete no Pátio do Colégio e no Mercadão <span>(Danilo Ramos/RBA)</span>

São Paulo – As Praças Digitais, locais com rede sem fio de internet gratuita, criadas pelo prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), ainda não emplacaram. Além de estar disponível em poucos lugares, o serviço tem sinal oscilante, conexão frágil e não chega a atingir completamente os locais em que está instalado.

A RBA visitou a praça Dilva Gomes Martins, em Artur Alvim, zona leste da cidade, o Pátio do Colégio e o Mercado Municipal, ambos no centro da capital, e encontrou usuários de internet animados com a ideia, mas frustrados com o resultado.

De acordo com a proposta, qualquer pessoa portando celular, tablet, laptop ou outros eletrônicos capazes de conectar-se à internet poderia utilizar o serviço. Para acessar é necessário se conectar à rede “wifi livre sp” e abrir um navegador. A página do projeto abre e basta clicar em “acessar”. A velocidade mínima é de 512 quilobits por segundo para cada pessoa. No entanto, o total de usuários que pode acessar o serviço ao mesmo tempo varia entre os locais, indo de 100 até o máximo de 500.

O primeiro detalhe que chama atenção é a total ausência de avisos que indiquem a prestação do serviço nas praças. Não há divulgação do projeto nem orientação de como funciona a conexão.

O estudante Tales César da Silva, de 17 anos, morador de Artur Alvim, aprova a iniciativa, mas defende melhorias. “Não tenho internet em casa, então, facilitou muito para mim, mas falha bastante, principalmente à noite”, afirmou. “Faço de tudo: coisas da escola, busca de endereços quando preciso sair, redes sociais, vejo até vídeos quando o sinal está bom”, completou ele, que está no último ano do ensino médio.

O sinal na praça Dilva Gomes Martins manteve-se 100% por toda a extensão da avenida Padre Estanislau de Campos. Vinte segundos foram suficientes para carregar um vídeo de três minutos, tempo considerado razoável. No entanto, após abrir a terceira aba no navegador de internet, a velocidade caiu bastante. O problema se repetiu nos outros locais.

Segundo nota da Secretaria Municipal de Serviços, responsável pelo projeto, o problema pode estar relacionado a uma série de fatores, desde a capacidade de recepção de sinal do aparelho utilizado (no caso da reportagem da RBA, um laptop, diferente da maior parte dos usuários, que utiliza celulares com capacidade menor) passando pela “competição” entre os demais roteadores existentes na região e o WiFi Livre SP, além do número de pessoas que acessa a rede ao mesmo tempo.

Saiba mais:

Um grupo de jovens reunido na praça avaliou de maneira positiva a proposta, mas também reclamou de instabilidade do sinal. “Nós estamos em sete aqui. Não podemos conectar ao mesmo tempo por que alguém vai cair”, explicou o estudante João Evangelista, de 22 anos. Ele afirma que o grupo usa a rede todos os dias, principalmente para diversão. “Quer mostrar um vídeo, uma notícia, já tá na mão. E o melhor, não precisamos pagar o serviço da operadora de celular para isso”, comentou.

Porém, o serviço não estava disponível em toda a praça. Ao se aproximar da rua Padre Tomás de Vilanova, no lado oposto de onde conversamos com Tales César, não foi possível conectar a internet.

Aqui, o professor de geografia Paulo César Felizardo recebeu com entusiasmo a notícia. “Nossa, eu não sabia. Passo aqui todo dia e nunca vi nenhuma informação sobre internet livre”, exclamou. Porém, ao tentar conectar-se, não escondeu a decepção com a falha na rede. “A ideia é boa, mas pelo jeito falta qualidade no serviço”, lamentou.

O mesmo problema ocorreu no Pátio do Colégio, onde a rede não funciona próximo ao monumento central da praça. Somente na área mais perto do prédio do Museu Anchieta e do Marco da Paz é que o uso se torna possível.

A prefeitura justificou que a rede wifi deve estar disponível em 70% da área – 50% em parques – para que não seja necessária a instalação de mais antenas no local, o que aumentaria o custo do projeto. E o sinal deve manter-se ativo por 96% do tempo de funcionamento. Como as praças funcionam 24 horas por dia, isso representa cerca de uma hora sem sinal por dia, que pode ser utilizada para manutenção ou necessidade de reinicialização do roteador.

No Pátio do Colégio, o maior problema é a falta de mobiliário. Não há bancos ou apoios para quem quer usufruir da internet gratuita. A reportagem teve que usar os monumentos como apoio, a exemplo do que fazem muitos frequentadores do local, caso da recepcionista Camila Ribeiro, de 18 anos. “É urgente ter um banco nessa praça. Venho aqui todo dia e temos de disputar espaço nos degraus dos monumentos”, afirmou.

Camila também gostou da proposta, mas, ao tentar conectar, se decepcionou. “Quarta tentativa. Cansei. É uma pena, por que é uma ideia muito boa, mas só se funcionar de verdade.”

Sobre o mobiliário, a prefeitura informa que “já concluiu um projeto básico de mobiliário adequado ao uso das praças, contando com bancos, mesas, tomadas e proteção contra intempéries”. No entanto, a administração vai aguardar o início de funcionamento do serviço em número maior de locais para verificar se o mobiliário é adequado ao uso que as pessoas farão do serviço.

A reportagem ainda utilizou o medidor de velocidade Speed Test, da Copel, para avaliar o serviço. No entanto, os resultados foram tão variáveis – com mínimo de 3, passando por 6, 8, até 13 megabits por segundo para baixar um arquivo – que não foi possível chegar a conclusão.

No entanto, no Mercado Municipal, esse teste sequer foi necessário. O único lugar em que a rede funcionou foi no cruzamento das ruas internas E e D, com o usuário em pé, sem qualquer apoio para o laptop, exatamente embaixo do roteador, que fica pendurado no teto.

Também não há avisos sobre a existência do serviço e a reportagem não conseguiu encontrar ninguém que utilizasse o WiFi Livre SP.

A administração municipal alegou que o serviço poderia estar em um momento de inoperância. Por isso, não teria funcionado. E que estuda instalar mais roteadores para melhorar a disponibilidade do serviço.

A prefeitura pretende levar o serviço a 120 locais, distribuídos entre os 96 distritos de São Paulo. No entanto, a previsão era inaugurar cerca de 20 pontos por mês, até julho. Esse planejamento foi alterado e, agora, o objetivo é inaugurar o maior número possível de praças digitais ao mesmo tempo, mantendo o cronograma para o meio do ano.

Os locais mais avançados em instalação da infraestrutura são as praças do Campo Limpo, na região sudoeste; Floriano Peixoto, em Santo Amaro, e Largo de Moema, ambos na zona sul; praça Benedito Calixto, na zona oeste; e Largo do Japonês, na zona norte da capital.

A empresa que presta o serviço nas três praças visitadas é a WCS, vencedora da licitação para as regiões centro e leste da cidade. A Ziva Tecnologia ficou com as zonas norte, oeste e sul, mas nenhuma praça funciona nestes locais até o momento. O custo médio de cada praça digital é de R$ 6,4 mil por mês. O valor global dos contratos para três anos de prestação dos serviços é de R$ 27,5 milhões.