MTST

Em São Paulo, ato ‘Copa sem povo’ cobra moradia, transporte, saúde e educação

'Não é um ato contra a Copa. Mas não estamos alheios à Copa. É um ato para expor as contradições', diz coordenador do MTST, Guilherme Boulos, que cobra ações das três esferas de governo

Este é o terceiro ato organizado pelo grupo de movimentos sociais que propõe uma reflexão sobre o Mundial <span>(Tiago Chiaravalloti/Futura Press/Folhapress)</span> "A bola está com o povo agora", afirmou o coordenador do MTST, Guilherme Boulos, no centro da Ponte Estaiada <span>(Marlene Bergamo/Folhapress)</span>

São Paulo – Movimentos sociais de diversos segmentos reuniram-se hoje (22) na zona oeste de São Paulo para mais um ato que tem como mote o Mundial da Fifa. A terceira manifestação “Copa sem povo, tô na rua de novo” reuniu cerca de 20 mil pessoas, nos cálculos dos organizadores, no Largo da Batata, em Pinheiros, e seguiu em direção à zona sul da cidade, num trajeto acordado previamente com a Polícia Militar.

A maior parte dos manifestantes pertence ao Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), que vem organizando ocupações e atos com base em reivindicações pautadas pelo torneio futebolístico, no que foi intitulado como “hexa de direitos” : moradia, educação, saúde, transporte, justiça e soberania. Além do MTST participam do ato o Movimento Passe Livre, o Comitê Popular da Copa, o Coletivo Juntos e o Fórum Popular de Saúde, entre outros. À diferença da semana anterior, em que houve atritos e repressão policial, desta vez o ato transcorreu sem percalços.

Enquanto os sem-teto tomavam a Marginal, no sentido zona sul, ainda era possível ver militantes sob a ponte Cidade Jardim, o que levou os manifestantes a caçoar dos números oficiais repassados pela Polícia Militar, que naquela altura calculavam apenas 5 mil pessoas no evento. “Eles estão precisando de professor de matemática”, repetiam pelo microfone do carro de som. No final do evento, a PM estimou em 15 mil o número de participantes.

A marcha foi encerrada em cima da Ponte Estaiada, um dos marcos das manifestações de junho do ano passado, símbolo da preferência pelo automóvel em detrimento do transporte coletivo – ônibus não circulam sobre a estrutura construída ao longo das administrações José Serra (PSDB) e Gilberto Kassab (PSD). Bolas foram jogadas para os militantes em alusão ao Mundial. “A bola está com o povo agora”, afirmou o coordenador nacional do movimento, Guilherme Boulos, do alto do carro de som.

“Nunca tinha subido na Ponte Estaiada porque não tenho carro. É muito simbólico porque é o primeiro movimento popular a subir e a realizar uma assembleia em cima da ponte. Isso vai ficar na história por muito tempo”, afirmou Norma Moreira, coordenadora estadual do MTST.

Boulos afirmou que as reivindicações do movimento são voltadas para os governos federal, estadual e municipal. Ele recordou que esteve no mês passado em Brasília discutindo a liberação de recursos para habitação, e ouviu de representantes da gestão Dilma Rousseff (PT) a versão de que não há mais dinheiro disponível para o setor este ano.

“Ou vai aparecer agora esse dinheiro ou o junho da Copa vai virar o junho vermelho”, ameaçou.

“Não é um ato contra a Copa. Mas não estamos alheios à Copa do Mundo. É um ato para expor as contradições da Copa”, disse Boulos, que há uma semana foi um dos articuladores do 15M, também chamado de Dia Internacional de Luta contra as Injustiças da Copa, que culminou em uma série de atos nas principais cidades do país. “A campanha tem como objetivo reivindicar direitos sociais e por outro denunciar contradições e o legado perverso da Copa. A questão é uma pauta nacional de reivindicações que depende das três esferas de governo.”

Além das questões gerais, o MTST tem apresentado uma pauta de reivindicações específica relacionada ao setor de moradia. O movimento pede um controle público sobre os valores de aluguéis, uma política federal para prevenir despejos forçados e mudanças no Minha Casa, Minha Vida para favorecer a atuação de entidades da sociedade civil.

Copa do Povo

Além das bolas, muitos manifestantes levaram cornetas e chapéus usados normalmente durante jogos. A paródia de músicas de torcidas, como a “Aqui tem um bando de louco, louco por moradia…” deram o tom do ato, que percorreu pacificamente 6,4 quilômetros. Na ida para a concentração da marcha, os sem-teto da Ocupação Copa do Povo, em Itaquera, na zona leste, eram confundidos com torcedores de futebol por outros usuários do metrô, na estação República, no centro. “A gente não é contra a Copa. A gente gosta de futebol. Mas queremos o que temos direito”, afirmou eletricista, José Batista.

Durante o ato, integrantes do MTST informaram que será realizada amanhã, às 11h, em Itaquera, na zona leste, uma audiência intermediada pelo Judiciário para tentar chegar a um acordo em torno da ocupação Copa do Povo. Cerca de 5 mil pessoas estão desde o começo do mês na área da construtora Viver, próxima à Arena Corinthians, o Itaquerão, onde será realizada a abertura do Mundial. “Se a resposta que estamos exigindo não vier, Itaquera vai ficar pequena”, disse Boulos.

Na quarta-feira (20) foi realizada uma primeira tentativa de conciliação entre o movimento e os representantes da empresa. “Foi um primeiro diálogo que tivemos com a construtora, um espaço onde o movimento colocou a intenção de fazer um empreendimento naquele terreno”, disse a coordenadora estadual do MTST, Natália Szermeta, em entrevista esta manhã à Rádio Brasil Atual.

Leia também

Últimas notícias