imigração

Cardozo, Alckmin e Haddad anunciam medidas para organizar fluxo de haitianos

Espécie de Poupatempo deve ser criado para agilizar documentação de imigrantes que passaram a chegar do Acre. Itamaraty fará campanha na origem para prevenir ação de coiotes

Mauricio Camargo/Eleven/Folhapress

Demora na regularização da documentação é apontada como principal problema na vinda dos imigrantes

São Paulo – O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e o prefeito da capital, Fernando Haddad (PT), devem anunciar entre amanhã (8) e sexta-feira (9) a criação de uma espécie de “Poupatempo” dos imigrantes. A ação será um esforço conjunto para organizar o fluxo de haitianos que, desde abril, passaram a chegar à cidade de maneira mais intensa. O serviço centralizará a emissão de documentação para regularização dos estrangeiros. A ação faz parte dos acordos firmados entre representantes das três esferas do Executivo em reuniões em Brasília nos últimos dois dias.

Os haitianos têm chegado a São Paulo em ônibus pagos pelo governo do Acre. Em três anos, a cidade de Brasiléia, no sul do estado, recebeu mais de 20 mil pessoas do país caribenho em função de um terremoto que assolou o país em 2010. Mas, em função de um outro desastre natural, a cheia do rio Madeira, o Acre resolveu encaminhar os imigrantes. Representantes do governo acriano estariam comprometidos agora a não despachar os ônibus sem que a documentação dos imigrantes esteja em dia. O governador Tião Viana (PT) também iria participar do anúncio, mas segundo, o blog do jornalista Josias de Souza, ele afirmou a Cardozo que “com Alckmin não senta”. O petista teria se sentido ofendido porque o tucano o chamou de “irresponsável” pela forma como tratou a questão dos haitianos. Alckmin e secretários da prefeitura petista acusaram Viana de “despachar” os imigrantes, sem comunicar nada a ninguém.

Outra medida tomada será o aumento dos esforços do Itamaraty para agilizar a concessão de vistos ainda em solo haitiano e campanhas de conscientização no país para evitar que pessoas saiam de lá sem documentação. Os haitianos têm direito a visto humanitário, mas muitos acabam sendo enganados por coiotes, pessoas que agenciam viagens ilegais por uma rota que passa por Equador e Peru antes de chegar ao norte do Brasil. Nesse caminho, muitos são roubados e chegam sem ter sequer passaporte, o que atrasa a emissão de carteira de trabalho.

Essa demora na regularização da documentação é apontada como o principal problema no fluxo dos haitianos. Em sua maioria, eles têm qualificação profissional e conseguiriam emprego rapidamente, mas acabam demandando serviços de assistência social. Nos primeiros dias da intensificação do fluxo na capital paulista, muitos haitianos tiveram de ser acolhidos precariamente nas instalações da Missão da Paz, no bairro do Glicério. A organização chegou a solicitar a doação de roupas e alimentos. Na segunda-feira, a prefeitura anunciou a criação de 120 vagas emergências para atender a demanda.

Nos próximos dias, mais imigrantes devem chegar à cidade, mas em menor número. Segundo reportagem da Agência Brasil, o secretário municipal de Direitos Humanos, Rogério Sottili, afirmou que foi definido em conjunto com o governador do Acre que serão enviadas 40 pessoas por dia. Com essa quantidade, as autoridades municipais acreditam que será possível garantir condições mínimas de acolhimento e alimentação até que os haitianos sejam empregados.

Em reportagem da Rádio Brasil Atual, empresários que foram selecionar trabalhadores na sede da Missão da Paz se mostraram surpreendidos com o nível educacional dos haitianos. Mais de 400 deles já conseguiram emprego. No entanto, os cargos oferecidos são para a execução de trabalho de “ajudante” em serviços braçais.